sexta-feira, 8 de março de 2013

O verbete democracia

O significado de “democracia” sofreu transformações desde que nasceu na Antiguidade. O direito de exercício democrático na política era restrito a homens que atingiram a maioridade. De lá pra cá o direito de decisão foi dado realmente ao povo, após mobilizações e transformações do tempo. E os ventos anunciam novas mudanças que reviram seu conceito original que conhecemos sobre a decisão da maioria.

Uma torrente globalista paira por aí; é disforme, mas reconhecível por propor soluções para os problemas que ela mesma criou, em prol de se consolidar como essencial aos povos do mundo. Soa megalomania e teoria da conspiração, mas não quero dizer outra coisa que não seja exatamente isso. É conspiração, um pacote de diretrizes que vem de cima, flertando com o pior do capitalismo e do comunismo conforme melhor lhe convém.

Uma das diretrizes desse “pacote” é a reinvenção do termo minoria, que o retira de sua aceção comum e o torna mais sagrado que a maioria democrática. Foi criada a necessidade de tutorar uma minoria, diferentemente das lutas legítimas pelos diretos das mulheres e trabalhadores que obviamente seguiam para um caminho contrário sem que dependessem do Estado ou das estruturas familiares no começo do século XX. A democracia também não é unanimidade, tampouco busca agradar a todos; é o exercício político no qual a representatividade é eleita a partir da decisão de uma maioria. A manobra engendrada para inverter a hierarquia da importância da necessidade de um grupo menor sobrepujando a um menor vai além do que se vê.

Ressalto tudo isso porque, na tarde de ontem, o deputado Pr. Marco Feliciano (PSC-SP) foi escolhido para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Cada século tem o Von Martius que merece.

Primeiramente, não entendi o foco desta comissão. O nome “minorias” está posto ao lado de “humanos” ou “direitos humanos”? De qualquer forma, no primeiro olhar percebi que o nome desta comissão era uma farsa. Daí a reinvenção da roda, colocando o verbete “democracia” em governo de minorias. Está na cara que Câmara dos Deputados segue tendências repetidas pela mídia e pelo povo – a história do ovo e da galinha: quem veio primeiro? E quem discorda? Respeitar essas tendências é louvável; o adequado é atacar a causa da disseminação de um pensamento que até uns anos atrás era inverso ao seu. São as tais diretrizes.

Quanto ao carro-chefe das críticas ao deputado, suas declarações de racismo e homofobia, é triste saber que exista grupos de pessoas que defendam que nascer negro é um azar. Refletindo sobre seu lugar na democracia, se existe um grupo que pensa assim, é natural que entre em conflito ideológico com os demais grupos e, ainda que receba todo tipo de crítica, também é natural que se tenha participação política (com candidatos e cargos), desde que suas afirmações não sejam contrárias às leis de assédio moral, o que não é o caso do deputado Marco Feliciano. Essa democracia permite que do nada surja um Jean Wyllys e um Jair Bolsonaro entre engravatados de renome e possam representar seus respectivos grupos de pressão.

Porém, algum desses representantes podem passar a defender seus valores não dentro dos limites de seus cargos políticos, mas sim enrolados nas bandeiras de suas causas e sobre seus púlpitos e altares. Independentemente da denominação religiosa, valores cristãos na Câmara ou no Senado são totalmente lícitos, mas em hipótese alguma devem ser usados e aplicados a todos cidadãos do país. Esse bloqueio garante que cristãos fundamentalistas não imponham a pena de morte para não-cumprimento de leis bíblicas externas ao Código Penal, como também impede que gayzistas aprovem a recriação do termo “família”, conforme já aconteceu com a "democracia". Ninguém nasceu na República Teocrática Cristã do Brasil.

Nessa batalha, ganha quem consegue reunir mais ovelhinhas. E nas trincheiras das redes sociais e dos comentários de páginas de notícias, o que se faz é só gerar insatisfação e raiva mútua.

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