As the art and science of manipulation come to be better understood, the dictators of the future will doubtless learn to combine these techniques with the non-stop distractions which, in the West, are now threatening to drown in a sea of irrelevance the rational propaganda essential to the maintenance of individual liberty and the survival of democratic institutions.
Aldous Huxley em “Brave New World Revisited” (1958)

A internet reitera o mundo. É como pornografia: todos procuram apenas aquilo que satisfaz. É um vício pelo entretenimento na forma de humor e às vezes, como se vê nas redes sociais, um vício na forma de indignação. São os dois minutos do ódio para extravasar sua opinião sobre uma injustiça do mundo; uma vez cumprida a cota de “que-absurdo-isso” e “que-absurdo-aquilo”, sossega-se o facho – como faço aqui. Em geral, só se procura o prazer: se o sujeito tem paciência de ler, abre matérias que confirmam o que já pensa para ter mais embasamento pra sentar a lenha naquilo que odeia ou, na melhor das hipóteses, clica na Veja ou a Folha de São Paulo para malhar a nova direita brasileira (pfff!). Nada que o desafie muito ou abra debate para uma crítica que se preze, já que dá cãimbra no cérebro.
Esse é o cenário perfeito para circular um vídeo na internet do político e comunicador George Galloway vociferando contra as opiniões de um estudante de Oxford. O rapaz defendia uma visão contrária às melhorias e democracia do governo de Hugo Chávez na Venezuela. O nome certo do vídeo seria “Como destruir a alteridade em pedacinhos”.
Muitos postaram o vídeo na vã sensação de se sentirem vingados exatamente para concordarem e taxarem de “alienação” qualquer opinião contrária.
Apesar de ser uma tática baixa, é comum desconstruir a imagem do adversário. Vide os cartunistas Laerte sobre a nova ARENA e Latuff sobre pastores evangélicos. Curioso que, neste último, se usa como arma de vilipêndios exatamente aquilo que se defende, o que mostra total desprezo pelas próprias causas, na vaidade de atacar. A mesma prática é repetida até o talo com jornalistas como Eliane Brum, Leonardo Sakamoto e Marília Gabriela ou na verborragia de algumas figuras públicas, como o venezuelano Nicolás Maduro chamando o candidato da oposição Henrique Capriles de “maricón”.
Temos aí o argumento ridículo de que, para se sobrepujar, é necessário desqualificar o antagonista.
Desde as entrelinhas de portais de notícias aos perfis do Facebook, impressiona como as pessoas levam a sério toda boa ação estatal. Como é irresponsável acreditar que tudo só parte da boa vontade de um líder e que só faltava alguém determinado a peitar as elites. Todas essas “melhorias” na educação são tão questionáveis como as suas consequências negativas.
(Estados inconsequentes são como adolescentes/crianças: apesar de terem grande potencial, são cheios de si, são naturalmente dependentes e não produzem. Se dependesse unicamente da vontade de Estados assistencialistas, todo o dinheiro público seria usado para comprar salgadinho e que se dane o dinheiro da perua ou a mensalidade da escola. Em escala maior, fazem exatamente isso e, de novo, com ou sem boas intenções.
De nada vale ter “consciência social”, fazer e acontecer e zás e zás, e defenestrar a economia do país no limbo.)
A esquerda ataca como se, para os liberais, a propriedade estivesse acima da vida e do bem-estar. Mas é óbvio que a imagem de uma pessoa que antes era miserável – e hoje trabalha e tem o que comer – é muito mais emocionante do que um portfolio de empresa ou o anúncio da entrada de capital estrangeiro. Mas nenhum esquerdista pergunta de onde saiu o dinheiro que caiu na mesa do pobre e seus impactos dessa arrecadação, tampouco as consequências sociais positivas com investimento econômico privado sério. O vermelho é uma cor que sabe chamar atenção.
É um cenário dual. Ou é preto ou é branco, não tem meio termo. A discordância é a nova alienação.
Toda besta útil merece um guia genial dos povos.
Recomendo o ceticismo para que se desconfie até daquilo que se ataca – recomendação arriscada essa, pois o vício pela imparcialidade, assim como a unanimidade e a estagnação, sempre traz problemas.
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