segunda-feira, 26 de julho de 2010

Casa de câmbio

Depois de um certo tempo, resolvo me pronunciar.
Faz tempo que eu não divido nada com ninguém. E eu não tenho poupado ninguém de novidades ruins. Poupo das boas também. Meu pensamento segue assim.

Ok, vou pular as filosofias baratas, ahahha.

Passei os últimos meses pensando sobre a minha ausência do mundo. Sou naturalmente ausente, só que piora quando é intencional. Não é que eu não tenha aparecido pra ninguém, mas eu estive com objetivos tão firmes e dispersos que não me permiti novidades.

O tempo passa. Alguns compromissos acabaram, como previsto. Outras coisas que eu fazia aos poucos fui parando também aos poucos. A vontade continua a mesma, mas eu caí na rotina de trabalhar, cansar-se, distrair-se. A fórmula perfeita pra não fazer nada importante nas horas vagas. Afinal, as horas são vagas!

O jeito é criar pequenas metas e cumprindo aos poucos. Sonhar em poder criar metas do nosso velho amigo, o prazo longo. E meus momentos tristes pipocam quando penso nele.

As horas foram convertidas em renda e descanso. Vez ou outra eu me arrisco a pensá-las como bens futuros. A língua franca sempre foi a mesma; o que tem de diferente é a moeda de troca.

Vivo de notícias. Elas fazem parte de mim. Eu é que não estou nelas e isso não é um problema.

Assustei-me com o fato de não ter aprendido muita coisa.

Desenho, música, línguas; seja o que for, a minha marcha sempre foi aprender. Mesmo quando aprender uma segunda coisa signifique entortar e borrar a primeira, o que é bastante divertido. Preocupava no começo, mas sempre foi tão natural!
É devido a isso que tenho uma cisão inesperada. Por isso me assustei.

(No fundo, isso aqui não é muito diferente de twitter. A diferença é que eu deixo acumular as coisas e corto aquele papo de imediatismo que tomou conta de todas notícias. Um pouco de metafísica, três quartos de pronomes oblíquos, um litro de aufhebung, uma colher de chá de enjambement, salpicar um cadinho de erros eventuais. Com essa receita, tudo que é arroz e feijão soa como ovos e bacon).
Nada melhor do que escancarar o método e legitimar as bobagens, HAhahHA

Gostei disso. Foi uma experiência que alguns chamam de vazia. Bah! Eu considero ela bem plena, uma vez que não quero cair nisso no futuro, como tantos fazem. Já sou meio tigre escaldado.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

"Eu tive que ir embora mesmo querendo ficar"
Onde você mora, Cidade Negra



Uau, foi uma luta e tanto! Valeu muito a pena.
Atestado, desculpas, documento novo, juntar dinheiro, negociar com o calendário. Minha viagem a Santiago foi curta e muito boa. Só os preparativos já renderiam um episódio sozinho.

Foi muito bom quando fui conseguir meu atestado médico com o Carlos. Conversei bastante com a Tamara, minha prima e esposa dele; ela me atualizou muito. Pena que estava atrasado pra trabalhar e não deu pra fazer o mesmo com ele. O hilário foi eu pegar o atestado e já começar a apresentar os sintomas. Não sabia que eu era hipocondríaco ou podia chegar perto de me tornar um. Me faltou o emplastro do Brás Cubas. Ou um “São Brás”, pois não parei de tossir, além do nariz irritado com o tempo seco. Entre conseguir atestado médico e decolar pra fora do país, ainda tive que sofrer do psicossoma por fazer algo errado. Bem, se alguém do trabalho ler isso, já revelo os motivos de ter deixado todos na mão e adianto as desculpas. Sério. Apesar de tudo, fui compelido pela limitação de não poder viajar ou qualquer outra coisa em um trabalho que exige postura de jornalista, mas sem o salário deste. Mas repito: valeu muito a pena; recomendo a qualquer um. Não dói, não morde.



Pelo contrário. Alivia.

Saí mais cedo, já que a viagem era numa sexta-feira dia 9, feriado em São Paulo. Dormi no aeroporto, e depois de aparentes quarenta minutos de sono, olhava o relógio e só havia passado quinze. Quinze! E foi assim por umas três horas, oscilando até o máximo de vinte minutos. Bem, fui castigado com um atraso do voo de cinco horas. O que poderia dar um grande saldo de mortos e feridos resultou num cara com barbixa se acalmando com vitrines de lojas caras, um celular cheio de rock nacional e um livro sobre a Guerra do Paraguai.



Ouvir as pancadas do rock e ler tanto sangue foi dissipando e passando o tempo, até perceber que o voo estava próximo. Mesmo após raios-X, detectores de metais, trocando ideias com a policial na guarita e ignorando o freeshop, estava lá o índio com a camiseta vermelha do Che. A blusa ainda não era tão útil.

O Boeing 747 da LAN Aerolíneas, programado para sair do chão às 8h40, decolou às 13h30. Uhuuuu! Bem, chega uma hora que você nem reclama, de tão contente que fica por o avião sair logo. Pelo menos a Ju não me esperou no aeroporto de Santiago, já que tinha dado um pulo numa lan house e explicado a situação. Foi que foi. Uma delícia a decolagem. A vontade era que o avião pousasse e decolasse umas 10 vezes seguidas, até a criança aqui sossegar. E as asas, meu Deus! Elas balançam que nem carro alegórico de carnaval!

O fuso horário diminuiu a perda da minha sexta. Uma hora mais cedo lá. O trajeto foi gostoso, depois de encher a pança e beber uma taça de vinho, depois suco, suco e mais suco. Ou melhor, jugo. As comissárias falavam espanhol, então tive um estágio de 3h30 pra praticar o que eu ainda não sei - aquilo que espero aprender a partir do ano que vem.

Se pudesse ficar lá de seis a oito meses, com livros e aulas, teria aprendido o idioma só com o cotidiano e algum esforço.

O melhor dia, de longe, foi a segunda-feira, dia 12.

Esperava que minha viagem fosse muito diferente. Algumas coisas que vi eram exatamente como imaginei. Me surpreendi quando vi que “tudo era muito igual e o que muda é só o recheio”. A impressão era de que eu tinha todo o tempo do mundo, mas chegou nos últimos dois dias e eu já sentia algo que apontava a volta.

Lamentei por tudo ter gosto de despedida pra quem quer que me acompanhasse, que já estivesse lá. O ar de novidade ganhava outro sentido. Por isso, foi muito bom ter comigo pessoas que tinham acabado de chegar e iam embora logo, assim como eu. A volta do Amilkar de San Pedro de Atacama e a vinda da Ana de Governador Valadares deu um novo gás.



Por dois dias, o Chile foi uma casa. Por mais que eu pudesse sair por ali e tudo, preferi ficar junto da Ju. Se a gravação fosse em outros dois dias que eu estivesse por lá, talvez eu teria aproveitado mais; só que a saudade era muita, e como ela estava ocupada, não tinha como corresponder como queríamos. Foi muito bom pois foram os dias em que mais tive contato com chilenos.



Eu me apaixonei pela forma que os chilenos tratam La Roja, sua seleção. O carinho é enorme e não é tão encardido de cobranças, como somos com nossas estrelas e técnico. Pelo menos tinha a final da Copa, e deu Espanha por 1 a 0 em cima da Holanda, com gol de Iniesta! Engraçado; mesmo que o volume estivesse baixo, eu sabia que os comentários eram do Zamorano.



Seis dias por lá era pouco tempo. Mas eu sabia que assim que chegasse em São Paulo aquele tempo seria muito. Minha ausência do mundo ao qual eu pertenço era uma fenda na rotina, um paradoxo. A quebra de realidade foi brusca, por mais que tivesse nutrido meses e meses de expectativa e preparo. De qualquer maneira, eu fiz o favor de esquecer São Paulo no durante. Esqueci. Só assim pude me assustar constantemente com os Andes entre os prédios, observar a fala dos chilenos e me esforçar em uma língua que sei tão pouco.



Percebemos o quão longe estamos de casa quando olhamos um horizonte totalmente desconhecido. Não eram as torres da Av. Paulista, o brilho dos prédios na Marginal Pinheiros, a Ilha de Urubuqueçaba, os navios saindo do porto ou a orla do Itararé. Era muito sorvete de abacaxi. Aconcágua. Lagos azuis. E de cima fica lindo demais. Os Andes te vencem tanto ao te cercar quanto ao estarem deitados abaixo do teu avião. Não pisei lá, não vi neve muito de perto, assim como não vi o Pacífico de Viña del Mar ou Valparaíso. Ainda assim, vale a pena.

Fiquei contente com o mundo que os chilenos vivem na metrópole. As casas baixas da calle Maipú; as pichações em protesto; as placas de trânsito estranhas; o sinal dos pedestres, que pisca verde antes de fechar; a faixa na rua, com apenas duas tarjas brancas; os carros populares da Mini, Renault, Peugeot, Toyota e Nissan; os instrumentos andinos, como o charango e a zampoña; os sabores das comidas, como os lanches com abacate (palta), cuchuflies, Super 8, pepino doce, chorillana, sopaipilla com muita pimenta no río Mapocho, La Piojera e os terremotos; a placa confusa das estações do metrô e a cara das crianças prestando atenção no meu português.





Esses são detalhes bem superficiais, mas conquistam, sabe? É o “recheio”. Por outro lado, as pessoas que vi no El Punto, a residência universitária que conheci, eram amigos pra vida toda. Hoje, sem querer, eu me encontro dividido entre conhecê-los um pouco ou simplesmente deixar como é. algo me lembra como tenho pessoas especiais por perto, e me avisa como eu já não consigo dar conta de todos. Mas amigos não são coisas; são amigos. Sinto falta da amizade desses, já que não são exatamente isso. Não seria estranho se não fosse perto de grandes despedidas deles. Isso deu um tom maravilhoso ao lugar.

Vuelo y vuelvo. E mudei de santo.

No final, foi como sair da sala de cinema e aguardar a possibilidade remota de um lançamento, de alguma continuação. Enfrentar a fila da Policía de Investigaciones de Chile, subir no avião e não estar mais na janela; perde um pouco da cor. Parada em Assunção, Paraguai, alguns risos sozinhos, muito divertido. Ah, e muito cansaço. Quando vi a chuva no aeroporto de Guarulhos, o charango em a capinha colorida de aguayo, esperando uma hora pela minha bagagem, não restou muito o que fazer. O retorno foi de um amargo de cheiro azedo. Senti que ainda teria uns tempos sem cor.



Juro que não depositei minha felicidade em ninguém, sabe, de forma a depender de alguma pessoa pra eu estar total. Pelo menos não intencionalmente. Só que está assim. Mesmo tendo passado por uma semana ansiosa com a viagem, e mais uma semana lá dormindo tarde e acordando cedo, não estava cansado mentalmente pra apagar ali, na minha cama, de volta a São Paulo. Revirei todas memórias que tinha de lá para só assim ouvir um “dorme, neném” imaginário. Mais uma vez, me senti criança, todo risonho por ter passado um dia com meus brinquedos preferidos, cheio de doce. Já tinha aprontado bastante pra quem não podia. Era o finalzinho da quarta-feira, dia 14.



E o dia seguinte era batente!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

brasil Fora


não acredito no que eu vi