sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Black Tie Circus



In a bunch of dozen morons,
according to the vice and flow,
I move on, move along,
getting high - or low
Lost causes, all alone
So I walk amoung'em
I do not move
'cause I know I'll lose
So, I don't disturb the show

I need to learn about it
Earn what I deserve to earn
Here's the place with
no use for the will.
Voting outlaw lovers
Landslide victory
Love under will, will over love
It's all about pretending rights

Geez, what a heck!
I have to agree with the paradox,
high taxes & paychecks
Hell messes it up and creates
No experience nor practices
God save the tied necks

I'll deny the struggling
and yell to exhale
all the slur stucked in white pale
sayin' Hail and Amen.
Coats walking through the crowd.
Step after step,
sitting over the couch:
- Self exile.
Ouch, I'm out, I'm out.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Miopia política



Andei relendo os textos daqui e percebi que fazia tempo que não fazia demagogia. O que dizer das notícias de hoje?

Bem, como todos sabem (ou talvez não saibam), acabamos de passar por um período muito prazeiroso. As Eleições de 2010 mais uma vez nos proporcionaram malabares e improvisos. Enquanto dentro do picadeiro ensaiamos intervalos políticos e muitos suspiram por mudanças, lá fora falam de nós como um país tipicamente tradicional. O mais tradicional dentre os tradicionais. Os gringos não vêem qualquer sinal de ruptura aqui. E dizem que o Brasil pode mais para seguir mudando.

Dilma Rousseff obteve êxito com todo respaldo dos partidos da situação. Votar nela seria concordar com o governo pífio que os oito anos de Lula nos deu. "Ah, mas melhorou"; depois de FHC, qualquer coisa melhora. Já que o que impera é a obsessão econômica, com economistas ocupando as mais sortidas pastas, por que não resolvemos esse problema? Se a preocupação de Lula fosse além do assistencialismo, ele e seus asseclas teriam traçado um planejamento para mudar o perfil econômico do país, mudando, por exemplo, a realidade da taxa Selic - aliando isso à prosperidade de que tanto se fala. Mas não, fizemos o que sabemos fazer melhor: a arte da manutenção, tayloriana ou fordiana.
O que dizer dessa mulher? Não sei, não conheço. Pois é, caí na propaganda do vampiro.

José Serra, que para mim é um excelente candidato e péssimo político - uma vez que se expressa muito bem e fez a lição de casa com a Retórica de Aristóteles -, fez algo inédito. Resolveu também ser péssimo como candidato. Jogando a toalha, cercou tantos por cento dos brasileiros com uma campanha suja de pó de arroz e botox. Para ganhar aplausos, recorreu aos números mentirosos da Segurança Pública paulista, inventou algo sobre sustentabilidade, pediu holofotes ignorando o Luz para Todos e pediu voto pra pretendentes de mulheres bonitas.
Sua campanha foi um papelzinho.

Se quer vou mencionar o que acho sobre aqueles que apoiaram a presidente eleita como forma de discordar de José Serra. Vermelhices gratuitas? A vocês, meu silêncio eloquente.

A miopia parece ser ainda maior em âmbito estadual.

Hoje soube que o futuro governador Geraldo Alckmin extinguirá a Secretaria de Ensino Superior. Oremos.

Vamos também com um sarcástico pai-nosso para cada ano de progressão continuada das criancinhas paulistas.

Admitir que muito da política se faz passo a passo é prudente. Contudo, não podemos ignorar o fato de que 15 anos se passaram em São Paulo e oscilamos apenas na margem do previsível.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Bending pages

Long nails.
Overcoming soon
After the moon
the sun you'll see
Standard ways approached
No one noticed the patterns
No one - but me.

The roads heads onto a parenthesis
Two dots moving willing

B-Side jam, dead end man
It's just weeping
while the pain vanishes
while I pack sixteen strings
I keep on standing this lack
of bending pages.

Hereafter, the rift between
the next chapter
or the next song

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eclesiastes 3:1-8

א לכל זמן ועת לכל חפץ תחת השמים {פ}
ב עת ללדת ועת למות עת לטעת ועת לעקור נטוע
ג עת להרוג ועת לרפוא עת לפרוץ ועת לבנות
ד עת לבכות ועת לשחוק עת ספוד ועת רקוד
ה עת להשליך אבנים ועת כנוס אבנים עת לחבוק ועת לרחק מחבק
ו עת לבקש ועת לאבד עת לשמור ועת להשליך
ז עת לקרוע ועת לתפור עת לחשות ועת לדבר
ח עת לאהב ועת לשנא עת מלחמה ועת שלום {פ}

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz."

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Half man

Meu dia tá uma bosta. Estava feliz por fazer tempo que não caía, mesmo que estivesse me segurando o tempo todo, mas não teve jeito. Pelo menos hoje. Sinto saudade do que já fui e não gosto do absurdo que me tornei, do que faço, do que escondo e sofro. Por isso, ao invés de me agarrar àquilo que deveria, vou correndo para o mais supérfluo, repetindo inclusive seu método.

Talvez seja a primeira vez que não vou crescer após o fim de um relacionamento, já que não vou fazer cagada declarada como da última vez, e mesmo se fizesse quase ninguém estaria aqui para reprovar, tirando meus prezados gatos pingados com quem ainda tenho contato.

Continuo subindo e descendo escadas do humor. Quem estiver por perto, infelizmente, precisa aguentar trocentas vezes as minhas demonstrações de personalismo.

Hoje vou pra casa. Tinha vontade de me rastejar e ouvir o fracasso certo.

Nunca me senti tão descartável como me sinto, e tenho me empenhado para que esse sentimento não seja predominante. Por fortuna, nada do que vocês ou qualquer pessoa faça pode recuperar isso. Só o tempo e é isso aí.

Nunca pedi isso, mas imagens de como eu era pleno reprisam na minha frente. Não preciso revisitar essas memórias, já que são mais vivas do que merecem ser. Elas existem simplesmente em respeito ao passado, ou seja, pelo mesmo motivo que ainda guardo o Livro de Aventuras.

Hoje, nada vence eu acordar no meio da madrugada com a impressão de que estou sendo observado, abrir meus olhos e perceber que estava certo. Ouvir um “eu te amo” dela naqueles tempos era muito forte, e aprendi a dar ainda mais valor a isso. Prefiro dormir um sono pesado e sem sonhos, para acordar, não estudar (pois não consigo mais, já tentei muitas vezes) e vir pro trabalho.

As viagens tomaram rumos inesperados, como foi dito naquele horóscopo do dia 26 do mês passado. Em breve, completo um mês nessa condição, perdi meu apetite pela normalidade e criei uma rotina irresponsável, que conta com o respaldo de todos ao redor.

Sim, sou metade do homem que eu costumava ser.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mba'e poxy

A'e ambyasy. Abá ogûatá akûeî okype. Akûeîa, abá okaru.


A tormenta era um prumo desgovernado. Sorria depois de piscar pesado diante do próprio reflexo na janela do metrô. No túnel, o barulho do atrito do trilho rasurava qualquer pensamento. Era uma espátula raspando o canal do ouvido. Ainda assim, teimava na acidez do dia. Muito seco, finalmente choveu, ainda que não estivesse frio o bastante; não havia comido o suficiente; o dinheiro já era curto na primeira semana do mês.

Agosto parecia não ter fim. O calendário dizia outra coisa.

Depois de horas sentado e relaxado, naquilo que poderia ser um dos dias mais amargos, animava quem estivesse por perto com as próprias palhaçadas. Aliás, a iminência do pior passou, e seu fedidinho ainda ficava no ar. Mas tinha fome e prometia vingança. Parada obrigatória no primeiro mercado no caminho de volta para casa e ataque aos hambúrgueres e queijos. Pão já tinha em casa. Pagamento no crédito, já que só restavam trocados para os próximos dias.

Ônibus rápido na ponte livre, uns homens se vendendo como mulher na sombra, perto da rotatória.

De algum lugar ali perto, vagava o preto. Cambaleambulante, queria quatro pedras na mão. Uma garrafa de cerveja quente pela metade, era tudo que tinha. No fundo, quanto mais melanina asfaltava seus poros, mais sensível era a palavras sobre a negrice. Podia ser o vazamento da British Petroleum ou recapeamento de vias. Não importava; era tudo preto, podiam estar falando sobre ele.

Se fosse dia, só diriam que era mais um imigrante que fazia mestrado ali.

Tinha tanta raiva que sentia poder deitar um.
Passou na primeira cozinha do bloco que viu. Era aquele mesmo. Mas não era ninguém, era só uma sombra da janela. Foi pra outra, e outra, e nada; semana da pátria de um país estranho, todos iam ver suas famílias e muitos apartamentos vazios. Sombras, vultos; não pessoas. Perguntava para si que caminho pegar, e a garrafa respondia que estava quase lá. O preto finalmente encontrou. Queria um, tinha dois; não havia problema se sobrasse troco.

Duas silhuetas do vídeo formavam um contorno no azulejo. Numa cozinha, comia mais hambúrgueres. Ela também comia, com guaraná e assistindo um enlatado no laptop. Depois de lavar a frigideira, duas canecas na mesa e a luz apagada, mais um episódio.

A tela em suspense e momento tenso interrompido. Um homem de cabeça raspada ou careca, estatura média, bem negro, deposita sutilmente a garrafa sobre a mesa e tira o casaco. Sobe num dos bancos, se desequilibra e parte pra cima.

O preto flertava com a vertigem. Era forte o bastante para dar a certeza de que, se estivesse sóbrio, dividiria os dois em quatro.

Nenhum dos três lembrando direito. Imobilizados, chamando os guardas, nada grave.

Uma e meia da madrugada e longos minutos de reflexão.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ybyrápûera

Finais de semana em São Paulo são raros pra mim. Já tive umas poucas noites de sexta-feira ou de sábado, mas sempre seguida ou antecipada por uma hora de estrada na Serra do Mar. Desta vez, completei a mão: cinco finais de semana passados na capital. Parece pouco, mas para quem precisa sempre estar no litoral, é bastante. Não é à toa que minhas amizades de S.Paulo vão até certo ponto, pois não passei tempo bastante com eles. É uma pena, pois são pessoas para a vida inteira, mas sem convívio não há muitos elos.

Às vezes, tiro férias de mim mesmo. Nesses tempos, um bom pretexto (que confunde causa e efeito) é o trabalho. Antes, era a faculdade. Agora, no meio pro final do ano, é uma mistura dos dois.

O Amilkar me ligou na manhã de sábado, que eu já sabia que poderia passar em São Paulo. Não voltaria para Santos sabendo que voltaria a trabalhar na manhã de domingo. Farei isso no próximo final de semana, pois tenho meu compromisso, mas isso não vem ao caso agora. Podia passar o tempo em casa, só que eu já faria isso quando voltasse de um possível passeio. Então, me animei e fui até o Parque Ibirapuera.

É ótimo conhecer pessoas nesses tempos, por mais que seja difícil manter contato por distância em quilômetros ou agendas.

E sim, sou fluente em linguística!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

The Lorenzetti's Pleonasm



Faz mais de um ano que assisto filmes inteiros. Nunca pensei que fosse sentir tanta falta de interrupções.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Estrutura da bolha de sabão

Boa noite a todos.

Hoje foi um dia como todos os outros. Não posso negar tudo que me foi cedido e concebido.
Mesmo assim, não posso com isso.

Tenho andado angustiado o bastante para esquecer o que tenho acumulado de melhor, o que tenho feito pelos outros e por mim. Tornar-se alguém melhor é algo espontâneo e inconsciente; descobri que posso ter sucesso com isso. O problema está em quando qualquer ponto ruim oprime todos os bons.

Era algo que sentia antes, um temor pelo que vem de fora sem saber do seu formato, do seu caminho, do seu jeito. Depois de ontem, tenho medo de que não sintam por mim aquilo que deposito em troca com tanto amor e carinho.

Não é que eu escolha os lugares errados para deixar um pouco de mim. Porém, lamento toda vez que os lugares certos se põem em dúvida, quando as vigas já não são tão firmes e percebo que estou sobre a estrutura da bolha de sabão.

Isso faz com que eu não tenha certeza sobre mais nada que venha de fora. Mas tenho certeza do que já veio, do quão sincero já foi, assim como o que senti e ainda sinto por aqueles que amo. Amor, assim; é, esse mesmo, o amor.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A roda não morreu

Madrugada de sábado para domingo e eu ia acordar às sete para trabalhar doze horas seguidas no dia seguinte. O que fazer? Vamos lá.

Você está cansado, não dormiu direito. Aliás, faz dias que não consegue dormir direito. Mesmo assim, funciona muito bem durante o dia, mesmo que tenha gente que associe o seu jeito normal de ser às suas horas de sono. E tu sabe que alguns chicletes e um copo só de café dão conta do olho pesado.

Já foi pro samba? Samba? Nunca fui. Depois de algumas barreiras quebradas, muito depois de descobrir que samba não era pagode, eu passei a ouvir coisas fora do gosto da faculdade. Só quando cheguei no Fundo de Quintal eu fiquei satisfeito, pois tava ouvindo ali algo bem próximo do povão. Claro que não era o disco num churrasco e nem um k7 no toca-fitas de um Monza, pois sobre isso eu não tenho mais controle. O jeito é mudar a sigla e partir pro mp3. Já cansava de ouvir falar do Chico Buarque e João Gilberto - gosto muito deles. Por mais a favor da mistura que eu seja, no fundo, concordo com o Paulinho da Viola:


Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim


Ok, "Volta da Sorte" é muito boa, assim como a muito mais antiga "Samba do Arnesto". E os sambistas que se lançaram nesta década que está acabando? Não, não envenenaram o cavaco, e isso não é esquecer que o tempo passa. Não é preciosismo. A roda morreu? Os caras compõem muito bem, sim, muitas vezes sinto ali algo que sobrou do choro e cia que já ouvi falar, música ou outra e não conheço mesmo.

Onde eu estava mesmo? Ah sim, madrugada e trabalho no dia seguinte. Pois é. A primeira vez que assisto a um show na Rua Augusta, do lado do Studio SP, e é um show de samba. Estreia dupla pra mim. Não sei me soltar e no meio de todo mundo não sinto falta disso.

Não parece ser só um nome de remédio. Talvez seja mesmo uma cura, pois o dia seguinte fiquei com o samba batendo. Daquela vez não teve surdo ou bumbo. O negócio era labuta e batente.

E tava feliz ali, com certeza.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sexta-feira 13

"O que se vê não se via
O que se crê não se cria"
Medo, Titãs

Não acredito em nada disso. Mas é divertido.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Casa de câmbio

Depois de um certo tempo, resolvo me pronunciar.
Faz tempo que eu não divido nada com ninguém. E eu não tenho poupado ninguém de novidades ruins. Poupo das boas também. Meu pensamento segue assim.

Ok, vou pular as filosofias baratas, ahahha.

Passei os últimos meses pensando sobre a minha ausência do mundo. Sou naturalmente ausente, só que piora quando é intencional. Não é que eu não tenha aparecido pra ninguém, mas eu estive com objetivos tão firmes e dispersos que não me permiti novidades.

O tempo passa. Alguns compromissos acabaram, como previsto. Outras coisas que eu fazia aos poucos fui parando também aos poucos. A vontade continua a mesma, mas eu caí na rotina de trabalhar, cansar-se, distrair-se. A fórmula perfeita pra não fazer nada importante nas horas vagas. Afinal, as horas são vagas!

O jeito é criar pequenas metas e cumprindo aos poucos. Sonhar em poder criar metas do nosso velho amigo, o prazo longo. E meus momentos tristes pipocam quando penso nele.

As horas foram convertidas em renda e descanso. Vez ou outra eu me arrisco a pensá-las como bens futuros. A língua franca sempre foi a mesma; o que tem de diferente é a moeda de troca.

Vivo de notícias. Elas fazem parte de mim. Eu é que não estou nelas e isso não é um problema.

Assustei-me com o fato de não ter aprendido muita coisa.

Desenho, música, línguas; seja o que for, a minha marcha sempre foi aprender. Mesmo quando aprender uma segunda coisa signifique entortar e borrar a primeira, o que é bastante divertido. Preocupava no começo, mas sempre foi tão natural!
É devido a isso que tenho uma cisão inesperada. Por isso me assustei.

(No fundo, isso aqui não é muito diferente de twitter. A diferença é que eu deixo acumular as coisas e corto aquele papo de imediatismo que tomou conta de todas notícias. Um pouco de metafísica, três quartos de pronomes oblíquos, um litro de aufhebung, uma colher de chá de enjambement, salpicar um cadinho de erros eventuais. Com essa receita, tudo que é arroz e feijão soa como ovos e bacon).
Nada melhor do que escancarar o método e legitimar as bobagens, HAhahHA

Gostei disso. Foi uma experiência que alguns chamam de vazia. Bah! Eu considero ela bem plena, uma vez que não quero cair nisso no futuro, como tantos fazem. Já sou meio tigre escaldado.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

"Eu tive que ir embora mesmo querendo ficar"
Onde você mora, Cidade Negra



Uau, foi uma luta e tanto! Valeu muito a pena.
Atestado, desculpas, documento novo, juntar dinheiro, negociar com o calendário. Minha viagem a Santiago foi curta e muito boa. Só os preparativos já renderiam um episódio sozinho.

Foi muito bom quando fui conseguir meu atestado médico com o Carlos. Conversei bastante com a Tamara, minha prima e esposa dele; ela me atualizou muito. Pena que estava atrasado pra trabalhar e não deu pra fazer o mesmo com ele. O hilário foi eu pegar o atestado e já começar a apresentar os sintomas. Não sabia que eu era hipocondríaco ou podia chegar perto de me tornar um. Me faltou o emplastro do Brás Cubas. Ou um “São Brás”, pois não parei de tossir, além do nariz irritado com o tempo seco. Entre conseguir atestado médico e decolar pra fora do país, ainda tive que sofrer do psicossoma por fazer algo errado. Bem, se alguém do trabalho ler isso, já revelo os motivos de ter deixado todos na mão e adianto as desculpas. Sério. Apesar de tudo, fui compelido pela limitação de não poder viajar ou qualquer outra coisa em um trabalho que exige postura de jornalista, mas sem o salário deste. Mas repito: valeu muito a pena; recomendo a qualquer um. Não dói, não morde.



Pelo contrário. Alivia.

Saí mais cedo, já que a viagem era numa sexta-feira dia 9, feriado em São Paulo. Dormi no aeroporto, e depois de aparentes quarenta minutos de sono, olhava o relógio e só havia passado quinze. Quinze! E foi assim por umas três horas, oscilando até o máximo de vinte minutos. Bem, fui castigado com um atraso do voo de cinco horas. O que poderia dar um grande saldo de mortos e feridos resultou num cara com barbixa se acalmando com vitrines de lojas caras, um celular cheio de rock nacional e um livro sobre a Guerra do Paraguai.



Ouvir as pancadas do rock e ler tanto sangue foi dissipando e passando o tempo, até perceber que o voo estava próximo. Mesmo após raios-X, detectores de metais, trocando ideias com a policial na guarita e ignorando o freeshop, estava lá o índio com a camiseta vermelha do Che. A blusa ainda não era tão útil.

O Boeing 747 da LAN Aerolíneas, programado para sair do chão às 8h40, decolou às 13h30. Uhuuuu! Bem, chega uma hora que você nem reclama, de tão contente que fica por o avião sair logo. Pelo menos a Ju não me esperou no aeroporto de Santiago, já que tinha dado um pulo numa lan house e explicado a situação. Foi que foi. Uma delícia a decolagem. A vontade era que o avião pousasse e decolasse umas 10 vezes seguidas, até a criança aqui sossegar. E as asas, meu Deus! Elas balançam que nem carro alegórico de carnaval!

O fuso horário diminuiu a perda da minha sexta. Uma hora mais cedo lá. O trajeto foi gostoso, depois de encher a pança e beber uma taça de vinho, depois suco, suco e mais suco. Ou melhor, jugo. As comissárias falavam espanhol, então tive um estágio de 3h30 pra praticar o que eu ainda não sei - aquilo que espero aprender a partir do ano que vem.

Se pudesse ficar lá de seis a oito meses, com livros e aulas, teria aprendido o idioma só com o cotidiano e algum esforço.

O melhor dia, de longe, foi a segunda-feira, dia 12.

Esperava que minha viagem fosse muito diferente. Algumas coisas que vi eram exatamente como imaginei. Me surpreendi quando vi que “tudo era muito igual e o que muda é só o recheio”. A impressão era de que eu tinha todo o tempo do mundo, mas chegou nos últimos dois dias e eu já sentia algo que apontava a volta.

Lamentei por tudo ter gosto de despedida pra quem quer que me acompanhasse, que já estivesse lá. O ar de novidade ganhava outro sentido. Por isso, foi muito bom ter comigo pessoas que tinham acabado de chegar e iam embora logo, assim como eu. A volta do Amilkar de San Pedro de Atacama e a vinda da Ana de Governador Valadares deu um novo gás.



Por dois dias, o Chile foi uma casa. Por mais que eu pudesse sair por ali e tudo, preferi ficar junto da Ju. Se a gravação fosse em outros dois dias que eu estivesse por lá, talvez eu teria aproveitado mais; só que a saudade era muita, e como ela estava ocupada, não tinha como corresponder como queríamos. Foi muito bom pois foram os dias em que mais tive contato com chilenos.



Eu me apaixonei pela forma que os chilenos tratam La Roja, sua seleção. O carinho é enorme e não é tão encardido de cobranças, como somos com nossas estrelas e técnico. Pelo menos tinha a final da Copa, e deu Espanha por 1 a 0 em cima da Holanda, com gol de Iniesta! Engraçado; mesmo que o volume estivesse baixo, eu sabia que os comentários eram do Zamorano.



Seis dias por lá era pouco tempo. Mas eu sabia que assim que chegasse em São Paulo aquele tempo seria muito. Minha ausência do mundo ao qual eu pertenço era uma fenda na rotina, um paradoxo. A quebra de realidade foi brusca, por mais que tivesse nutrido meses e meses de expectativa e preparo. De qualquer maneira, eu fiz o favor de esquecer São Paulo no durante. Esqueci. Só assim pude me assustar constantemente com os Andes entre os prédios, observar a fala dos chilenos e me esforçar em uma língua que sei tão pouco.



Percebemos o quão longe estamos de casa quando olhamos um horizonte totalmente desconhecido. Não eram as torres da Av. Paulista, o brilho dos prédios na Marginal Pinheiros, a Ilha de Urubuqueçaba, os navios saindo do porto ou a orla do Itararé. Era muito sorvete de abacaxi. Aconcágua. Lagos azuis. E de cima fica lindo demais. Os Andes te vencem tanto ao te cercar quanto ao estarem deitados abaixo do teu avião. Não pisei lá, não vi neve muito de perto, assim como não vi o Pacífico de Viña del Mar ou Valparaíso. Ainda assim, vale a pena.

Fiquei contente com o mundo que os chilenos vivem na metrópole. As casas baixas da calle Maipú; as pichações em protesto; as placas de trânsito estranhas; o sinal dos pedestres, que pisca verde antes de fechar; a faixa na rua, com apenas duas tarjas brancas; os carros populares da Mini, Renault, Peugeot, Toyota e Nissan; os instrumentos andinos, como o charango e a zampoña; os sabores das comidas, como os lanches com abacate (palta), cuchuflies, Super 8, pepino doce, chorillana, sopaipilla com muita pimenta no río Mapocho, La Piojera e os terremotos; a placa confusa das estações do metrô e a cara das crianças prestando atenção no meu português.





Esses são detalhes bem superficiais, mas conquistam, sabe? É o “recheio”. Por outro lado, as pessoas que vi no El Punto, a residência universitária que conheci, eram amigos pra vida toda. Hoje, sem querer, eu me encontro dividido entre conhecê-los um pouco ou simplesmente deixar como é. algo me lembra como tenho pessoas especiais por perto, e me avisa como eu já não consigo dar conta de todos. Mas amigos não são coisas; são amigos. Sinto falta da amizade desses, já que não são exatamente isso. Não seria estranho se não fosse perto de grandes despedidas deles. Isso deu um tom maravilhoso ao lugar.

Vuelo y vuelvo. E mudei de santo.

No final, foi como sair da sala de cinema e aguardar a possibilidade remota de um lançamento, de alguma continuação. Enfrentar a fila da Policía de Investigaciones de Chile, subir no avião e não estar mais na janela; perde um pouco da cor. Parada em Assunção, Paraguai, alguns risos sozinhos, muito divertido. Ah, e muito cansaço. Quando vi a chuva no aeroporto de Guarulhos, o charango em a capinha colorida de aguayo, esperando uma hora pela minha bagagem, não restou muito o que fazer. O retorno foi de um amargo de cheiro azedo. Senti que ainda teria uns tempos sem cor.



Juro que não depositei minha felicidade em ninguém, sabe, de forma a depender de alguma pessoa pra eu estar total. Pelo menos não intencionalmente. Só que está assim. Mesmo tendo passado por uma semana ansiosa com a viagem, e mais uma semana lá dormindo tarde e acordando cedo, não estava cansado mentalmente pra apagar ali, na minha cama, de volta a São Paulo. Revirei todas memórias que tinha de lá para só assim ouvir um “dorme, neném” imaginário. Mais uma vez, me senti criança, todo risonho por ter passado um dia com meus brinquedos preferidos, cheio de doce. Já tinha aprontado bastante pra quem não podia. Era o finalzinho da quarta-feira, dia 14.



E o dia seguinte era batente!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

brasil Fora


não acredito no que eu vi

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Estacionamento

A estagnação é um risco ao qual estou sujeito sempre que baixo minha guarda. E, por incrível que pareça, quanto mais eu me punha acomodado e estacionado, mais a espiritualidade dava suas caras. Ainda hoje eu me impressiono com o amparo que recebo, ainda quando não oro nem vigio.

Por fortuna, me descobrir tem sido uma busca sem fim, e caminhar para o mal é algo possível desde que eu caia pelas minhas próprias mãos, me deixando levar pelas ressalvas e entrelinhas do mundo. Nunca vou piorar - a estagnação por si só já é muito -, pois retrocesso não existe naquilo que creio; acredito que, se me torno mau, é porque o mal já habitava em mim de forma adormecida, latente, esperando o estímulo certo no momento adequado. Se eu vigiar meus passos, isso se torna bem difícil de acontecer

Madeleine & Nakashima

Vocês não tem noção como essas coisas me dão nos nervos.
É óbvio que é necessário investigar e resolver a arenga. Porém, desconfio demais quando algo ganha a mídia e a pressão sobre a autoridade. É muita mobilização de bombeiro e polícia quando se trata de gente de status.

É mergulhador, guindaste, livros lançados sobre o assunto... raios!

Fico louco quando não vejo o mesmo tratamento em ocorrências menores, com quaisquer outras pessoas.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Tem que falar

Sentados à mesa, regados a queijo e vinho, eu disse que tem que falar.
Foi nesse dia que nasceu o nome desta página.

Não vejo problema algum em reconhecer que alguém é bonito ou não.

A contrário do que se pensa disso, não dou tanta importância quanto parece. Aliás, é justamente por não dar importância que trato isso com naturalidade. O problema é que muita gente escreve parecer com s.

Pior - ou melhor, depende do ponto de vista -; eu não me importo de achar isso de homens. Ok, eu mijo de pé e não gosto da fruta, mas isso não me impede de reconhecer um homem bonito.

Mesmo achando tudo isso, se eu estiver num grupo ou ambiente em que essa minha opinião é estritamente oposta, eu a guardo comigo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Movimento e Parada

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
"Daniel na Cova dos Leões", Legião Urbana




Não tenho qualquer restrição de comportamento com homossexuais.

Entendo que muitos contestem e enfrentem tudo e todos, descartados por tanto tempo e blá blá blá. Contudo, discordo dessa atitude nos dias de hoje, já que não enxergo nisso uma causa. Sabe, já passou, não precisa mais disso. A necessidade de auto-afirmação se esvaziou de sentido.

Pra piorar, organizam eventos como a Parada do Orgulho LGBT que, na contramão do que se diz ser, promove o maior contrassenso legal de todos: sexo ao ar livre, com camisinhas grátis entregues a todos, com o consentimento da prefeitura de São Paulo, ajudando com parapeitos com a Av. Paulista fechada para trânsito de carros. Que me perdoem os insensatos, mas se homofobia é crime, atentado ao pudor também é.
O policiamento que tomou conta da parada foi o mesmo que prendia quem mijasse na rua durante o carnaval - sim, em várias cidades do país, quem abriu o zíper viu o sol nascer quadrado.

O problema é que toda minoria quer ser tratada como especial. O lado bom de ser gay é justamente ser normal, uma pessoa qualquer. Não é azulzinho, verdinho, bolinhas amarelas, e mesmo se fosse, não faria diferença. Você mesmo poderia ser um.

Se por um lado eles são discriminados, por outro, são superestimados. Ser especial é o mesmo argumento que faz muitas mulheres preferirem a amizade de gays as dos homens e das mulheres. O fato de ser gay, afeminado, genérico ou similar é o bastante. Garanto que se fosse uma mulher, rebolando e falando com a liberdade que falam, o bicho ia pegar. "Vaca" seria o nome mais fofinho. Enfim, isso é outra babaquice dentro de outra maior, outra que não tolero. Quem pensa isso é retrógrado demais pra pisar e respirar no século XXI.

Mas agir assim e esperar a aceitação da sociedade, desculpa, não dá. Meu desprezo por esse tipo de eventos vale tanto pra 110v, 220v, bivolt ou rosa-choque, rosa-chique. Gostar de sexo não significa curtir micareta, pegação, suruba ou balada. Tô de boa aqui.

Valeu o desabafo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Vinte e seis de agosto

Veja Bem, Meu Bem
(Marcelo Camelo)

Veja bem, meu bem
Sinto te informar que arranjei alguém
pra me confortar.
Este alguém está quando você sai
E eu só posso crer, pois sem ter você
nestes braços tais.

Veja bem, amor.
Onde está você?
Somos no papel, mas não no viver.
Viajar sem mim, me deixar assim.
Tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins.

Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.

E eu nunca vou te esquecer, amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.

Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Amor, veja bem, arranjei alguém
chamado "Saudade".

domingo, 30 de maio de 2010

Futebol



Esse jogo não é um a um
(se o meu clube perder é zum-zum-zum)
"Um a Um", Jackson do Pandeiro


Na cidade de Santos, poucas coisas pagam o silêncio de um fim de tarde de domingo. Não há velhinhos chatos nem liminares que sejam tão eficazes quanto uma derrota do Santos Futebol Clube.

O Santos é um time sensacional. Tem uma história linda, cheia de glórias. No presente, soma gols de uma artilharia que não via faz muito tempo. Não lembro disso no meu time, por exemplo. Não é o melhor time que já vi; porém, têm um elenco tão eficiente que indignou a todos quando Dunga não convocou dois dos favoritos.
Meu problema é com quem torce pra esse time.

Qualquer atitude fanática me dá nos nervos, não importa o que seja.

Sou corintiano.

Não sou fã de futebol e estou longe disso.
Recentemente, voltei a prestar atenção no assunto - sim, é um assunto, e não um hobbie inigualável - e tenho entendido mais do que em toda a minha vida. Ou seja, continuo sem entender muita coisa.

A origem disso em mim está no torcedor santista. É um porre. Um saco. Sem perceber, eles são profissionais nisso. Resolvi desistir de ver futebol quando me enchi. Torcer para qualquer coisa nessa cidade é uma tarefa xarope e ingrata. Ninguém gosta de ver a própria paciência indo pro ralo.

Às vezes, fico pensando se uma missa fica mais vazia em final de um Brasileirão.
O "Está no meio de nós" perde o coro.

Os fogos resolveram não soar por aqui. Tive uma tardezinha mais tranquila, sem buzinas enlouquecidas e um monte de maluco na rua.

Obrigado aos gols do Corinthians. Sempre soube que meu time pode me dar alegrias ou simplesmente um pouco de sossego.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Santiago

Um filho.

Os homens se imortalizam em livros. Suas palavras são repetidas pelos matriculados, que se ecoam em seus bordões. Não faço parte desse imundo.

Essa gente olha a janela, mas o olhar para no vidro. Ou miram o olhar refletido. A retina se retém e não permite a paisagem.

Eu desprezo a pretensão de ser mais eterno do que já sou.

Tolice deles. Dizem que ter filhos é minha vaidade e meu egoísmo, que o mundo é cruel e que nenhuma tragédia se justifica. Coitados, não veem; não tenho cetro algum para passar adiante. Só tenho cartas, uma gaveta e uma canastrinha que guarda tudo que aprendi.

Chamo o ato e o parto de milagre. O filho é um milagre. Podem desistir e se livrar da palhaçada de "projeção". Não projeto nada no meu filho. É uma nova vida, não a continuação da minha. Ele vai ficar guardadinho, quieto, ansioso pra sair da pança e pegar coisas e colocar na boca e pular e sair correndo. Todo recém-prematuro. Vai criar contas, um berço no quarto, noites sem dormir. Um pequeno passo para o menino! E a imensidão é pouquinho abandonada, só para aprender e ensinar comigo e com ela.

No "final" - aquele final que os tolos ditam, aprisionados nos livros -, ao lado dela, seremos embalados e ninados no colo dele, até o casal cair no sono e fechar esses olhinhos abraçados.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Altamira


Um fato numa data simbólica. O espelho que os tupi-sei-lá ganham hoje é a energia elétrica. Em troca, não podem pescar. Já que o condomínio alagou em janeiro, não há motivo para não fazer o mesmo na aldeia.

Mato. É tão distante. Basta subir num bicho desses, problemas nas turbinas e, bum, sobrevivemos alheios ao "mundo". De repente, faz-se uma viagem no tempo, quando as costas eram curvas não pela tv e sofá. Sola da mão, palma do pé. Comer uns aos outros, grunhir abaetés, piatãs e iuruitás.

É o que se pensa desses aí. É sofrido, mas ninguém lembra. O Brasil se alinha à Argentina e aos EUA nesse orgulho subjetivo do extermínio, que no nosso caso foi cordial, lento, gradual e seguro. Igual a uma tortura, arrancando unha por unha até não haver mais mão. Com isso, não há mais tendinite kamayurá ou calos baniwa.

Fico contente em batizar cidades com suas palavras, assim como estradas com nomes dos outrora "amigos" paulistas com suas bandeiras. Irônico. É divertido dar a seta e mudar de faixa nas supostas vias onde os assassinos abriram picadas. Tudo em nome do avanço, do moderno necessário. Mas não é bem disso que é feita minha defesa na banca.

Amo o progresso. Novas estações de metrô, mais tempo, esteiras rolantes, elevadores, embalagens eficientes, obras. Minha ansiedade se estampa nos dentes a mostra quando vejo tapumes, madeirites e andaimes ou novas cores nos pacotes, imaginando o novo sabor ali dentro. Visão panorâmica, elevador, tudo visto do alto.

Tapuio e trigueiro, nasci sob o frescor da sombra do capitalismo. Berrando, sem bolsos. Com o tempo, cresci com agência e conta bancária em atrito com a cruz e igualdade. No entanto, apanho pra entender porque alguém pensaria mais em Edison do que em Malthus.

Eu falei demais.

Vou ficar na oca, mesmo que represada pela barragem. Deito fora minhas coisas, a canoa. Eles pegam esse cabo de alta tensão. Enfiam no chão. Estou descalço e finalmente sinto o calor que é digno ao silêncio.

E bits e pixels somem neste texto que ninguém leu.

sábado, 17 de abril de 2010

Iaê

Ah sim, esqueci de me apresentar!
Já se passou um ano e um mês que escrevo aqui e não falei nada sobre mim. Acho que os detalhes que estão aí do lado não dizem muito. Ah, não é nada que o Orkut ou Facebook já não tenha dito.


Meu nome é Thiago Augustinho Aparecido, tenho 25 anos. Há algumas postagens que mostro minha vontade de mudar o nome. Gosto dele, mas o motivo eu tenho e todos conhecem. Preciso de fundos. O tempo que vai demorar para conseguí-los é o bastante para vir o resto.

Não sei o que pensam os mais velhos. Aos mais novos que eu, já deixo avisado que ter essa idade não é grande coisa. Pode ser que eu dê muita risada dos meus dilemas de hoje, tendo 25 anos em 2010. Pode ser que não, já que não fico rindo das minhas crises aos 19.

A família vai bem, obrigado.

Minha namorada também está legal. Resumindo, são duas rotinas distantes com intersecção. Me acostumei com a ideia da distância, ainda que o comichão de querer fazer algo e ir vê-la é enorme. A sede pelo mundo está sentada na cadeira.

Estudo Letras. Foi na faculdade que eu a conheci e também outros dos grandes amigos meus. Foram muitas loucuras o ano do vestibular (2005), algumas delas estavam registradas na minha antiga página. Naqueles tempos, eu era rodeado de pessoas que foram importantes para as minhas grandes escolhas. Em muitas delas eu só tive coragem de mergulhar graças a esses velhos amigos, essa família que também amo. Sempre fui motivado e sou feliz por isso, estando com eles ou não.

A contrário do que muitos pensam, as principais barreiras apareceram depois do vestibular. Mudar para São Paulo, admitir mais paredes em casa. O ambiente construído por bicicletas, mar, chuvas borrifadas, tudo foi trocado por uma rotina de dias de semana ao lado da maior cidade do país. Digo "ao lado" porque a Cidade Universitária, perto de onde eu morava (e o meu atual endereço) não é exatamente São Paulo. Por muito tempo, abri mão da chance de me manter e me emancipar, só para estudar livre de compromissos, e hoje eu trabalho e não quero a vida de antes. Teve seu tempo. Deixaria de trabalhar caso eu mergulhe numa nova fase, a itinerante. Enfim, tive liberdade pra me comportar assim na época; foi necessário por um tempo. O tempo que o filhote precisa pra alçar o primeiro voo. E foi.

Fui. Os anos passaram, rotina de bandejão, amigos, biblioteca. Deixei de ver vários dos que antes costumava conviver diariamente no cursinho em Santos. Também, hoje não vejo vários daqueles com quem convivia todos os dias na faculdade. Às vezes nos vemos, sem querer. Quase sem aulas lá, eu vou andando pelos corredores procurando eles, e quase sempre não encontro. É normal encontrar, bater um papo curto. Sinto falta, sabe? Faço isso toda semana. Saudade, ué.

Já me expliquei, me desculpei, mas não adianta. Sou desnaturado mesmo. Meu sobrenome "Aparecido" é uma ironia. Tenho o hábito de desaparecer e não dar satisfação.

Sempre voltei a Santos aos finais de semana. Meus compromissos com o Espiritismo no litoral são maiores do que qualquer show de graça, festinha ou viagem que possa surgir na capital. Então, o negócio é sempre me programar. Esse hábito é muitas vezes entendido como algo que atrapalha meus finais de semana. A maioria esmagadora não entende que é graças a essa estrutura que estou de pé. Até mesmo os meus problemas, que aparecem em virtude da luta contra eles. O rio é uma delícia se você não lutar contra ele; a maioria está aí pra isso. Não é meu caso.

Não acho que religião seja a salvação, mas o ato de refletir sobre si mesmo só acontece em um grau eficaz graças a esses finais de semana na casa espírita. E, como espírita tradicional que parece heterodoxo, sou incrédulo e seleciono todo tipo de informação que cai por aí. É o que me fascinou a princípio. Senão vira calo, como muitos fazem, acreditando em tudo que se diz. Dentro da doutrina dos espíritos, depois de um certo tempo, é comum concordar com tudo. Por isso, me motivo sempre a ter a postura crítica que engrenou os franceses lá, há dois séculos. Minha fé sempre sofre com isso, porém, depois da dor vem a força que lhe é merecida pela resistência conquistada ao longo da prova. Mesmo as separações, uniões ou os intervalos entre elas são provas.

Sou muito feliz com a minha namorada. O fato é que estou morrendo de saudade por causa dessa distância das cidades. Telas de computador, câmera e microfone não são o ideal; é por pouco tempo, tempo que parece uma eternidade.

Quero crescer. Sou comedido pra caramba, mas tem hora que dá vontade de explodir todas as camadas dos meus infinitos casulos. Só que a responsabilidade tem sua hora. Ainda assim, quero continuar tirando fotos com careta, roupas engraçadas, imitar bichos tortos. Sei que vou ter rugas. Só não quero ser sério.

Continuo estudando. Na verdade, é meu último semestre. Faço a última disciplina do curso. É, ok, tá legal: sim, desisti da licenciatura. Foi uma decisão dura, tão dura que demorei pra admitir as consequências. Sem mais sobre isso. Meus planos continuam os mesmos, sempre sendo adaptados.

Esse meu hábito de criar planos secundários (e não ter um plano principal) está prestes a chegar ao fim. É a crise da idade. Calma, eu explico. Tenho benefícios por esboçar vários planos que têm a mesma importância. Só que nessa altura eu preciso decidir. Prestar vestibular de novo vai fazer um desses planos ser mais importante que outros. Vou dar um fôlego a minha vida acadêmica, zerar a média ponderada, continuar pagando meia entrada no cinema, morar de graça com meus amigos por mais um parzinho de anos. E, trabalhando, é o tempo certo pra arrumar a vida e pescar as chances.
É diferente de quando conheci São Paulo de mala nas costas.

Hoje trabalho em uma empresa no Ipiranga, perto do museu. Um emprego muito bom, realmente gosto do que eu faço. Não vai pagar as contas que um dia vou ter, por morar com minha esposa e filhos, pelas contas. Sei que tem seu tempo. Além de ser de uma área que já desejei, o Jornalismo, eu sinto que o que faço tem seus frutos. Gosto de sentir alguma importância, diferentemente dos bicos que já fiz. Embora eu saiba que posso ser mais importante ainda.

Não desmereço o trabalho que tive na música. E não, não parei de fazer música. Continuo com o violão, mesmo depois de muito tempo longe dos palcos, ensaios, montagem de repertório. Esse tempo vai engordar, sinto isso. Não lamento. Tem lá seu prazo. Meus planos pra música estão caminhando sem perder o ritmo, com passo lento, de acordo com que consigo aprender. É, estou estudando música, saindo do amadorismo.

Ok, agora preciso ir dormir. Esse tom de conversa parece com dos primeiros textos dessa página. Gostei, sem papo sério.

A gente se fala conforme for.

Até mais!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Alegria da Caverna


"Sempre mais do mesmo; não era isso que você queria ouvir?"
"Mais do Mesmo", Legião Urbana

Pôr os fones de ouvido do walkman, carregar sobre um ombro o minisystem com aquela fita K7, estourar os tímpanos nos PAs do Madame Satã ou andar sob a luz dos postes da Rua XV do centro de Santos. Dentro da noite veloz, contemplamos as sombras que se movem na porta da saída, da saúde, da saudade, como naquela velha alegoria. Uns morrem de overdose, outros estão contentes com suas carreiras estendidas e adiando aposentadoria, caminhando com discos das mais pedidas, ao passo que turmas novas aparecem com mais músicas e mais fãs. Essa safra no iPod pode tomar o lugar dos antigos? Seríamos nós, os nascidos em 80 e 70, os acorrentados na caverna que não enxergam o caminhar da carruagem e não cantamos o tom do terço?

O mau uso do rock não acontecia com a tríade do rock nacional, composta por Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso. Sei que posso estar sendo injusto com outras bandas; porém, apesar da genialidade de Cazuza, o Barão Vermelho (que é muito bom) atendia muito mais ao formato blues rock do Rolling Stones do que o Paralamas fazia reggae do The Police, pois o trio carioca bebeu nas mesmas fontes brasilienses que bandas como Legião, Capital Inicial, Plebe Rude, Finis Africae e Detrito Federal beberam. Posso estar sendo injusto, mas não ignoro os setentistas do Camisa de Vênus, o folclore poser dos Secos e Molhados, a tendência funk de Roberto Carlos na início de sua fase católica, assim como o pioneirismo do rock poesia com Raul Seixas. O trabalho de cada um deles foi genial e é absurdo não serem lembrados numa discotecagem ou repertório. A influência que cada uma delas teve foi longe.

O benefício da iconoclastia e da amálgama fomentou a criação desse estilo, não só por intermédio de álbuns memoráveis, como também por excelentes músicas exploradas nas rádios. Depois de fazer a releitura punk da canção-protesto consagrada pelos nomes da música brasileira nos anos de chumbo, a Legião Urbana teve a sacada de misturar elementos do fim da Idade Média, assim como assimilou outras formas, como a literatura e a arte gráfica unidas ao amadorismo criativo. Titãs apostavam na multiplicidade, como o próprio nome diz, refletindo em suas composições as muitas caras que a banda é capaz de mostrar, sem necessidade de destaque para virtuosismos individuais. A escassez de recursos na época era um bem no processo de criação, porém, se percebe que algum limite foi ultrapassado. O rock perdeu a mão - e o instrumento.

As melhores bandas dos últimos tempos da última semana - NxZero, Strike, Fresno, ForFun, Hori, Hevo84, Restart e Cine - fracassam nesse quesito, pois se quer tentaram. Acima do meu gosto musical, da temática das letras ou do perfil de seus fãs, o que me mais incomoda é a falta de diálogo dessas bandas com o que é nacional.

Não digo que todo mundo tem que flertar com o carimbó, milonga, guarânia e lambada. Nos anos 1990, é verdade que mundo livre s/a (é em minúsculo), Eddie e Chico Science & Nação Zumbi foram tão singulares nesse diálogo que acabaram por fundar um movimento que ecoa até hoje, com o coco, maracatu, embolada, rap, ciranda, rock e música eletrônica; porém não é necessário ser tão múltiplo para ser um bom original. Um exemplo é o Charlie Brown Jr, que apesar de ter se tornado pop rock com virtuose instrumental, foi pioneiro na proposta de um som urbano e praiano, com influência de hard core, surf music e hip hop, assim como Raimundos, que fazia hard core com forró e a vocais na velocidade do repente. Planet Hemp defendeu sua ideologia em suas letras, revolucionando mais uma vez a discussão política através da música. O Skank continuou com a vertente reggae, dub e ska do Paralamas, investindo numa sonoridade regional e pop, mais uma vez retomando ao rock aquela folia que lhe é possível, lotando ruas mineiras assim como o axé faz nas ruas baianas.

Algumas bandas sobrevivem com seus fiéis fãs em pequenos circuitos, uma ou outra tem seu destaque, como Móveis Coloniais de Acaju, Vanguart, a falecida Gram e a sumida Ludov. Contudo, nunca tivemos tanta atenção voltada para o rótulo e não para o que borbulha dentro do vidrinho. Hoje em dia, o rock brasileiro está com prestações atrasadas, produzindo mais do mesmo, conta-gotas de soro e contando com a ajuda de aparelhos e sintetizadores. Gostando ou não, algo mudou, mas há pelo menos umas quinze bandas que reprisam essa mudança, como se houvesse um cartel de gravadoras empenhado em jogar distorção, samplers e letras grudentas dentro de um forma untada. Depois pode carimbar, rotular e vender.
Fazer música pra jovens era outra coisa antigamente; pois, afinal, mudamos de jovens.

Sonho saudoso com a intensidade e a intenção que havia na música que todos ouviam.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Seria o diabo o pai do rock?


"Campbell's Soup Cans" (1962), Andy Warhol

Não escrevo rock em itálico nem entre aspas.

Tenho medo do lado negativo do rock: o segregador e ignorante, a típica falta de diálogo do rock com o que não é rock. Pois é, essas coisas me deixam encucado. A popularidade do rock trouxe a venda e produção de música e instrumentos para uma dimensão industrial. Não conheço isso a fundo, mas não sei se cistres e alaúdes eram produzidos sem ser pelas mãos de um artesão. Mas e o violão e sua variante elétrica? É impressionante a variedade. Tanto que, depois do baixo e da guitarra elétricos, vários instrumentos foram adaptados a esse tipo de captação. Até aí, tudo ok. Mas é curioso como a mesma estética foi aplicada aos instrumentos. Nunca procurei saber disso, mas opções de tensão e material de cordas também existem no caso dos violinos, violoncelos, cavaquinhos, violas caipiras etc? Isso se aplica? Ainda não vi um bandolim em modelo stratocaster, mas já vi muito cavaquinho sem caixa acústica (aquele feio, só com o formato para apoio do braço e do corpo). Até acho válida a tentativa. Não pensei sobre isso ainda; tenho medo de dirigir uma crítica pesada a algo pelo qual eu apenas ainda não me acostumei. Não quero parecer retrógrado; tradicionalista eu posso ser, talvez.

Você pode ver que é difícil encontrar lojas de instrumentos musicais que não sejam só de baterias, guitarras, baixos, violões, microfones, pratos, cordas, pedais e acessórios. Ainda que sempre haja um porão da loja onde tem algo mais típico, mais tradicional ou regional. Não há uma prateleira cheia de tambores, alfaias, berimbaus, cabaças e caxixis de várias cores e tamanhos, umas mais caras que as outras por serem feitas de maple ou mogno, ou usar palhas de trigo ou de cana... Louco isso! A procura é pequena, e a música que antes era popular entre os jovens de 13 a 30 anos da cidade, de repente ficou de canto. Quer uma prova? Cresci num meio em que isso já era possível, em uma casa que acompanhava a explosão da venda de LPs de sertanejo e de pagode em plenos anos 90, junto de discos de hard rock. De um lado, Chitãozinho & Xororó e Raça Negra, de outro Guns N' Roses. Hoje eu vejo, ainda sem entender muito, o quanto cada um respondia as possíveis demandas de mercado.

Ah, as demandas! O mercado! Quero evitar o termo "alienação" ao tratar disso. Parece estranho pensar na música assim. Ainda assim, lá vai: acreditar que a campanha do Brasil no México em 1970 foi resultado da ditadura militar é bobagem. No máximo, o brilho da taça Jules Rimet pode ter sido usada para ofuscar os já míopes olhos do povo, em favor da hipnose coletiva, os gritos de gol amordaçando os berros da tortura, assim como o silêncio da democracia. Porém, não creio que seja assim.

Mas e os EUA? Bem, é fato que o contexto histórico favoreceu, mas não acredito que o rock dos brancos tenha sido uma manobra política - pelo menos, não desde o início. Pode ter sido explorado depois, ajudando esse sentido. É anacrônico avaliar hoje tudo o que o rock foi, é, será. Usar um estilo musical de um grupo restrito, tirá-lo de seu nicho próprio (como a bossa nova fez com o samba, longe do morro e perto da sacada do apartamento), financiar a indústria musical, subornar produtores (ou espiões disfarçados deles), mudar o som, a rentabilidade em detrimento da criatividade. A Fórmula Pasticcio-Pasteur mais uma vez. Hmmm... Em partes parece real. Isso não soa saturado demais? Já que tudo era especulação dentro da Guerra Fria, por que os soviéticos não investiram nessa ideia? A balalaika podia ser a guitarra dos estados socialistas! Mas Leo Fender e Lester Paul falavam inglês. O pop pode sim ser considerado uma manobra, ergh, digamos... imperialista (economizo essa palavra...), pois o rock foi, querendo ou não, um protótipo disso. A música pop, tal qual conhecemos, tem suas raízes no rock, tem sua projeção mundial.

Fruto da globalização, é fato. Seria o diabo o pai do rock? Enfim, não acho o rock culturalmente nocivo, desde que bem usado. Afinal, a Tropicália foi possível também graças a ele, assim como a Semana de Arte Moderna de 1922 não seria nada sem o "Ivanhoé" de Walter Scott e a "Estética" de Hegel - pois é, eu acredito que o Romantismo foi mais revolucionário do que o Modernismo, pois não mudou só a forma (com a criação do romance) como também seu conteúdo. Já xingaram Bob Dylan por trocar o violão pela guitarra. Passeatas contra a guitarra elétrica. Aquela famosa oposição da Jovem Guarda à Tropicália, tamanha bobagem. E no Brasil ainda há quem diga que rock só presta em inglês. Dizer isso é matar a maior de suas qualidades, além das ideologias, a rebeldia que beira ao Luddismo, o amadorismo punk e grunge, tudo que considero genial, ainda que com ressalvas: a capacidade de se expandir voluntariamente (ou não) e de se amalgamar (se for permitido).

No meio de uma safra indie rock, contamos com uma vertente brasileira de bandas esparsas que tocam rock regional. Conheço pouco, mas esse pouco é muito se comparado ao que se conhece por aí. Acho que essa sede faz parte do que ainda vou procurar ao rodar esse continente.

E, nessa busca pelos limites entre o autóctone e o superstrato, talvez eu descubra que a busca é uma bobagem.

Bom mesmo é calar a cabeça e aumentar um pouco o volume.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Quadro em versículo


"Cristo de San Juán de la Cruz" (1951), Salvador Dalí

Começou a pregação de Cristo
.
.
.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Setenta vezes sete


"Les amoureux" (1928), René Magritte

Mentira
Um beijo
Moedas do tributo
Trezentos dinheiros
Trinta moedas de ouro
Esmolas?
Caça-níquel?
Aplicar na poupança?
Pedidos na fonte de desejos?
Arremessada ao alto a decisão em cara e coroa
Quantas chances ele puder

quinta-feira, 25 de março de 2010

Saûsubeté



Pois é, amo muito a Ju! Aqui não é uma esfera muito pública (nem tão privada assim), então não tenho receio de expôr parte do meu íntimo nesta página. É fato, amo demais, sentimento que se traduz melhor em uma linguagem que escapa ao português e ao espanhol, tão velha que foge o calendário dos homens. Felizmente, a Ju está aproveitando uma passagem de ida e vinda na sua vida, coisa que me contenta e faz acreditar que essa distância possa trazer boas experiências pra mim, nesse lado brasileiro.

Tive bastante tempo pra me acostumar com a ideia da partida.

Nessas últimas semanas, revi a vida que poderia ter sido e aquela que será. Conheci seus pais, suas irmãs, fui muito bem recebido em Sorocaba, tive chance de me sentir mais próximo e participante de sua vida. Foi muito bom! Me senti muito acolhido, talvez porque ela tenha falado de mim e eu tenha ouvido bastante sobre eles, com toda curiosidade que tenho. Há exatamente uma semana eu a deixei no aeroporto de Guarulhos, depois de pequenas desventuras em série. Avião rumo a Santiago do Chile, sem maior temor por conta dos terremotos. Até saiu um poema daquele episódio, mas enfim... Digamos que eu e a Ju tivemos bastante tempo pra nos despedir, hehe.

Sodade!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Fórmula Pasticcio-Pasteur



Existem muitos formatos que só têm verniz e não têm invenção
"Marcianos Invadem a Terra", Legião Urbana


Algumas pessoas descobrem suas fórmulas quando muito ocupadas ou cansadas. É assim que pensadores falam besteiras, escritores resumem vida e obra ao pastiche, músicos pop lançam coletâneas ou canções inéditas que soam um lixo, escultores usam formas de gesso e pintores pintam a mesma coisa mudando só a tinta. Vive-se do respaldo do respeito adquirido na época em que ainda se produzia algo relevante. A obra não vale, mas sim a produção por trás. A fórmula se rende ao óbvio e ponto final. Traço pasteurizado.

Revirei o passado, busquei poemas rebuscados e repaginei muito, do jeito que gosto e com o cuidado de pingar e secar palavras. Simplesmente parei de escrever os fatos aqui. Digamos que eu já tinha boas doses de refúgio, então desisti de aparecer. Essa é a diferença entre a narração e a descrição. É difícil explicar os detalhes da imagem em movimento se não houver pausa ou fechar o foco. Como tive pouco tempo pra viver eventos, preferi vivê-las mesmo tendo o batente, passes, quadro negro etc.

No meio disso, resolvi me reinventar. Tive ausências que resultaram em alguns surtos exclusivamente pessoais. A paz atribulada passou a ser atribulação comedida, ira latente, acumulando raiva e rancor. Nunca estive tão furioso com tudo e todos; isso tem sido apaziguado na medida que desperto o acordo com a espiritualidade. Não é uma medida paliativa, um remédio; é a cura que é indissociável da melhora!

E quanto mais me reinvento, mais sinto saudade de como de fato eu sou. Inevitavelmente traço até o ponto de fuga, o meu jeito normal.

Descubro todos os dias o estado líquido do vidro. Até perceber que o recipiente, em dois mil anos, pode também ser o conteúdo se exposto às intempéries e erosão. Tudo isso sem quebrar, apenas deixando existir.

terça-feira, 23 de março de 2010

Zero



velho diálogo de Abel e Caim
de um lado baby boomers
e de outro homens-bomba
números se anulam na equação:
(...)

sexta-feira, 12 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

terça-feira, 9 de março de 2010

Ganga de Vil Metal


"Deus é o teto da casa
O diabo é a porta dos fundos"
Deus e o Diabo, Titãs


Abriu a porta, começou a entrevista
Não é estrela nem capa de revista
Esboçou na voz sua rasa ambição

Há pouco enchia de quinas sua silhueta
com o correr das horas numa pulseira preta
Com o estar apático e estático até então

Disfarçou o brilho de suor
E arriscou uma cortesia opaca e pior
Arruinando a seriedade de antemão

Iniciou na cadência regular da sulfite
Uma lista singela, um possível palpite
Currículo sem estrela, um mato sem cão

Temeu muito se apresentar pelo nome
Ainda assim o fez, esqueceu do medo que sentia do homem
Que sentava à sua frente, na frente de um trovão

Fio grosso de etéreo carbono flutuante
Levava pouco a pouco muito da sua saúde de implante
Erguida no canto da boca, de pé no chão

Assim era a casca de linho do senhor poupança
Que por dentro era pobre, cheirava a cobrança
Envolto de milhões de gravatas costuradas a mão

O pobre lamentou seu nome de pessoa sem sua graça
Caiu-lhe a ficha criminal de sujo na praça
Porque antes devera a um burguês um tostão

Implorou perdendo toda a compostura
Se jogou de joelhos a roupa suja e escura
Sujeitando-se até a uma quase escravidão

O Seu Couro-caro então sorriu olhando o ar
Que quisera arremessar milhos antes dos joelhos o chão tocar
Para outro pranto parar da lágrima a aproximação

Disfarçou seu riso tolo, todo untado a ouro
E abaixou a cabeça, sem cair a coroa de louro
E propôs lhe dar algo com valor de latão

Jogou no chapéu do pobre um tilintar banal
Que mais lhe era ganga de vil metal
Pois lhe renderia algum pão

Um sujeito que não podia usar chapéu
Amassara o pão nosso que estava no céu
E logo percebeu que não era só um humilde varão

Viu que era um jovem de uns tantos mil anos
Que como proletário áureo, devia traçar planos
De uma pujança de mais alto calão

Antes, ao entrar na sala, era só a negra corrupção
Então ele disse que o verde deveria existir na escuridão!
E assim foi gravado no papel o sifrão

Tentou o caro amigo caro a pegar atalhos
E ele tropeçou, caiu, e o seu tenro terno em retalhos
Rompeu o seu fraco status de franco patrão

Assim aquele saciou sua sede, sua ânsia
De se consumar como o eterno consumidor de vingança
Assinando como um bonzinho vilão.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Botox ou Durex

ao dia internacional da mulher

"Nu cubista" (1915), Anita Malfatti


cruzamento da 25 de Março e a Oscar Freire
manequins
comprimidos no vidro do balcão

Lexotan, Xanax,
Botox, Rolex,
Durepox, Durex:
Tiranossaurus rex

Na mesa
Tesoura, linhas,
Corte e costura, ponto e cruz,
Bisturi e sutura. UTI. Emergência. SUS.
Silicone. Andaime.
Madame em construção
Crochê? Touchét!
Fricassê? Jamais!

Se abaixe! É liquidação!
Trapos em cabides de 30kg
Nas passarelas pálidas, amarelas –
Pouco barro e muita costela
Necessaire de tinta e verniz
Vasos sem raízes, vazios
A verdade em varizes
Paris! Venice!
Cútis de BR
Celular, celulite
Salto alto, artrite
Pague só no próximo mês

Shampoo anti-cáries que deixa seus cabelos mais brancos
Creme dental anti-caspa para dentes secos e rebeldes

Ninguém reflete com espelhos
A chapinha vence a genética
Uma bunda queima na chapa,
Gordura à milanesa
Turistas no quiosque:
– Come on...
Batendo uma
pelada.

A cara carece alegria
assoa, soa alergia:
falta pó branco os lábios vermelhos queda da bolsa sob os olhos mais [roxos de blush.
– Um tapa pra acordar.

Toda coisa cara
Por um precinho camarada

sexta-feira, 5 de março de 2010

Travessa


Cena de "Um cão andaluz", de Luis Buñuel


Dali a uma hora o terminal de ônibus estaria lotado. Felizmente, o seu chefe tinha dispensado os seus serviços às quatro. Já era esperado, já que causara tantos problemas na recepção do consultório. Segundos entregando currículos pelo Centro, fora admitida assim que ouviram sua história tão estória. Naqueles dias, estava cansada de bater perna naquela multidão atrás de pechincha e da baixa qualidade que vem de brinde. Cansava-se dos sujeitos atrás de balcões de compensado e lonas tomadas por muambas. Ali, depois de perder tempo ao olhar relógios obviamente falsos, comprou um par de pilhas para ouvir seu som no caminho até o terminal. Olhando para os lados, como quem faz algo de errado, certificou-se da provável ausência de ladrões, antes de tirar da bolsa o dinheiro. Igualmente desconfiada, pegou o troco virando o máximo possível sua mão, para não tocar a do camelô. Conferiu o troco agarrada à bolsa. O ambulante dera o dobro. Por engano. Saiu andando, como rosto revelando uma curiosidade súbita em uma vitrine opaca, e seguiu sem ao menos observá-la.

Sua impaciência estapeava o tamanco contra a calçada. A publicidade gritada, rimada, pouco convincente àqueles ouvidos, agora competia com a lembrança do que viria a fazer nos próximos dias. Lembrou. Agora, sua paciência costurava a massa confusa de barganhas, oportunidades e leve-um-pague-meio. Aplaudiu o salto no brilho do mármore. Entrara na loja pensando em sua mãe. O terminal estaria lotado em breve, mas não poderia cancelar aquela estranha troca: três notas e um punhado de moedas por um sorriso no rosto da mãe. Ela adorava. Aliás, o dia de todas elas chegaria, motivo que enchia os vãos nas calçadas com mais quinquilharias e gente. Gente que entope a cômoda das mães com porta-retratos de plástico espelhado. Imaginava o rosto da senhora refletido torto no retrato, a emoldurar aquela foto do fim do meio do álbum.

A nuvem de pensamentos e ideias se desfez. Sabia que logo viria um toró, por isso apressou-se a pegar os botões de rosas e o pequeno cartão. Embrulharia depois, só não sabia como. Avançara de encontro ao movimento contrário. Ganhava tempo ao ir para o asfalto, acompanhada por um teto nebuloso ainda mais escuro. Aos muitos sentia a fumaça que anuncia a proximidade do terminal. Correu para atravessar a rua ruidosa. O som dos motores engasgados no álcool misturava-se ao rasgado trovão que logo apertaria um punhado de gente aos limites do teto de cada ponto de ônibus da cidade. Inútil. Senão por cima, por baixo se molharia. Ilusão.

Abriu o zíper, com a mão vasculhou cegamente a confusão de currículos, panfletos amassados, papéis de bala e notas na bolsa. Viu uma em que tinha o telefone de seu pai. Pegou o cartão que comprou para sua mãe, e correu para o orelhão. Telefonou para o seu pai, avisando que passaria na casa da mãe. Trocou meia trúzia de palavras sobre ela, e correu para o ponto no terminal, despedindo-se do velho com "ahans" expressamente conclusivos e desinteressados em delongas. Vasculhou a bolsa mais uma vez para pagar o homem. Viu que esquecera o troco na floricultura. Faria falta? Depois das pilhas, não. Sentada no banco, pegou o aparelho que ganhara do ex e inseriu as pilhas vagabundas. O som do trovão e do motor ganhava mais um amigo para rugir nos seus ouvidos. E seja feita a santa trindade. Aos poucos, sentiu a condução em seu tempo, no ritmo dos tons, dos buracos das ruas; o balanço dos altos (e baixo), das pessoas com o frear no sinal. O motorista pisou no freio, na embreagem, acelerador, na distorção. Com vozes e esquinas dobradas, depois do cobrador tirar notas com uma moeda, alguns passageiros atentos dedilharam as cordas avisando o homem lá na frente que devia parar o compasso. Uma batida violenta e quebrada cadenciou o trânsito. Avançava um pouco e parava. E assim foi, com o ronco pigarreado do veículo, intercalado por vozes caladas aprisionadas em cada cabeça cansada, sem ao menos alcançar a boca e estalar na língua a indignação do congestionamento. Tsc.

O pobre diabo poderia ter batido noutro momento, assim não quebraria o tempo de tanta gente. Ou noutra avenida, noutra vida. Ave Maria, Pai Nosso, ia morrer de um jeito ou de outro, mas faria o favor de liberar o trânsito. O ônibus seguiria adiante, as pessoas atravessariam a cidade, uns de um lado para o outro e ele dá vida para a morte. Por duas horas, talvez, estivera de olhos fechados num sono sem sonhos. Contudo, tinha objetivos. Depois daquela tarde inútil, dera alguns passos atrás. Ia pedir conselhos para sua mãe. Queria ver seu sorriso. Talvez pediria desculpas. Fora desonesta consigo mesma, orgulhosa quando travava olhares contra o espelho. Tinha culpa por todos aqueles anos. Sabia que seu chefe vasculhara a mesa da recepção; e pela ligação, sua mãe já deveria saber. Afinal, sabia de tudo. Sabia da mesa recheada de currículos amassados, más impressões, jato do tinta, regrinhas da ABNT, acompanhados de panfletos anunciando o consultório, o vidro de tampa rosqueável lotado de uma multidão de balas. Ela sabia que sua mãe viera. Vinha sempre. De vez em quando ia ao centro da cidade, lá no trabalho dela, pegar os recados da mãe. Os mesmos conselhos... Aprendeu a acreditar naquele bando de besteira. Desde a separação dos pais, quando era bem pequena, admitia a decisão do juiz em visitá-la só uma vez por semana. Consolava-se que, num futuro próximo, empregada e estudada direito, ia morar com a mãe de uma vez.

Puxou a corda. Viu que, depois de muito balanço, no ouvido, não ouvira a grávida que há muito pedia o seu lugar. Lamentou consigo, massageando o ego ao pensar no bem que fizera a si mesma ao refletir sozinha sobre sua conduta e sobre os conselhos da mãe. Se estivesse de pé, o máximo de reflexão que teria seria o sexo do bebê da moça.

Com o breque, a grávida escapou. O ônibus freiou bruscamente, e ela descuidou sua mão do bastão perpendicular ao teto. Caiu de lado no chão, com o choque amortecido pelas pernas cambaleambulantes de outros passageiros de pé. Pensou em ajudá-la, mas exitou demais; chegara ao seu destino. Se algo tivesse lhe acontecido, ali mesmo, naquele ponto, poderia contar com o hospital. Rezou sussurrando, daquele jeito que só os ss e zz aparecem. Zzzz. Até porque, ali no chão poderia ser ela; sabia que Deus era justo e bom consigo. Desceu nervosa com os atrasos, e viu que naquela região a chuva ainda não havia chegado.

Abriu a bolsa, nem tão desconfiada como antes. Puxou as rosas, que na bagunça de papéis desavisaram os cegos dedos sobre os espinhos. O céu testemunhou. Ave Maria e Pai Nosso. Jesus. Ismael. Oxalá em São Paulo. E do céu caíram as gotas, competindo acirradamente com a gota de sangue que vertia do dedo, numa corrida interminável no ritmo dos santos. Quem tocou primeiro o chão não foi água, nem o sangue, nem vinho. Pode ter sido o cuspe do moleque, ou a cápsula do projétil que saiu do revolver, no outro lado da cidade. A grávida, lá no ônibus, queimou largada feio.

Assim a travessia se fez. A rua logo viraria rio, e água de baixo não se protege com guarda-chuva. Depois de pegar as rosas, seu destino seria o terceiro meio-fio, depois da ilha na avenida. Do Eixão pra Eusébio Matoso. Atravessou antes da água.

Entrou lá. O portão estava sempre aberto. Ia lá sempre, era conhecida. Os vizinhos olharam, enquanto ela caminhava até a mãe. Apertou os botões de rosa contra o peito. Apertou os espinhos na mão. A chuva apertou. Correu. Não da água, mas sim de ansiedade. Avistou! Era ela.

O sorriso era o mesmo. Nunca pôde ver aquele rosto. Não sentiu pêsames; era nova quando seus pais se separaram. As gotas pesadas lavavam a tumba, e o retrato espelhado com a foto de meio de álbum ficava cada vez mais gasto. Sua mãe não costurava multidões, ela passava, e sentia. Não ligava para troco. Não comprava. Só sorria, na lápide, acima do epitáfio que nunca teve. Ganhava flores com freqüência. Visitava uns, no centro, e passava uns recados. E ela lia, contente, imaginando como seu pai era feliz com a sua mãe antes do juiz decidir sobre a separação e a freqüência das visitas. Mais tarde, morariam juntos. Os três sabiam disso.

Ela caiu no ônibus. Súbito; tudo muito rápido, mais do que as mãos dos outros passageiros. Fora levada ao hospital, onde o martelo tocou a mesa, onde o corpo, com hemorragia interna, tocou a maca, onde os médicos foram os advogados de defesa. E a jovem estudante de Direito foi embora, deixando o bebê com complicações. A menina, que chorava seu nascimento prematuro, parecia reclamar a presença da mãe. Mas dali seria sempre guiada. O metal gelado do estetoscópio tocou o peito minúsculo e sadio. E eles ouviram a música compassada e acelerada, o bumbo batucando por baixo das finas costelas.

Sorria. Ela sorria. Não precisava de epitáfios. As rosas que se acumulavam, qual um jardim póstumo, serviam de mensagens sobre o amor tecido pela filha. Uma rosa valeu mais que mil lágrimas. Um sorriso valeu mais que mil rosas. A visita havia acabado. Não era aniversário, nem finados, nem dia das mães. E ela saiu da casa de sua mãe. Cruzou os mausoléus, as cruzes que jaziam sobre as costas de tantos, as que se firmavam na terra.

Naquele dia ia para casa a pé. Antes olharia para os dois lados, e atravessaria a rua. A água arrastava, brava. Porém, sabia que ia para a outra calçada. Olhando para os dois lados.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Telemarketing


ando
endo
indo
ondo
undo

segunda-feira, 1 de março de 2010

Richter Hertz Parkinson


agulha rompe a carne
soltam os pontos da terra
dispara o alarme
arranha os sulcos do vinil
o volume amplifica-se
do meio-fio ao pavio
ponta fina rabiscando papel
psicografando o chão
dentes rangem as cáries
terra intransigente
fura e injeta na corrente
teme o balanço e cisma
instantes calam ruídos
tatua os delitos
vigas entortam em arco
cobertura roçando térreo
telhado e calçada em atrito
duas cascas em reco-reco
involuntários passos
recuam ecos contrários
à cervical que desmonta
do pé até a ponta
a paz desligada
pelo fio da tomada
versão oito ponto oito
oito em ponto
em ponto e cruz

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Encruzilhada

Querer sem objeto
Voz sem alfabeto
Enchendo um corpo já repleto
O excesso, o exceto
O etcétera e todo resto
Do chão ao céu, da boca ao reto

"Excesso exceto", Lenine


Pois é! Não foi suficiente o esforço de planejar o semestre! Sem ensaios com banda, com estudo de música avulso e por própria conta, usar o banco de horas do trabalho para assistir as aulas da licenciatura até o fim, estudar para o vestibular da USP para cursar Letras novamente, desta vez com habilitação em Espanhol. Esqueci do básico para concluir primeiro esta graduação: as trocentas horas de estágio na rede pública!

As aulas voltaram nesta semana na USP. Com isso, normalmente meu ânimo estaria explodindo de ideias, traçando planos maquiavélicos que minha imaginação doentia permite, hehe. Mas como o bacharelado está praticamente encerrado, pois só falta uma disciplina de Literatura Portuguesa, não há motivo de tanto gosto. O melhor da licenciatura já passou: o começo, com o Prof. Zé Sérgio e seu apanhado de textos da Hannah Arendt e aulas em plena invasão da polícia na Cidade Universitária. O trabalho final me agradou tanto que virou postagem aqui, mesmo não sendo o recheio nem a cereja do bolo que foi o ano passado.

Na verdade, já estou com saudade do silêncio que aquele mato tem quando no período de festas lá fora. A fila do bandejão está grande, a bicharada fica toda assanhada pra comer, então não dá tempo de bater um prato antes do trabalho.

Vou aprender a sambar com o tempo que resta pois o ideal seria eu não precisar prestar vestibular de novo assim teria de sambar somente pra tocar os estágios em frente ao mesmo tempo que trabalho oito horas diárias cursando licenciatura da graduação em que comecei em 2006 e pretendo terminar neste ano enquanto estou sozinho quieto concentrado tocando violão nas horas vagas fuçando email enquanto o frio ensaia pra chegar e não - chega!

Vou fazer o possível para não abrir mão de nenhum dos planos deste semestre. Quero continuar os estudos de Tupi (minha única aula de noite... às sextas!), quero estudar algum dos meus instrumentos. Gosto tanto dos acústicos portáteis que qualquer um me deixaria feliz. Só falta foco, uma vez que tenho fuçado cada vez mais a música do mundo. Também não nego novas ofertas de emprego, mesmo gostando muito do trabalho.

Aqui está a prova cabal de que o ano começa depois da quarta de cinzas!

No confessionário...

Ó, meus irmãozinhos! Buzinei, buzinei. E nada: http://temquefalar.blogspot.com/2009/10/hey.html

Confesso: é verdade, assumi uns compromissos e sumi (não nessa ordem). E tenho lá minhas dúvidas se eu faria igual caso não me ocupasse. Depois do emprego, percebo o pouco tempo que tenho para aqueles que tanto prezo e amo. Só um pouco preso. Preço curto, custou meu tempo longo.

Começo a pensar seriamente naquela minha brincadeira sobre S.Paulo acabar com os problemas da metrópole por meio de um breve genocídio (é uma piada). Eu poderia fazer alguns cortes da minha caderneta pessoal, caderninho de telefone. Ou melhor, poderia oficializar isso pra mim mesmo, já que é um fato consumado, assumir que amigos de outrora se tornaram colegas íntimos por minha culpa, minha tão grande culpa.

Sobra os ss de alguns pai-nossos ajoelhados na madeira de balaústres. Um sinal da cruz vigiado pelos olhos de gesso, secos. Por dentro, a maior das insinceridades. Dispensei a cortesia dos salões e guardei a hipocrisia da etiqueta. A minha fé, pelo menos, não é posta em cheque (com ou sem fundo).

Também é verdade que eu poderia ter mudado isso quando eu estava com tempo livre. Às vezes sinto que me basto, embora não preciso de muitos tapas pra perceber que isso seja mentira. Vide os próximos capítulos - ou episódios.

Já que sou tão cara-de-pau assim, lá vai:
Um abraço relapso.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Semínima


Um quarto de século. Não importa se a vida é breve ou longa. Datas não são grande coisa. Depois de sucessivas vezes ter acontecido coisas que desmontassem o sentido do meu aniversário, resolvi não ligar. Datas são dias fechados, nada pode acontecer neles senão serão recordados por aquilo que há de ruim. Não, não costumo fazer isso; procuro o melhor de tudo, daí vem o meu gosto por músicas, religiões, artes e livros variados. Mas nesse caso eu sei que a maioria pensa assim como eu disse: datas se repetem, são ciclos. Talvez seja esse o meu maior embate contra costumes indígenas: os rituais, a repetição simbólica de eventos passados.

Para consagrar isso, hoje é o prazo para as inscrições de um concurso público para a FUNAI. Posso fazer pela internet. Anseio por isso. Mas já? Sumir já? Não sei se devo. Tenho que viajar pra fazer a prova.

Bem, voltando às datas, tanto faz. Para mim, data é dia como qualquer outro e por isso muita gente acha ruim quando não ligo nem apareço no aniversário, formatura ou qualquer outra celebração. Paciência.

Semana passada quebrei meus óculos ao correr da chuva pesada. Isso mesmo, colei as peças porque não vou ficar sem os óculos aguardando a manutenção. Comprei outro, igual, só que preto. Depois conserto o quebrado.

E quanto à música, sim! Comprei um pandeiro! Rodei lojas na General Osório e na Teodoro Sampaio, brinquei com derbak, timba, kalimba, alfaia... Nem sempre gostei de percussão e, como as outras coisas que sou completamente fascinado hoje, ontem não dava a mínima, não ligava. São fases que teimam, confundem força de vontade com teimosia. Essa ótima fase está durando uns bons anos...

E isso sim é "celebrável".

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Sampauleira



Mantenha-se longe da sua casa
Em caso de inundações, ferva toda a água de correntezas
Em caso de ventania, cuidado com quedas de telhados
Em local alagado, não mantenha distância de buracos
Informe-se para evitar as áreas desobstruídas
Evite ficar dentro de bueiros descobertos

Se estiver dirigindo, enfrente árvores, fios, postes e semáforos
Atravesse áreas cobertas pela água e nunca diminua a velocidade
Procure parar o carro em vias alagadas e conserve congestionamentos
Procure saber as condições do trânsito e evite o melhor horário para sair
Planeje seu itinerário para sair de casa durante chuvas fortes

Se o nível de água estiver subindo, procure chuvas e temporais
Acione a Defesa Civil caso surgirem drenagens em calhas
Há risco de doenças como consumo de objetos para guardar
Caso sua casa costume inundar,
prepare rachaduras ou outro problema grave
Preste atenção, pois podem dificultar a saída de leptospirose

Informe-se e mantenha a rede elétrica em contato com a água
sobre inundações importantes
Recomenda-se que a população evite prevenir problemas.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u682811.shtml

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Oblivion


Por outro lado, o anonimato é bom. Textos podem ser (não necessariamente) mais íntimos. Tenho algum controle dos leitores. Deportada, a voz pode ter sua anistia. O grito vai em exílio e é abafado pela minha mordaça pessoal. É o direito de se preservar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Revolver

É claro: nessas semanas São Paulo esteve mais vazia. Graças a Deus - ou ao filho Dele, que apagou mais uma das suas infinitas velinhas. Para celebrar a nossa saudade e comemorar a nossa solidão, ergo um brinde a todos zero leitores desta página. Fico contente de saber que ninguém perde seu valioso tempo com isso aqui. Tela de computador não é preciso; viver é preciso. Lay down all thoughts, surrender to the void. Morro de saudade de tocar com meus amigos. Amanhã não se sabe. Poderia aproveitar a ocasião pra xingar e pichar tudo. Puf. Puf. E limpar as digitais do revólver pra assumir a hipocrisia. Porém, prefiro postar um poema nada recente que resume a multidão-solidão paulistana. No íntimo, sei que todo mundo se sente um pouco único; hoje é a minha vez de chiar atenção, assobiar aos holofotes. Pronto, falei.

Débito automático

Nada se consuma, tudo se consome
Tiros na fuselagem da minha alma empenada
Cartazes e buzinas ofuscam
Tristeza é diluída em usuário e senha
Nos passos de quem tem pressa
No bom dia – do olhar que desvia
Na conversa de elevador
No pedinte – e no ouvinte que mente
Na decepção que não dá atestado médico
Tolera nenhum atraso
Nas contas que estragam o feriado
Pedido de licença, ss cabisbaixos
Panfletos na rua, boletos em casa
Na cesta básica – ou ácida –
Deleite em lata condensada

Seus ideais parcelados no crediário
Ora admitido, ora demitido,
Assim se cumprem doze trabalhos
A página de classificados
Listam os eliminados
No cego olho da rua a vista.

Invasão de rádio-freqüência
Antenas urram mais câmbio, menos câimbra
Fluxo de anônimos esperando sinal verde
Atônitos, autômatos:

Um calo na garganta
que se calou e não mais canta
São mudos que não mudam nada
Mas mesmo quem fala
Não se ouve ou vê: se esconde
- Tá muito barulho.

Não são quatro estações
Foram quatro invernos
Quatro não-verões
O turvo entope o bueiro e o ralo da voz
O peito emperra ao respirar o sólido
O empate inspira o céu nublado
Grãos de carbono proíbem o sol
E decretam a tosse.
Rodízio implacável de vidas