quinta-feira, 17 de março de 2011

Renúncia de todas as renúncias

Como disse, outras decisões foram tomadas. Aqui vai uma carta aos meus companheiros de causa espiritual. Foi escrita no dia 25 de fevereiro de 2011 e tudo isso é muito vívido em mim. Significa o rompimento de um compromisso espiritual que extrapola qualquer significação de horário ou importância de rotina mundana. Depois de quase sete anos de convívio com os valores cristãos que hoje me compõem, percebi a distância entre estes e os hábitos que formam a instituição.

Sofrerei as consequências dessa decisão, sem medo. Acredito na pregação por conta de gestos, e assim farei de agora em diante, sendo como sou, santinho ou não. É uma decisão mais do que certa. Não tenho dúvidas e, apesar de não estar disposto para tal, estou aberto a discussões.




Olá a todos.

Eu prefiro conversar sobre isso pessoalmente, mas acho melhor abordar o assunto primeiro por escrito.

Antes de qualquer coisa, preciso avisar que isso se trata de um pedido de desculpas. Desculpas porque me sinto deslocado dentro das minhas responsabilidades, sejam elas obrigações ou deveres que assumo com prazer. Infelizmente, não consigo me dedicar com integridade a quase nada daquilo a que me propus. Pior; não consigo me dedicar dentro do mínimo aceitável, seja o mínimo das minhas próprias cobranças ou das alheias.

Já comparei minha situação e minha rotina com a de muitas pessoas do movimento de Mocidade e com as pessoas de fora. Às vezes, penso que posso como todos os outros, mas assumi que são casos diferentes, assim como cada um de nós tem um momento para despertar para uma vida de renúncias.

Não tenho disposição nem tempo para estudar, trabalhar e ser um trabalhador na casa espírita. Não ao mesmo tempo. O ano passado foi uma prova difícil e desgastante para mim. Foi o ano que percebi que teria que trabalhar, estudar para a faculdade (bacharelado), estudar para a licenciatura da faculdade e também estudar para o vestibular. Pouco a pouco, transformou as coisas que amo fazer; transformou cada uma delas em tarefas cansativas. Não conseguia elaborar uma aula de Mocidade com uma boa estrutura ou com dinâmicas, e agora, menos afogado, ainda não consigo. O improviso serviria para qualquer um, e não para o dirigente. O papel do dirigente de Mocidade não deveria se pautar exclusivamente no improviso, mas sim no preparo prévio, na presença em reuniões, na satisfação dada ao secretário, à casa e aos alunos, conforme diz o Vivência; e não na displicência, na auto-piedade e em enganar a mim mesmo e aos outros quanto a poderem contar comigo ou não.

Amparo da espiritualidade nunca me faltou. Também não faltou amparo da regional ou da casa, pois sei que não duvidam do potencial que tenho e que muitas vezes não enxergo em mim mesmo. Quanto mais aflito estou com minha disponibilidade para com o trabalho na casa, mais minha guarda aumenta, como uma compensação natural. Mas simplesmente não posso mais. Eu quero muito chegar ao ponto de não pensar se posso ou não comparecer a uma reunião, e não está dando. Antes não tinha problemas quanto a isso, pois não tinha assumido todos os compromissos que assumi.

Quero que eventos como o deste sábado (faltar em uma aula que não pude comparecer por precisar ficar em São Paulo) não se repitam mais. Não quero ser relapso em tudo a que me proponho. Assim como a Mocidade, vou pausar várias coisas que eu já tentava fazer. Abandonei a licenciatura da USP. No ano passado, não pude ir ao Encontro Geral, e descobri recentemente que neste ano também não vou poder. Já não tenho mais banda também porque eu não podia ir aos ensaios nem tinha tempo para praticar sozinho. O tempo livre que me resta eu descanso na internet ou com séries. A faculdade, que passei no vestibular para fazer um novo curso, só vou começar no ano que vem, apesar de já estar matriculado. Por conta do conflito com o horário da turma de mocidade, deixei a única caravana da EAE que eu podia fazer, já que estou em São Paulo durante a semana, o que também me mantém distante fisicamente dos assuntos da ACEIT. E vou deixar meu emprego para procurar algo que me pague melhor.
Conto com a espiritualidade e com minha compreensão em cada uma dessas etapas.

É importante deixar claro que não tenho problemas quanto à falta de alunos. Se eu estivesse no GEAE ou no FEUM, eu também teria detectado esses problemas comigo. Acredito na causa e nunca me deixei abalar por problemas da casa. Muito pelo contrário; eram esses problemas de estrutura que faziam eu me sentir mais participativo. Não questiono minha relevância na Mocidade da ACEIT, pois também sei que cada um é muito importante, principalmente quando só temos uma turma e com dois trabalhadores.

Se não bastassem todos esses impasses, ainda tenho o peso de fazer meu futuro funcionar. Preciso economizar para me estabelecer em São Paulo, onde durmo na sala para morar de graça, sem pagar contas de água ou luz. Se não fosse assim, não daria e já teria voltado para Santos, onde não vejo espaço para mim. Esses problemas não têm nenhuma relação com o centro ou com a turma de mocidade, eu sei. Em resumo, sim, eu estou colocando a minha vida pessoal e material em primeiro lugar nesta fase, porque preciso dessa base para poder me dedicar integralmente a tudo que gosto e amo, como a Mocidade ou qualquer outro trabalho na casa espírita. Quero fazer uma nova EAE e estudar para ser expositor.

Minha saída talvez signifique que o Edson assuma mais responsabilidades. Na prática, essas responsabilidades já eram exercidas por ele em grande medida, já que eu estava longe. O que mais fazíamos era ensinarmos uns aos outros, o que foi um combustível para todas minhas e tuas semanas durante esses anos. Não espero que isso deixe de existir, viu, Ed? Aguardo que novos alunos apareçam logo, já que somos jovens e temos sede de passar adiante o evangelho com a doutrina.

Creio que eu tenha sido claro. Perdão pelo tom sério, mas não devo ser em todas as horas o mesmo Thiago comedido. Em um momento de desligamento como esse, não seria adequado nem digno poupar palavras.

Abraços a vocês. Obrigado pelo apoio nestes tempos.
Até logo.

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Thiago Augustinho
יעקב וגוסטין

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