quinta-feira, 14 de março de 2013

A revolution from my bed

As the art and science of manipulation come to be better understood, the dictators of the future will doubtless learn to combine these techniques with the non-stop distractions which, in the West, are now threatening to drown in a sea of irrelevance the rational propaganda essential to the maintenance of individual liberty and the survival of democratic institutions.

Aldous Huxley em “Brave New World Revisited” (1958)

A internet reitera o mundo. É como pornografia: todos procuram apenas aquilo que satisfaz. É um vício pelo entretenimento na forma de humor e às vezes, como se vê nas redes sociais, um vício na forma de indignação. São os dois minutos do ódio para extravasar sua opinião sobre uma injustiça do mundo; uma vez cumprida a cota de “que-absurdo-isso” e “que-absurdo-aquilo”, sossega-se o facho – como faço aqui. Em geral, só se procura o prazer: se o sujeito tem paciência de ler, abre matérias que confirmam o que já pensa para ter mais embasamento pra sentar a lenha naquilo que odeia ou, na melhor das hipóteses, clica na Veja ou a Folha de São Paulo para malhar a nova direita brasileira (pfff!). Nada que o desafie muito ou abra debate para uma crítica que se preze, já que dá cãimbra no cérebro.

Esse é o cenário perfeito para circular um vídeo na internet do político e comunicador George Galloway vociferando contra as opiniões de um estudante de Oxford. O rapaz defendia uma visão contrária às melhorias e democracia do governo de Hugo Chávez na Venezuela. O nome certo do vídeo seria “Como destruir a alteridade em pedacinhos”.

Muitos postaram o vídeo na vã sensação de se sentirem vingados exatamente para concordarem e taxarem de “alienação” qualquer opinião contrária.

Apesar de ser uma tática baixa, é comum desconstruir a imagem do adversário. Vide os cartunistas Laerte sobre a nova ARENA e Latuff sobre pastores evangélicos. Curioso que, neste último, se usa como arma de vilipêndios exatamente aquilo que se defende, o que mostra total desprezo pelas próprias causas, na vaidade de atacar. A mesma prática é repetida até o talo com jornalistas como Eliane Brum, Leonardo Sakamoto e Marília Gabriela ou na verborragia de algumas figuras públicas, como o venezuelano Nicolás Maduro chamando o candidato da oposição Henrique Capriles de “maricón”.

Temos aí o argumento ridículo de que, para se sobrepujar, é necessário desqualificar o antagonista.

Desde as entrelinhas de portais de notícias aos perfis do Facebook, impressiona como as pessoas levam a sério toda boa ação estatal. Como é irresponsável acreditar que tudo só parte da boa vontade de um líder e que só faltava alguém determinado a peitar as elites. Todas essas “melhorias” na educação são tão questionáveis como as suas consequências negativas.

(Estados inconsequentes são como adolescentes/crianças: apesar de terem grande potencial, são cheios de si, são naturalmente dependentes e não produzem. Se dependesse unicamente da vontade de Estados assistencialistas, todo o dinheiro público seria usado para comprar salgadinho e que se dane o dinheiro da perua ou a mensalidade da escola. Em escala maior, fazem exatamente isso e, de novo, com ou sem boas intenções.

De nada vale ter “consciência social”, fazer e acontecer e zás e zás, e defenestrar a economia do país no limbo.)

A esquerda ataca como se, para os liberais, a propriedade estivesse acima da vida e do bem-estar. Mas é óbvio que a imagem de uma pessoa que antes era miserável – e hoje trabalha e tem o que comer – é muito mais emocionante do que um portfolio de empresa ou o anúncio da entrada de capital estrangeiro. Mas nenhum esquerdista pergunta de onde saiu o dinheiro que caiu na mesa do pobre e seus impactos dessa arrecadação, tampouco as consequências sociais positivas com investimento econômico privado sério. O vermelho é uma cor que sabe chamar atenção.

É um cenário dual. Ou é preto ou é branco, não tem meio termo. A discordância é a nova alienação.

Toda besta útil merece um guia genial dos povos.

Recomendo o ceticismo para que se desconfie até daquilo que se ataca – recomendação arriscada essa, pois o vício pela imparcialidade, assim como a unanimidade e a estagnação, sempre traz problemas.

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