terça-feira, 9 de março de 2010

Ganga de Vil Metal


"Deus é o teto da casa
O diabo é a porta dos fundos"
Deus e o Diabo, Titãs


Abriu a porta, começou a entrevista
Não é estrela nem capa de revista
Esboçou na voz sua rasa ambição

Há pouco enchia de quinas sua silhueta
com o correr das horas numa pulseira preta
Com o estar apático e estático até então

Disfarçou o brilho de suor
E arriscou uma cortesia opaca e pior
Arruinando a seriedade de antemão

Iniciou na cadência regular da sulfite
Uma lista singela, um possível palpite
Currículo sem estrela, um mato sem cão

Temeu muito se apresentar pelo nome
Ainda assim o fez, esqueceu do medo que sentia do homem
Que sentava à sua frente, na frente de um trovão

Fio grosso de etéreo carbono flutuante
Levava pouco a pouco muito da sua saúde de implante
Erguida no canto da boca, de pé no chão

Assim era a casca de linho do senhor poupança
Que por dentro era pobre, cheirava a cobrança
Envolto de milhões de gravatas costuradas a mão

O pobre lamentou seu nome de pessoa sem sua graça
Caiu-lhe a ficha criminal de sujo na praça
Porque antes devera a um burguês um tostão

Implorou perdendo toda a compostura
Se jogou de joelhos a roupa suja e escura
Sujeitando-se até a uma quase escravidão

O Seu Couro-caro então sorriu olhando o ar
Que quisera arremessar milhos antes dos joelhos o chão tocar
Para outro pranto parar da lágrima a aproximação

Disfarçou seu riso tolo, todo untado a ouro
E abaixou a cabeça, sem cair a coroa de louro
E propôs lhe dar algo com valor de latão

Jogou no chapéu do pobre um tilintar banal
Que mais lhe era ganga de vil metal
Pois lhe renderia algum pão

Um sujeito que não podia usar chapéu
Amassara o pão nosso que estava no céu
E logo percebeu que não era só um humilde varão

Viu que era um jovem de uns tantos mil anos
Que como proletário áureo, devia traçar planos
De uma pujança de mais alto calão

Antes, ao entrar na sala, era só a negra corrupção
Então ele disse que o verde deveria existir na escuridão!
E assim foi gravado no papel o sifrão

Tentou o caro amigo caro a pegar atalhos
E ele tropeçou, caiu, e o seu tenro terno em retalhos
Rompeu o seu fraco status de franco patrão

Assim aquele saciou sua sede, sua ânsia
De se consumar como o eterno consumidor de vingança
Assinando como um bonzinho vilão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário