
Um fato numa data simbólica. O espelho que os tupi-sei-lá ganham hoje é a energia elétrica. Em troca, não podem pescar. Já que o condomínio alagou em janeiro, não há motivo para não fazer o mesmo na aldeia.
Mato. É tão distante. Basta subir num bicho desses, problemas nas turbinas e, bum, sobrevivemos alheios ao "mundo". De repente, faz-se uma viagem no tempo, quando as costas eram curvas não pela tv e sofá. Sola da mão, palma do pé. Comer uns aos outros, grunhir abaetés, piatãs e iuruitás.

Fico contente em batizar cidades com suas palavras, assim como estradas com nomes dos outrora "amigos" paulistas com suas bandeiras. Irônico. É divertido dar a seta e mudar de faixa nas supostas vias onde os assassinos abriram picadas. Tudo em nome do avanço, do moderno necessário. Mas não é bem disso que é feita minha defesa na banca.
Amo o progresso. Novas estações de metrô, mais tempo, esteiras rolantes, elevadores, embalagens eficientes, obras. Minha ansiedade se estampa nos dentes a mostra quando vejo tapumes, madeirites e andaimes ou novas cores nos pacotes, imaginando o novo sabor ali dentro. Visão panorâmica, elevador, tudo visto do alto.
Tapuio e trigueiro, nasci sob o frescor da sombra do capitalismo. Berrando, sem bolsos. Com o tempo, cresci com agência e conta bancária em atrito com a cruz e igualdade. No entanto, apanho pra entender porque alguém pensaria mais em Edison do que em Malthus.
Eu falei demais.
Vou ficar na oca, mesmo que represada pela barragem. Deito fora minhas coisas, a canoa. Eles pegam esse cabo de alta tensão. Enfiam no chão. Estou descalço e finalmente sinto o calor que é digno ao silêncio.

E bits e pixels somem neste texto que ninguém leu.
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