segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Estudio con Trabajo


Me lembro de um colega que precisava vender seu violão. Eu tinha uns amigos que tocavam juntos e eu mesmo começava a arranhar a garganta com algumas músicas naquela época.

O violão foi um acaso, o empurrão que faltava. Foi ao mesmo tempo em que comecei a cantar. E como tive facilidade, aprendi rápido o básico dos dois. Peguei fácil a pestana, mas sempre tive dificuldades com a velocidade dos dedos. Apostei em acordes e por muito tempo só aprendia músicas por sites de cifras. A coordenação motora para dedilhados veio com músicas próprias da minha banda de rock, fazendo do violão o instrumento mais fiel nas mudanças dos meus gostos.

A gaita foi um surto de quando descobri o blues. Estava viciado em Gary Moore, Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan e nem tinha parado pra ouvir Robert Johnson. Namorei vitrines na Teodoro Sampaio e peguei. A gaita é portátil, leve e não é cara. Aprendi muito pouco, não tirei muitas músicas e acabou encostada. Vez ou outra prometo retomá-la.

O pandeiro e todos meus instrumentos de percussão vieram bem depois que descobri o samba. Foi quando comecei a estudar teoria musical. O estudo era prático, todo baseado em ritmo. Os exercícios me salvavam de qualquer congestionamento - e os demais passageiros do ônibus não entendiam o que aquele maluco fazia lendo um caderninho e batendo pés e mãos, ainda que tentasse ser discreto. Ganhei calos novos e, por incrível que pareça, me ajudou muito a ter coordenação de cantar e tocar violão. Seu problema era o barulho para o estudo, então dei atenção muito mais aos ritmos do que aos instrumentos. Nessa fase experimental, me sentia o Hermeto, só que mais bronzeado, usando pau-de-chuva, kalimba, berimbau, ocarina, triângulo, surdo, ganzá e garrafas numa parceria que ainda acho que não acabou.

O charango foi quando me entreguei aos indigenismos e hispanismos da América. Já havia pesquisado bandas do Nordeste e Norte do Brasil, mas não tinha ultrapassado as fronteiras do país. Não tinha mais banda de rock. Quando percebi que lá fora se faz música popular e rentável cada um à sua maneira, vi que a diversidade não é exclusivamente brasileira. E foi sentindo o som do charango vibrando na altura do peito - o lugar onde deve ser tocado -, vi que não era só um gosto, uma mania qualquer. E as dez cordinhas entraram para o time.

O que todos têm em comum? Sim, podem ser carregados de cima pra baixo. Não são pianos de cauda, mas reunir tudo dá um bom peso. Enfim, todos são acústicos. Mesmo com toda a minha formação contrária a tudo que tá aqui, logo acima, tendo contato muito maior com rock e instrumentos elétricos, sempre preferi o violão - e o de cordas de náilon, o mais distante do rock que ouvimos hoje.

Resolvi obedecer a tendência que negava, graças à distância que tive deste mundo de palco e estúdio com taxímetro. A falta fez com que mudasse. O mais próximo que cheguei da tomada foi quando comprei meu microfone e quando comprei um condensador, que há mais de um ano não vejo. Decidi perseguir uma vontade velha, aliada ao meu gosto antiquado, à sonoridade vintage e ao meu grave. Comecei a tocar baixo.

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