domingo, 28 de outubro de 2012

A medida de amar

Sábado passado, sem ser ontem, entrei na Igreja para o casamento de um casal de amigos meus.

Depois de anos de namoro, testemunhei o começo de uma família, um milagre digno de efeitos que transcendem fenômenos naturais.

A música é medida em metros, passo a passo até o altar.

O rosto deles parecia copos prestes a transbordar, daí o cuidado com os passos, devagarinho.

A ansiedade se conta em lágrimas, conta-gotas.

No beijo, uma certeza.

E calculamos a felicidade em decibéis e graus GL.

A farra foi merecida!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Não tem pra onde correr

O ex-presidente do Brasil e atual "porta-voz não-oficial" do PSDB Fernando Henrique Cardoso declarou o óbvio sobre o partido, ainda que esteja mentindo sobre qualquer postura conservadora exclusiva de José Serra.

O candidato está errado em ser conservador? O que há de errado em ter apoio de conservadores, ainda que estes sejam aliados a setores religiosos? Sequer ocupam cargos políticos! Apesar de não propor nada que o diferencie de Fernando Haddad, o infeliz do Serra defende outros valores e não seria diferente como, por exemplo, ao condenar a proposta do Kit Anti-Homofobia. O que querem, inclusive no próprio PSDB e por meio de FHC, é calar a dissonância, eliminar a alteridade, ainda que ela não exista – menos ainda na figura do Serra.

Ganhar o rótulo de conservador é, no mínimo, transparência sua com o eleitor. Ele mesmo deveria ser carne-de-pescoço e defender isso, se não fosse tão frouxo.

Serra é o cordeiro a ser imolado em nome da integridade do partido. Não, ele não é uma vítima de propaganda eleitoral do PT, pois ele mesmo cavou todas as acusações que recebe.

E... por quê imolá-lo? Simples. Já que o PSDB não tem representatividade em quase nada que não seja Sudeste (SP e MG, nessa ordem), elegeram um culpado por tudo o que há de mais sujo do partido, uma vez que todos têm lá a sua sujeira. No caso do PSDB, é só eleger o Serra como um pária, "um defensor de valores retrógrados que não respondem mais a sociedade de hoje.

Afinal, ele é velho mesmo, não?

FHC foi sincero pero no mucho: indiretamente assumiu que o que o PSDB faz não é política de direita e que social-democracia não é liberalismo, senão não teria ressalvas em relação à postura do colega. É chover no molhado dizer que a mídia vai continuar tratando o partido como a direita do país. Afinal, nem o DEM existe direito, já que Gilberto Kassab levou metade pro PSD. Parece estabelecimento comercial que tem o alvará falso, tem CNPJ sujo e deve na praça: pra caducar dívida, muda nome e lugar de tempos em tempos.

Aguardo um parecer da Revista Veja – sim, aquela que não é, mas normalmente é tratada como direitista (só porque teima no Mensalão e ignora a Privataria), apesar de responder a uma classe média que lê com olhos canhotos. Aguardo a magnânima fonte de saber chamada Arnaldo Jabor, formador de opinião por excelência, celetista, com código registrado na CBO. Entre os "conservadores", é o que tem pra hoje.

Não que Serra fosse uma opção, muito menos esse partido, mas dessa vez é declarado. Agora é oficial que o Brasil não tem opções; não há um lado pra onde correr.

domingo, 14 de outubro de 2012

Por favor

Altruísta, complacente, caridoso, tão gente / Acumulando raiva e rancor

Filantrópico, Titãs

A porta abriu com tudo. Ele a pegou pelo braço, que se desviou dele. A vizinha era mais forte, o que o deixava com a única opção de se conformar com a intimidação que a própria brutalidade podia causar. Encarou-a puto, com o olhar também puto, e falou mais baixo do que realmente queria, já que era muito comedido para mostrar o quanto estava fora de si.

– Você tá vendo aquela estante ali – disse, apontando para uma parede num canto de dentro de sua casa.

Como as portas eram próximas, ela tinha todo ângulo para ver a quantidade de livros. E respondeu alguma coisa, de modo que ele não deu atenção. Ele continuou.

– As três prateleiras são pro fim dessa semana.

Naquela altura, já se arrependia de tentar segurar o braço, de tão comedido que era.

– Não dá pra ler tanto que eu sei. Tu tá mentindo, nem vem.

– Eu sei que não, mas dá pra ler menos ainda com essa porra tocando alto na merda do teu som.

Estava convencido. Todos que gostam do volume alto no aparelho de som evitam ouvir os próprios pensamentos. A consciência dói.