quarta-feira, 27 de maio de 2009

Duzentos reais

Certa vez, conversando, eu soube que podemos ser felizes com duzentos reais.

Eu lembro de “como não fui ministro de Estado”. Meu medo é não ser feliz com as apostas que fiz, com os meus investimentos. Nenhuma taxa é por acaso; o bom sucesso depende das circunstâncias, e não só do esforço. Depende da paciência. E deposito muito, demais da conta. A corrente prende bem, até que eu consiga desvendar a senha, aprender o pulo do gato sem que ninguém me ensine ou me leve pela mão.

Às vezes não parece, mas sou uma criança que ora fala bonito e tem boa caligrafia, ora tem medo de encarar um estranho na rua e fingir coragem.

Parte de mim diz que devo seguir, mas necessito de empurrões. Já disse isso aqui noutro dia e torno a repetir. Falta-me ímpeto, e meus amigos dão os petelecos que me levam pra frente. Não parte de mim.

Falta configurar para que os débitos não sejam automáticos.
Eu sinto que, para isso, eu preciso me soltar de alguns valores que todo mundo segue. E eu ia ter que pagar o preço por estar no meio do nada.

Uma casa no interior, longe da bagunça, longe dessa nuvem escura que inviabiliza qualquer sinal de fumaça, foco de incêndio ou churrasco. Bem afastado da área de cobertura.

E preciso beber água pra diminuir a acidez. Minhas meias ficam molhadas com a chuva porque todos os meus sapatos estão furados. Eventualmente, entra pedra. Só aquelas que eu não chuto.

Santiago

Antes de mais nada, eu digo: tenho vinte e quatro anos. De acordo com os meus planos, eu demoraria no máximo cinco anos para terminar a faculdade, sendo que no terceiro ano começaria a fazer minha pesquisa de iniciação científica sobre literatura de mercado, e no meio do quarto eu estaria trabalhando com algo fora da academia. Poderia ser algo burocrático, sem problemas; até porque, já me conhecendo, eu conseguiria chegar em casa depois de um dia de trabalho intelectual pesado e ler um livro que eu goste. Um ganha-pão repetitivo me ajudaria a continuar com o meu dia-a-dia musical e literário sem saturação.

E, assim que me sentisse seguro neste emprego, com um tempo de casa e umas boas economias, eu estaria seguro também para casar. Não tenho preocupações acerca da união religiosa. O matrimônio civil me basta, por aquilo que acredito. Claro que gosto de celebrações, e a contrário do que penso de aniversários, o casamento merece uma boa festa para reunir família e amigos dos dois.

Dois! Penso em dois filhos. Primeiro uma menina, talvez. Um menino não muito depois. Vou dar a eles todo o amor, cuidado e educação que me foi dado!

A sujeira da fralda, a mensalidade de algum curso, os problemas das prestações, o tempo no final de semana, a louça na pia, os passeios, o cansaço do fim do dia; anseio por tudo isso.
Sério.

Eu quero dividir a cama com a pessoa que amo. Manter os planos firmes, tendo em mente que eles são parâmetros, e não objetivos que se devem ser seguidos à risca. Quero o vidro do meu perfume rivalizando o espaço da prateleira com cremes que nunca usarei. E tirar os cabelos do ralo.
E o beijo de língua não pode sair da rotina.

Deus me livre de perder esses planos.