sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ensino: distância com a linguagem acadêmica



A efemeridade do final do século XX se evidencia fortemente pela consciência acerca de si, curiosamente em partes adquirida pela fácil obsolescência das inovações de um ontem recente. Este mundo – onde o novo se basta como argumento – se manifesta com tanta força que ele consegue ainda ser mantido, mesmo que o novo seja reinventado de hora em hora pelos homens. As gradações do que chamamos “apego” passaram não a ser questionadas, mas sim alteradas de prontidão, lançando mão desse paradigma de aparente e relativa cicatrização das mudanças.

Embora pareça ser de domínio tecnológico, esse novo paradigma barra o campo das relações humanas e emperra o fluxo da educação. Observa-se que, no campo comportamental, a ausência de “bom dia” é favorecida pelos fones de ouvido dos que disputam espaços de pé no ônibus. O isolamento literal das pessoas é a verdadeira eliminação do convívio diário de contrastes ideológicos em sua expressão mais rudimentar: a fala.

Por mais que o número de pessoas cresça, sua variedade estagna-se ou diminui quando se pensa sob o prisma da ausência de política e na presença de panfletos. Algumas facilidades tornam a multidão visivelmente pluralizada quanto às roupas; porém, no bojo da questão, vê-se que o modo de caminhar denuncia o quanto os indivíduos são sozinhos frente à tolerância ideológica de grupos distintos dos seus. A polidez, para uns, é sinônimo de etiqueta, prepotência, modos abastados; e a polícia muitas vezes é vista como corrupção e violência. Sendo verdadeiras ou não, essas impressões, unicamente captadas pela observação (esta abstraída de questionamentos), esvaziaram o sentido cunhado na origem desses vocábulos e suas funções de manutenção da polis. Os preconceitos contam com o respaldo de seus feudos ideológicos e se defendem nesses cercados fomentados pela inovação.

Se antes se lançava mão de um ensino elitista ou vorazmente contrário ao laico, hoje tais valores são ignorados pelos alunos e se rivalizam em suas carteiras estojos e celulares. A dinâmica do exterior da sala de aula é outra a ponto de o dispêndio de forças, ao estar sentado frente ao quadro-negro, reconstrua os pensamentos dos professores sobre as medidas a serem tomadas para conquistar a atenção dos alunos e convencimento da relevância do conteúdo lecionado na vida de cada um deles. É enorme o contraste entre o aprendizado e a apreensão de curiosidades de entretenimento instantâneo. O ritmo exigido do aluno para compreensão de métodos práticos, conteúdos ou conceitos pede a demora de uma digestão e não somente o ato de engolir. Contudo, barra-se na intenção do poder - em ter como finalidade o que há de mais prático.

Entre os desafios, depois de vãs tentativas de eliminação da hierarquia entre alunos e professores com base na sublimação do lúdico; depois, inclusive, da traiçoeira impressão de esperança por parte dos adultos em um mundo novo edificado pelos recém-chegados, tem-se ainda a adesão aos valores de inclusão da criança ao mundo “deserto”. Na vida cotidiana, as supostas ferramentas tecnológicas, já saturadas em sua função, há muito deixaram de ser meios para serem objetos finais. Aos poucos se implantam esses recursos na sala de aula e esta não se encontra como alguém que necessita de um transplante, mas sim como um hospedeiro. Não se trata de um ensino sendo debilitado somente na área das humanidades. Um professor de física ou de literatura precisa lançar mão de informações comuns de um profissional de sua área, embora, para lecionar, isso não baste. A experiência da interação entre alunos em um ambiente comum por horas a fio é algo que a tecnologia não pode proporcionar por webcams e conexão a cabo.

Este mundo, que teoricamente se constrói pela aparente pluralidade de pensamentos - no ponto de vista mais quantitativo que se possa dizer –, dissemina uma sincronia de impressões e anula o que poderia haver de verdadeiramente plural. A educação, em meio a isso, sofre influências do mundo ao passo que se confronta com sucessivos fracassos de novas tendências pedagógicas.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

As sugar and spice

"(...) um sorriso amigo que transbordou a cor da tela pra cima do que desbotou; as letras da página perderam parágrafo pra se segurarem juntas e não voarem, e serem lidas sem pausa pra fôlegos; e ainda por cima embaçou minhas lentes, e toda nitidez que tive saiu pra passear sem aviso."


Na noite desse dia, há um mês, comecei uma música nova quebrando a paleta de cores. Tudo diferente, é verdade. Atentei para os arranjos, aproveitei toda nitidez de antes, passei aguarrás na escala do violão; a Ju me ajudou muito com a tela e as cores e violei aquela moldura nova de madeira que preguei com argumentos pra mim mesmo.

Eu teria motivos pra interpretar esse dia como véspera de outra data, mas felizmente os tempos ventam em outro sentido. As pessoas têm seus papéis por um tempo determinado. Se esse tempo quer dizer pra sempre, que bom!

O que importa, acima de tudo, é que estamos (e estou) muito bem... E faz muito tempo que eu não me sinto assim. E isso se agrava ainda mais quando se pensa na bad trip pela qual eu passei. La tiniebla se dissipou faz tempo. De nada adianta clareza se for monocromática.

Isso tudo foi ao mesmo tempo em que tive aquela epifania que aos poucos tá me reconstruindo como um outro amigo, irmão, filho e namorado.

Continuo o mesmo desligado de sempre, mas não displicente. Talvez esteja mais desligado, por estar apaixonado... Desligado até mesmo dentro do que sinto. Todo bobo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Choro cauterizado

Fico muito triste quando vejo alguém passando por problemas, sofrendo somente suas próprias lágrimas, sem reflexão sobre sua dor - e, consequentemente, sem aprendizado posterior.

Sei que, apesar de refletir sempre sobre a minha dor, não tenho tido bom proveito disso, e muitas vezes me revoltei contra alguns dos meus mais sólidos ideais... Parece um autoflagelo moral, que em seguida chega a uma anestesia dessa humilhação que tanto tinha a me ensinar e me salvar.

No meio disso tudo, felizmente acontecem coisas simples e sinceras que me remonta, peça por peça, me dando nova estrutura para poder um dia compreender tudo de cada sofrimento meu.

Ainda, sei que eu não suportaria nenhum calvário no degrau em que me encontro. Minha luta de última hora só serviria para emoldurar o mártir que não sou e que sucumbe às aparências.

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Coroa

eu tiro o meu chapéu
pra toda pessoa que se opõe
luto véu de viúva, cabelos alvos
todos estão carecas de saber
que o tempo tira o fio da mente
visto a boina devagarinho
não me interessa se ela é coroa
procuro uma coroa de louro
mas infelizmente
resta a coroa de espinhos

terça-feira, 3 de novembro de 2009