domingo, 30 de agosto de 2009

Pôster

Rituais, imagens e incensos são necessários a cada um de acordo com seu modo de ver Deus. Eu não sinto necessidade disso, a não ser alguma regularidade de oração.

Porém, eu cultuo muita coisa que não vem de Deus. Claro, se o mundo é material, que usemos a matéria; mas o culto é de Deus. Ídolos, hábitos, convicções e posturas são mais presentes em mim do que um simples "pai-nosso" sibilado baixinho e decorado, por exemplo.

Eu sinto que para me livrar disso tudo eu teria que abrir mão de amizades e gostos que têm também muitas qualidades. As coisas de Deus não são tão abitoladas, fanáticas. Jesus não pregou contra os reis, mas sim quanto àquilo que ostentavam de mais supérfluo - ouro, e não as virtudes.

Prefiro aprender a viver com esses cultos exteriores para o meu bem, sem me desgarrar dos ensinamentos. Alguns sacrifícios são bons... mas alto lá!

Pausa aí. Isso.

Não é um espírito que me habita, pois eu sou o espírito - e quem é habitado é meu corpo. Toda matéria é ferramenta, é meio, instrumento. Logo, não devo enxergá-la como uma finalidade, um objetivo. Voltemos ao "tenho, logo existo". Ou entremos no "tenho logo, agora, já".

Tenho sim minhas lutas por conquistas mundanas, mas muitas se justificam como aquisição de mais ferramentas para objetivos nobres. Aliás, um trabalho não é só uma oportunidade de ganhar dinheiro, como também a grande chance de vivenciar convívios conflitantes, provações de caridade, fazer amigos. Tudo depende do modo como as encaro.

Mesmo assim, me prendo em algumas práticas, repetindo vontades superficiais - como uma diversão barata que supostamente não faz mal a ninguém. Mas ainda sinto dificuldade de separar o bom do Bem. Não sei o que é joio e o que é trigo nalgumas vezes. E não faço a menor ideia se meus talentos podem servir fora da matéria, fora da mera boa intenção, seja diversão ou instrução.

domingo, 16 de agosto de 2009

Enemia

Eu costumo dizer que, apesar da minha veia jornalística, eu não sirvo para trabalhar nessa área por causa da minha incapacidade de síntese imediata. Espero o tempo engatilhar. Demora até que o filme se revele.

A revelação e apocalipse chegam juntos. Hoje são sinônimos. O Leo falou que já estamos no último livro. Verdade. Mas depois desse livro a leitura continua – nas páginas amarelas. Ser e ter, actually y atualmente, são verbos parecidos. Só muda uma consoante – a letra s é vizinha da letra t – e o sentido é próximo.

Objetos tem grande relevância nas nossas vidas por culpa de nós mesmos. Uma hora vamos embora dessa frequência (não desse mundo, pois é o mesmo, a Obra é uma), para depois termos a oportunidade de habitar outros corpos; mas tudo fica. Somos substantivos abstratos.

É estranho, mas um par de patins mudou minha vida. Aquelas rodinhas giraram e geraram implicações interessantes – em português claro, eu rodei. Cinco reais pedidos e conseguidos no Tietê salvaram a vida do meu pai; uma inscrição de última hora fez com que eu conseguisse conhecer grandes amigos na escola, os mesmos que me incentivaram a me matricular numa universidade que vai me dar uma profissão que bata cartão e férias de fim de ano.

As implicações, aliadas aos compassos binários em outros aspectos da minha vida, tiraram o amor e a paixão. Passio. Meus passos estão menos apaixonados, mais passivos. É natural que seja assim e assado. Apesar de tudo ter seu brilho, não estou apaixonado por ninguém, nem amando como antes estive. A vontade de estar junto é grande e está unida com a falta que a falta faz. Também a música perdeu sua cor, sinestésica ou não – a paga vale muito a pena.

O fato de ter novos amigos oferece a chance de me reinventar. Mais uma camada de tinta por cima da massa corrida. E velhos amigos rebobinam a fita, eu querendo ou não.