sábado, 2 de março de 2013

Duas folhas da mesma página

Li um texto ótimo no blog de uma amiga e pensei sobre as opiniões contrárias ao Big Brother Brasil.

Dá pra arriscar alguns padrões de quem assiste o programa. Eu poderia dizer que o BBB retoma vontades latentes de algumas pessoas, como 1) dividir um determinado fato com os outros, 2) identificar-se em grupo ao criar um assunto comum, ou 3) a curiosidade pela vivência alheia. Esta última vontade (3) é facilmente simulável com um outro tipo de programa, filme ou livro; enfim, ficção, que se traduz em como alguém se sairia em determinada situação e talvez haja um espelhamento nisso. Na 2), o futebol, gostos e conhecimento comum também cumprem esse papel. E na 1), podia ser um acidente de trânsito, uma notícia.

Em todos esses exemplos, o que acho curioso é que aqueles que avaliam os espectadores do BBB também são avaliados. A rejeição do programa também é número para a Rede Globo, seja essa estatística levada em conta ou não. As pessoas que rejeitam os espectadores do BBB (eu mesmo, por exemplo), bem como rejeitam o próprio programa, costumam atacar essas vontades ao vê-las pelo seu pior ângulo: 1) fofoca, 2) falta de individualidade, 3) bisbilhotice.

Sob outro prisma, é fácil entender esses ataques como rótulos, mas nada mais são do que o outro lado do mesmo evento. É o que diferencia "teimosia" de "força de vontade". Há um costume geral de instaurar dicotomias (frio/quente, direita/esquerda, disposição/preguiça, vida/morte) sem sequer refletir se cada uma delas são realmente opostas, se não existem outras categorias que preenchem o vão entre uma extremidade e outra (morno, apolítico, indisposição, doença).

Qual o ponto disso tudo? Ao dizer algo, você suscita valores que estão de acordo com o que pensa no momento em que diz. Se as palavras, opiniões e posturas forem percebidas enquanto estão em prática (conversa, texto, reações a um filme, etc), podem ser controladas e alteradas. Cansa ignorar os próprios gostos, mas dá. Esse autocontrole pode fazer ouvir Tchakabum no seu quarto e Tchaikovsky num churrasco, pois estas músicas não estão necessariamente endereçadas a determinadas situações. Por mais instantânea que seja sua reação quando exposto a algo fora do seu padrão, do seu gosto, de sua bandeira, pense de novo e tente entender o repertório de ideias daquele que executa aquilo que você a princípio rejeitou.

É o que faz pessoas de posições opostas se respeitarem sem necessariamente aceitarem a prática do outro, para ouvir uma proposta contrária e discordar sem sair faísca.

Relembrando das palavras para atacar o BBB e dos outros significados dessas mesmas palavras, todo esse autocontrole pode ser entendido como "escapismo" (ser bunda-mole) e "poltronaria" (ser covarde, fujão). Prefiro entendê-lo como "tolerância" – que naturalmente me falha.

Por isso sou da turma do deixa-disso.

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