sábado, 25 de julho de 2009

Twitter #01

O pequeno tá dando mais chute. Critico muito, mas sinto inveja de tudo que tem pretensão de se dizer eterno afetivamente

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Vocalista - e não cantor.

Vocalista não se basta. Preciso de um grupo em que todos tenham igual valor, e gosto disso.

Pra quem não conhece, aquelas frases do “Repertório” eram versos das muitas músicas que compomos ao longo de seis anos e meio de amizade. Foram algumas pausas, regadas a poesia e base, idas e vindas. A Retroavantes era o mais próximo do que queria ver num palco, só que eu estava ali. Bem, é estranho, demorou pra cair a ficha; tudo o que eu me conheço por vocalista (não sou cantor) foi aplicado ali. Obedeci, claro, a muitas coisas criadas por eles, mas se o fiz é porque a composição dos meus amigos tem credibilidade. Estaria sozinho, mas temos – eu e o Leo, graças a ele, a quem agradeço muito – Os Cadillacs, meu emprego aos finais de semana. Ainda não fazemos shows na freqüência que desejamos porque ainda estamos vinculados apenas ao Cadillac Vintage Bar, aquele lugar retro e saudosista no Centro de Santos, que tanto nos acolhe.

Sozinho, sigo o sonho de fazer arte através de tudo que vivo, cada placa de trânsito, cada livro, vírgula, atchim, cada cena de cinema barato, cada busca na internet, ângulo de foto, cada beijo compartilhado, cada reparo, corda estourada, rouquidão, batuque. Eu estaria em uma fase “audiotopia”, música understream, popular e itinerante, mas me julgo imaturo demais pra isso – fica pra posteridade! Enquanto isso, vou cantando ainda em inglês e português, todo rock e pop antigo que ainda reverbera na cuca de quem nos assiste. Aprendi, nesse exato instante em que escrevo (mesmo!), que não devo trabalhar com aquilo que quero aprender agora, mas sim trabalhar com o que já sei. Estou muito acostumado a aprender. O que eu mais fiz até hoje foi ser saudosista; posso ganhar a vida com isso, cantando o que as pessoas querem ouvir.

Todo tipo de indagação sobre ter um repertório pop já me afligiu antigamente; hoje não faz sentido questionar o gosto de quem me paga. Todo centavo ganho com música é especial, pois a possibilidade de conseguí-lo é menor, tamanho o estigma que essa profissão carrega.

Não escolhi caminhos fáceis; sinto-me angustiado por não poder me dedicar como quero àquilo que me traria retorno imediato, e não somente despedir pacientemente meia década de carteira, livros e notas. Pra mim, música e literatura, isoladas uma da outra, são excelentes – e insuficientes. Não basta fazer só uma das duas.

Quero braços levantados para tirarem dúvidas! Quero braços levantados para cantarem junto! Só não sei se é mais ano letivo ou turnê de álbum novo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Repertório do próximo ensaio:

Caminhava por aí. Era princípio de um ideal, miragens de luz e cores. Apesar do moderno existir, o antiquado veio. Quatro jovens sem poder entre quatro paredes, por mais de seis anos. Só queria sonhar. A soma deu menos no caminho da minha ganância, iludido, esperando retribuição e respeito. Era acordar para ver um novo dia. A meta, em si, era só ir. Mas nada vale a pena sem o subir.

À tua esperança, Retroavantes, uma rosa, a nossa que não tem gosto de ferida. Ocasião que aconteceu, não sei em que lugar. Os demandos com explicação são heranças que acordam. É a hora de beber a água nua, deixar a onda nos socar como a maré do mar. É a busca que me toca.

Pra que se importar? Existe possibilidade? Por que teve começo? Pseudo, louco, mas explicável: pelo sentimento que há entre nós. Amor que reina e vicia. A nossa história nos faz lutar. Embora não meça seus erros. Rancores, desafetos; o trabalho tirou o sossego.

Corre tempo. Um minuto sem você é tudo escuro. Horas viram segundos.

Acabou, acabou; agora é o fim. E ao terminar é só som, a música que viaja pelo ar. Tudo o que resta é seu eco. E, antes de mais nada, já sinto falta daquilo que não foi, e do que não será. Mas olhemos pra frente, porque há uma luz. Tá na hora. É só uma etapa, um patamar, ou apenas a integridade.

Ainda olhamos para cima. Mas está abaixo do céu.
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terça-feira, 14 de julho de 2009

Longplay

Meu pai veio de Piracicaba e claro que fui visitá-lo. Quando ele vem, ele não vai até Santos; fica na casa da minha irmã. Saí da casa espírita onde atuo, e no caminho, andando até o ponto de ônibus no centro de São Vicente, ouvi aquela gritaria do fim de tarde de sábado. O movimento era grande, as grades do comércio começavam a abaixar e os pontos de ônibus enchiam de gente com seus fones pra pegar as peruas tocando as rádios populares locais. Antes de chegar no ponto e ter a sorte de pegar imediatamente um ônibus que passa de vez em nunca, ouvi um homem gritando na calçada "Olha o Michael Jackson aí, Michael Jackson baratinho".

Aquele cara talentoso morreu, e é normal esse teor post mortem da fama. Condenado por pedofilia pelos fãs, absolvido pelos tribunais. E todas as estranhezas e culpas foram absolvidas com a morte. O paraíso está aqui, quase como diria a mitologia tupi; já o inferno, bem... o inferno são nosotros. O sucesso vira suceso; as virtudes ganham prefixos, se desfazem. Dançou, cantou, depois morreu afogado no próprio fogo de sua estrela.

Ultimamente, o brilho da música não vem de luz, mas sim de pólvora. Queima rápido e some. O estatuto da música foi mudando, e uma vez mudado foi admitindo novo caráter. Heitor Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa, Ari Barroso, Lupicínio Rodrigues e Herivelto Martins contribuíram nas canções de um Brasil que começava a circular os primeiros registros sonoros. Antes, os cilindros, e pouco depois o vinil. No começo, apenas discursos políticos, dando espaço para a música. Antes, exibições eram feitas; pessoas pagavam para ver a máquina que falava, como quem entra hoje num cinema. Aos poucos, reuniões passaram a ser feitas nas casas de pessoas que tinham aqueles aparelhos de ouvir música. O rádio expandiu horizontes; a ciência do invisível passou a fazer parte do cotidiano popular, voando no ar. Tudo isso foi se barateando e alcançando novos lares, saindo dos bairros nobres das cidades até onde hoje a cobertura do celular não atinge.

Os trilhos dos trens foram arrancados, o asfalto se agarrou ao chão, as casas cresceram e perderam os telhados. Os banheiros há tempos já tinham entrado nas casas, e as pessoas não mais nasciam nem morriam em casa. O velho virou termo depreciativo, foi afastado pois representava o ultrapassado, o obsoleto e o saturado e não mais o conhecimento acumulado e tradição não necessariamente fixa. Do feno até a terra. O asilo de inválidos perto do Orquidário de Santos ganhava cada vez mais hóspedes, e da cama foram à campa. Derrubaram, e instalaram uma escola no lugar. Já não se vê casas na orla. Tudo que é novo ganha seu espaço, e o argumento para legitimá-lo é unânime: "é novo, precisa ser outra coisa para ser bom?". Moreira da Silva deu lugar para Alexandre Pires, Penabranca e Xavantinho para Fernando e Sorocaba, Luiz Gonzaga para Falamansa. Até se tenta e se consegue conviver em paz. Mas a aversão pelo velho não é unânime, senão jamais haveria passeata contra a guitarra elétrica por uma elite beata e reaça.

A canção virou sinônimo de música, e a música clássica, apesar de tocar os corações de crianças desde Itaquera até a beira do Morro do Marapé, se escancarou de vez como coisa de rico e se escondeu no condomínio fechado. Hoje, a música eletrônica recupera os fatores da sinfonia, mas o modo de apreciação não é o mesmo, sendo mais um pretexto para dançar e outras finalidades, assim como na canção popular desde a Idade Média - mas essa é outra história. Toda arte foi "amadurecendo" conforme os avanços do novo, assim como as roupas, os hábitos, os sonhos. Se muito antes se estendeu a Renascença, no século XX a Ciência e o Dinheiro somaram seus adeptos. A música foi se comercializando; a ostentação e a precariedade se tornaram fontes de criatividade e também viraram fins de composição. A gaita e o berimbau foram levados de lá pra cá e as igrejas góticas já tinham seus órgãos fixos às paredes, enquanto as tribos tinham canções até para receber amigos de longe. A literatura teve o culto à quebra com a Semana de 22 e a música (canção) teve a Tropicália muito depois. Pouco antes, a bossa nova começava a responder os apelos de música jovem, da zona sul do Rio, e depois a abertura (boa ou má, enfim) às influências estadunidenses que a Jovem Guarda foi. Mesmo antes, as influências sempre existiram, assim como o cavaquinho, italiano, entrou no samba, paulistano - sem Brás, Bexiga ou Barra Funda não existiria esse instrumento em um ritmo tão povão. Antes mesmo, a cultura francesa em muito influenciava (ou influencia ainda, na academia) o Brasil de José de Alencar ou Gonçalves Dias. Machado de Assis era o único que se aliava a uma tradição inglesa, de Lawrence Sterne. Os românticos tinham lá seu Byron (o mesmo que pilhou raridades na Grécia para o Museu de Londres), mas não largavam os tique-tiques afrancesados - muito bons à sua época e com os valores reconhecidos hoje em dia - e a música contava com seu minué e as modinhas.

As influências externas não são exatamente más, principalmente quando falamos do Brasil. Hoje temos o rock que afirma isso. Se o problema for ideologia, Odair José um dia cantou "Pare de tomar a pílula" e hoje Capital Inicial canta "Natasha". Se for originalidade musical, Cauby Peixoto cantou "Rock and Roll in Copacabana" e hoje Paralamas do Sucesso canta "Sem Mais Adeus". Acho graça em buscarmos influências tão longe, numa língua tão estranha, desobedecendo e ignorando Simón Bolívar, Violeta Parra, Mercedes Sosa e até Hugo Chávez. Mas quem domava a técnica estava mais em cima. O taco e a bola estavam lá, e o buraco é mais embaixo.

É normal que hoje falemos em Foo Fighters, Oasis, Nirvana e Guns N' Roses. The Beatles tem mais adeptos que Jesus Cristo? Existem fãs ou fiéis? É normal que lembremos mais de Elvis Presley do que de Chico Buarque, mesmo aquele sendo morto. A bossa nova teve respeito lá fora, e Bob Marley elevou a Jamaica a algum patamar de respeito usando guitarra, num estilo que influencia Gilberto Gil. O glamour e lifestyle das estrelas surgiram, uma vez que a boemia artística já acompanhava trupes circenses desde séculos, ou agradavam salões de cortes reais. A conjuntura política brasileira permitiu até essas aberturas, e assim como Saulo de Tarso espalhou as sementes com sua perseguição contra os cristãos, o exílio foi um caminho engraçado de dar as caras, de dar as cartas. A era do rádio passou e passou a ser escrita em minúsculo; os festivais da Record, que reunia todos na frente da TV, também; eis que surge o videoclipe.

Eis a música pop. O CD toma a capa da revista Superinteressante de maio de 1990 com os dizeres "Disco a Laser: como se consegue um som tão puro". A pirataria sai dos livros de História e toma calçadas de outro jeito, popularizando "Bohemian Rhapsody", "La Bamba", "Que Nem Giló", "Vai Vadiar", "É o Tchan no Havaí", "Banho de Espuma". E dava pra rebobinar a fita K7 com caneta Bic. Com a internet, surge o mp3. Gramofone e vitrola se foram. A "seleção cultural" digivolve walkman em discman, e este em iPod. Hoje ouço tudo no celular (que deveria só dar telefonemas), mas recomecei a frequentar sebos de discos, nem que seja para comprar só por decoração.

E a mesma pessoa que não perdeu o show da Ivete Sangalo nesse domingo, com confusão com polícia e tudo, não esqueceu de comprar o DVD pirata do Michael Jackson. Vai ouvir "Billie Jean" em casa e levar o filho pra creche. Michael Jackson tem sido assunto, black or white ouve suas músicas. E metamorfoseou seu estilo e sua pele, e se amalgamou até com o Olodum. Vai ter Sepultura na mesma casa de show que recebeu Inimigos da HP, aquela onde assisti Skank com minha ex-namorada. Viajei nesse final de semana com Legião, Paralamas, Coldplay e Metallica no som do carro, sem deixar de brincar com os amigos cantando Fábio Jr. no violão com Harry Potter na TV. Depois de conhecer algumas pessoas nesses quase dez anos, fui fuçando a internet e baixando mp3 de tudo que é tipo de música, principalmente o rock que não tem sido o meu foco de procura ultimamente. Não existe outro estilo musical que tenha se espalhado tanto e se moldado de um jeito diferente em cada parte do mundo em que parou. Amo o samba, de verdade, até suas raízes fora do Brasil (conforme li no André Midani), as mesmas que fizeram ele ser um irmão do jazz e do blues - o que faz da bossa nova um incesto. Mas ele não teve a chance de se expandir tanto quanto o rock, infelizmente. Seria bom pelo seu caráter popular. Mas o rock, por ter vencido uma barreira racial entre brancos e negros e pela facilidade de reprodução com três pessoas, atingiu patamares nunca antes alcançados. Possibilitou o mangue beat, o flamenco rock, o j-rock, o reggae e o heavy metal.

Seria melhor se fosse normalmente acústico, pois popularizaria mais ainda sem energia elétrica. Mas para ser ouvido longe, precisa-se de amplificadores.