quarta-feira, 20 de junho de 2012

Engenharia Linguística no Globalismo

Discussões sobre políticas públicas são semanticamente genéricas e essa condição se acentua quando as discussões são de âmbito global.

Releia o parágrafo acima. Por que optei pelo verbo "acentuar" e não "agravar" ou, ainda mais contundente, "piorar"?

Tudo o que quis dizer está no primeiro parágrafo. Para não conduzir o leitor diretamente a um juízo de valor, preferi (e não "optei") por ser menos assertivo.

É o que separa uma barraca de sem-teto de uma barraca de camping. O referente é o mesmo: trata-se de um plástico erguido com uma armação. E em muito me importa o nome que vou dar a esse objeto.

Chamo isso de Engenharia Linguística. Ela intermedeia a escolha das palavras, o tamanho das frases, se o texto pode ser lido com os olhos com a mesma facilidade que é lido em voz alta, dita se os exemplos usados são pertinentes. Planos governamentais violentos – com nomes atenuados – são criados assim, como o Brasil Carinhoso.

Não é o caso da Conferência Rio+20. Sua finalidade é a elaboração de um texto que proponha uma solução global. A discussão levantada pode ser pertinente ou não; o que realmente interessa é que caminho está sendo trilhado com o texto.

Para compor o texto, é necessário saber quem é o leitor. Considerando que seu alcance seja supostamente global, nivele por baixo a sua abordagem. Observe um problema com olhar panorâmico, superficial. Nada é posto em detalhes. Evite soluções pontuais e pragmáticas. Descreva um objetivo que seja vago para aumentar o alcance de suas palavras.

Enfim, o texto é finalizado. Foi feito para ficar bonito na parede, e incutir em cada um desejo latente de fazer um mundo melhor, ainda que não dependa de você. É isso mesmo: enquanto você espera uma solução, te entregam um desejo.

O que te resta é o amargo descompasso entre a expectativa (fomentada pelos seus participantes) e a real finalidade da conferência.