terça-feira, 28 de abril de 2009

O impasse e as tralhas

A professora de Música no Brasil Colônia ia colocar o áudio da "Missa abreviada em ré", de Manoel Dias de Oliveira (c1735-1813). O Windows Media Player imediatamente começou a tocar Give It Away, do Red Hot Chili Peppers! Hahahahaha!!!!

Sim, adoro história, amo música. Ultimamente é o que mais tenho tido prazer de estudar. Eu ia escapar disso, mas um dos meus trabalhos vou contrastar texto bíblico em Chico Buarque e Legião Urbana. Deixo de lado as proposições do Tractatus do Wittgenstein, a lógica do Frege, até os ensaios literários do Auerbach pra ficar lendo coisas "pra vida", não pra prova alguma. Ultimamente nem isso; preciso me dar uns puxões de orelha.

Po, não resisto. Concordo com o Rafael Cortez, não se fica sozinho quando se tem um violão. Pode estar banguela, faltando corda - não é o caso do meu. Pode estar desafinado - não tem problema, eu também sou quando canto. A Dai tem motivos óbvios pra sentir ciúmes quando eu começo a tocar - eu esqueço o mundo! É uma máquina que dilata o tempo! Antes eram os acordes básicos, depois essas pancadas na madeira, agora essa mania de pinça e dedilhado, e batidas de bolero tocado rápido como se fosse o mais puro flamenco. Deixa eu me iludir! Eu comecei a estudar violão clássico há pouco tempo, mas tive que parar por causa de horários. Continuo, mas não como eu queria.

Vivo o impasse. De um lado, o dever (e atual motivo de eu morar em São Paulo e não em Santos) de estudar com os melhores professores do país na minha área, entender bem do que estudo, mas não me interessar por estar saturado. Creio que cheguei no ponto de quem já está com o canudo: ama, respira o que faz, não quer mas precisa ter aulas daquilo cinco vezes por semana - e quer começar a criar renda, colher os frutos do estudo. De outro lado, quero começar a estudar música, porque depois de seis anos cantando rock, de três anos conhecendo música brasileira, percebi que o violão não é só um móvel no meu quarto, e que minha voz deve e pode ser aprimorada. Ironia ou não, estou começando a ganhar dinheiro com isso, e olha que eu ainda não dei início a qualquer estudo sério de violão, voz, percussão ou gaita (meus instrumentos prediletos são os acústicos), por falta de dinheiro (não trabalho pois recebo uma bolsa de pesquisa), por falta de tempo (tenho aula, lembra? até no domingo) e de espaço (capital ou litoral; escolha). Vivo o impasse.

E foram essas faltas que me motivaram a cortar gastos. Estou mudando para o Crusp, e vou ser vizinho da Dai! Tem muitas vantagens, claro, além de estar mais perto do metrô, ou pelo menos da Ponte Orca, além do gasto zero com condomínio e aluguel, poupo tempo. Duas viagens de mala e cuia, quarenta minutos de ônibus no que normalmente faço em vinte minutos a pé. Pode? Pesado que dói. Não tenho muitos livros, e estou longe de ter uma prateleira legal deles. As roupas, as caixas de som e o micro-ondas dado pela minha prima Tamara quando ela terminou a faculdade vou tentar levar hoje, aproveitar a carona do Ro. Pois é, sair da minha república... Dividir o mesmo quarto com o Ro e com o Daniel não era a coisa mais organizada do mundo, mas era divertido. Vou sentir saudades de tocar as músicas velhas da Dellusion no violão com eles cantando, vez ou outra. Vai fazer falta aquelas palhaçadas com o Ro, quando ele chega do trabalho. Os papos sobre RPG com o Daniel vão fazer falta, mas as politicagens não. Foi acolhedor chegar em São Paulo em 2006 e já ter um cantinho pra jogar minhas tralhas e estudar o dia todo. Lembro que, na época, não conseguia estudar em casa, e me matava na biblioteca toda manhã e toda tarde. O ritmo diminuiu do nada, e hoje é mais raro - prefiro ler descalço e apoiado do meu jeito onde estiver, o que podia fazer só em casa. Uma coisa que me preocupava era o número de assaltos no caminho até a república. Era sempre; nunca aconteceu nada comigo. Vigilância, pois é, é sintonia - o resto é pura sorte, se é que isso existe. Sem divagações: muitas vezes hesitei em continuar morando com eles, pois gosto de ter o meu lugar do meu jeito. O que me segurou foi a tolerância com a bagunça e sujeira, quando eu mesmo não aderia à elas. Isso mudou minha organização até em Santos.

Por falar em Santos... ah, depois.

Vou pegar uns livros pra Dai e vou jantar. Pra variar, já deu fome.

Um comentário:

  1. Politicagens. Humpf.

    Mas saudades.
    Belo blog, o li de cabo a rabo, em uma sentada, enquanto deveria estar no século XVI. Engraçado como, ao lê-lo, lembrei-me tanto do anterior, e de sentir a mesma coisa em relação a este. A última poesia que escrevi, era quando você estava aqui... Você me faz e sempre me fez poeta.

    Por isso já não escrevo, senão como DA ROSA, Daniel.

    ResponderExcluir