sábado, 5 de janeiro de 2013

União Bolivariana

União das Repúblicas Socialistas Bolivarianas (URSB)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Uns papelotes, uns panfletos

A política é uma droga ilícita.

Cria dependência quando lida, pensada, escrita, militada. Causa repulsa em quem não as usa e as julga conhecer.

O consumo gera insatisfação e desconforto, principalmente após misturar realidade com utopia. Bastam alguns gramas e está rompida a fronteira entre o que é perceptível a todos e a sua mais recente versão de "óbvio".

Faz viver a ansiedade de dizer algo no palanque. Às vezes é no anonimato, atrás do poste cheirando cola com a cara cheia de pixels. Sempre há espaço para cometer amadorismos. Sempre. Na sua megalomania, a cegueira de escolher um lado te impede de notar que você já alcançou o extremo oposto daquilo que acredita, e passa a fazer exatamente aquilo que antes combatia.

Dá algum trabalho conseguir política no começo; depois que alguns amigos te indicam onde arranjar uns papelotes, uns panfletos, começa a ficar fácil. Sempre tem aquele livrinho de capa dura, um livreiro, um sebo, a nova edição aclamada pela crítica e execrada pela academia. Um documentário, aquele buffet com fundos da ONG ou do partido, é o pagodão na laje do fulano. Basta saber em que beco entrar e qual aviãozinho tem a fala mais mole pra conseguir mais com o dono da boca. Com a prática, você sabe quais colunistas frequentar, quais evitar e até quais blogs são dignos de atenção para conhecer as bestas úteis contrárias a sua ideologia.

Há as que te fazem relaxar (consoantes com o paradigma social) e as que te deixam freneticamente acelerado (oposição). Não importa qual, você tem que saber o próprio limite: depois de muitas carreiras cheiradas e pontas queimadas, você descola do real, perde família, emprego, religião, ainda que ideologicamente esses três pilares não te sejam proibidos. A maioria cai nessa. Uns poucos levam a prática a sério, pois percebem que ser usuário é o problema. Estes se tornam traficantes, com algum grande veículo de mídia para se expressar (ou expressar os outros) ou algum cargo público (tudo tem seu preço). Dentre eles, há uns bocas de ouro, os barões da coca, que são os arrivistas do poder travestidos de baluartes da democracia – são presidentes, senadores, ministros; tem quem diga que não se trata de política, pois ali a droga é tão lícita quanto o cigarro e a cachaça. Os mais perigosos são os produtores, acima dos feitores das plantações e dos carregadores; são os que criam ideologia escondidos atrás da mobília de seus escritórios, refinam a pasta da droga em almoxarifados, enriquecem urânio na gaveta, em formato A4, C4 ou TXT.

É gostoso curtir sozinho, mas alguns só vão para as festas após consumir um pouco de política. Desde os chazinhos de madames regados a bons costumes até as reuniões secretas de porão. Tudo é quimera, aspirantes a cracolândia com bandeiras e cadastros.

Criaram um debate sobre a legalização da política.

Dá ressaca, bad trip pesada. Quem para, sofre as consequências; vive a ambiguidade do arrependimento por já ter usado e a necessidade de ter mais. Há quem se arrependa do que escreveu, do que ainda pensa e do que já pensou. Os destemidos nunca se arrependem, pois jamais se permitem esses intervalos entre uma pílula ou outra.

O pior de tudo: há propaganda do governo te alertando sobre os males do seu uso.