quinta-feira, 6 de maio de 2010

Santiago

Um filho.

Os homens se imortalizam em livros. Suas palavras são repetidas pelos matriculados, que se ecoam em seus bordões. Não faço parte desse imundo.

Essa gente olha a janela, mas o olhar para no vidro. Ou miram o olhar refletido. A retina se retém e não permite a paisagem.

Eu desprezo a pretensão de ser mais eterno do que já sou.

Tolice deles. Dizem que ter filhos é minha vaidade e meu egoísmo, que o mundo é cruel e que nenhuma tragédia se justifica. Coitados, não veem; não tenho cetro algum para passar adiante. Só tenho cartas, uma gaveta e uma canastrinha que guarda tudo que aprendi.

Chamo o ato e o parto de milagre. O filho é um milagre. Podem desistir e se livrar da palhaçada de "projeção". Não projeto nada no meu filho. É uma nova vida, não a continuação da minha. Ele vai ficar guardadinho, quieto, ansioso pra sair da pança e pegar coisas e colocar na boca e pular e sair correndo. Todo recém-prematuro. Vai criar contas, um berço no quarto, noites sem dormir. Um pequeno passo para o menino! E a imensidão é pouquinho abandonada, só para aprender e ensinar comigo e com ela.

No "final" - aquele final que os tolos ditam, aprisionados nos livros -, ao lado dela, seremos embalados e ninados no colo dele, até o casal cair no sono e fechar esses olhinhos abraçados.

Um comentário:

  1. A Ju tá grávida? E é assim que vc conta pra gente??? kkkk
    Tá, eu sei que não, não dá pra fazer filho pela webcam - ainda. Mas eu penso também que um filho não é uma continuação de nós mesmos, embora tenha em si muito de nós. Passamos a eles muito de nossas opiniões, gostos e parte do nosso legado, mas a independência deles como pessoas diferentes de nós deve ser sempre respeitada.
    Acho que vc será um bom pai!

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