domingo, 25 de outubro de 2009

Hey

Não eram nem seis meses depois de ter terminado a escola. Ainda me reunia com os amigos daquela época. Cada um começava a ter idade pra dirigir e tirar carta, se divertir muito com pouco no bolso.

Foi a mesma época em que comecei a ter internet em casa. Eu já colecionava mp3 antes disso, quando tinha duas HD de 500 Mb cada - eu gostava de "tudo", embora na verdade eu fosse muito pouco flexível, rodando só os clássicos e modinhas de rock. Conversava muito pela internet, e foi assim que conheci alguns dos meus grandes amigos. Estava em dúvida sobre o que prestar no vestibular, não tocava nenhum instrumento e não tinha curiosidade disso.

Isso foi no começo de 2003.

Por mais que alguns nunca tenham sido meus grandes amigos, eram as verdadeiras pontes para alguns êxitos meus. Foram algumas influências e contatos que me levaram, por exemplo, a conhecer pessoas que conheciam pessoas que conheciam outras pessoas e muitas delas, ao mesmo tempo, se tornaram, em algum nível, amigas minhas. Nessas amizades, duradouras ou não, eu me mesclei com os objetivos dos outros, uma vez que não tinha os meus próprios. Foi assim que, por curiosidade do novo e fidelidade aos amigos, comecei a cantar, ler e a rezar - atividades que norteiam a minha vida.

Esses são os tais êxitos, pois me tornaram aquilo que tento resumir em algumas palavras. Gosto do acaso.

Muitas dessas pessoas não existem mais para mim e nem faço questão de que existam. Agradeço muito pela importância que um dia tiveram e sou grato pela importância que já tive. Hoje isso tudo faz sentido, até porque penso que tenham seus papéis na vida de cada um, como influência ou câmbio, sem que seja necessariamente para sempre. Tiveram seu papel na minha vida e ponto final. Deixaram de existir por mérito do acaso e da aparição das diferenças - ainda bem que nunca somos os mesmos. Pouco caso muito frequente.

Algumas pessoas já existiam e ganharam novos sentidos na minha vida. São poucos os casos, embora muitos sejam bons! Um ótimo exemplo é um sorriso amigo que transbordou a cor da tela pra cima do que desbotou; as letras da página perderam parágrafo pra se segurarem juntas e não voarem, e serem lidas sem pausa pra fôlegos; e ainda por cima embaçou minhas lentes, e toda nitidez que tive saiu pra passear sem aviso.

Outras pessoas eram muito próximas, e por minha culpa - minha tão grande culpa - se afastaram. Talvez eu já tenha cumprido o papel na vida de cada uma delas. Talvez eu tenha pisado na bola ao não dar atenção, e meu jeito desligado ter se tornado um jeito indiferente. Transformado, transtornado. E recentemente me sentia muito mal com o jeito que tenho. A ausência causou um amargo de ter sempre um mar diante da janela e isso não adiantar nada, porque todos estão atrás, pra dentro, no sertão do cotidiano. Nesse caso, olhar pra trás é olhar pra si. Não vou fazer promessas para rever pessoas, e nem revê-las. Quero voltar a participar da memória desses. A mudança é muito maior do que uma prática, porque é interior.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poesia

A última vez que eu escrevi foi num dia importante. O meu onze de setembro não é de 2001 e sim em 1973. Não é sobre coroas e armas que vou falar aqui dessa vez. Na verdade, coloquei um texto de um poeta que gosto - entre outros com os quais me identifico muito - que acerta muito numas horas. Embora eu me arrisque, e também rabisco uns versos.

Sim, escrevo alguma poesia. A frequência com que as escrevo não é regrada e certinha. Ora sai de uma vez um monte, ora sai pingado. Tem hora que não consigo. Mas discutir o método é coisa íntima demais pra expor aqui. "- Ah, então falar sobre seu pai, a ex-namorada, como se sente e o que pretende usando a internet não é íntimo o bastante?". Não, não é! Pelo menos pra mim. É tudo muito... como diria umas amigas minhas, "barroco": excesso de informação causa falta de informação. Aposto que, se os sites de notícias fossem mais limpos e cheios de imagens piscando, eu ia ler notícia por notícia. E a internet é assim mesmo, bagunçada; não é um número, como o telefone, mas sim um endereço num espacinho no alto da janela, um amontoado de letras com as quais você acessa informações ou não.

Voltando ao assunto - ainda no assunto. Amontoado de palavras, certo? Pois é. Comecei escrevendo em folhas avulsas de fichário, aquelas antigas, de três furos. Depois me rendi ao imediatismo: passei a divulgar pela internet, em meu antigo blog (de março de 2003 até maio de 2005 e deletado!). Depois os poemas começaram a ser criados com algum intuito musical, até eu perceber que experimentalismo tem limite. Os poemas cresceram conforme fui crescendo. Já cheguei a usar métrica e achar que com isso eu estava fazendo a pura poesia do Renascentismo. Já usei muito a segunda pessoa pra me referir ao eu ou ao ele, só pelo preciosismo. Cansei de adjetivar. Adoro paradoxos, justapor contrários. E brinquei com palavras em parônimos, polissemia, anagramas, metonímias. Normalmente, eu caía no erro de comentar os poemas nas postagens desse meu blog. Se hoje fosse fazer algo assim (se), eu faria de frente pra pessoa interessada. Enfim, todo passado soa imaturo a quem vive o presente.

O curioso foi como o estilo muda conforme envelhecemos. Não passou tanto tempo assim, são só oito anos... Mas em arte isso significa muito. Tendo como parâmetro o futebol brasileiro, é só pensar nos oito anos que separam as ""decepções"" de 1998 e 2006 ou nos ""glorificantes"" oito anos entre 1994 e 2002. Nesse ínterim, o que aconteceu no mainstream musical? Renato Russo, Kurt Cobain, Cássia Eller e muitos outros foram embora, e muitas influências boas e ruins apareceram. O Renato foi o meu primeiro inspirador, e música e poesia pra mim sempre se confundiram muito - assim como esses parágrafos se misturam em assuntos. Só lida, a poesia tem um ritmo que parece imitar instrumentos, sendo que na verdade são eles que imitam a fala sólida.

Procurei as Letras justamente porque eu escrevia. Antes eu pensava em Jornalismo, e me desiludi com essa ideia de trabalhar em escala industrial, sendo que na época não acreditava em eficiência nisso. Ainda hoje não acredito, embora eu me venderia se fosse bem pago. Mas eu percebi que meu curso tinha uma demanda muito maior em leituras, coisa que sempre fiz muito devagar. Como vocês perceberam, nada do que gosto eu consigo fazer aos montes, e dessa vez acabei aceitando muito bem. E hoje vejo cada versinho que fazia com outros olhos, e percebo que desenvolvia detalhes muito interessantes mesmo sem qualquer requinte de erudição.

Hoje, aquelas folhas de fichário caberiam num papelzinho de sorteio de amigo secreto. Este aqui foi o último que fiz ainda nessa safra "minimalista". Lá vai.

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Herpes

sapinho
beijinho
principezinho