quarta-feira, 29 de maio de 2013

Os Intocáveis


"Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar"

Chico Buarque em "Apesar de Você"

A revisão da lei da anistia parece ser ilogicamente unilateral. Só parece, pois tem seus motivos para assim ser conduzida.

Vamos cogitar a bilateralidade dessa revisão proposta pela Comissão da Verdade. Que nos nossos sonhos mais otimistas essa comissão contemple o julgamento do terrorismo de esquerda – como se luta armada, quando mistura pólvora e ideais, deixasse de ser justificável. Dentro disso, em números razoavelmente acessíveis, podemos arriscar que o regime militar matou e torturou muito mais que a insurgência subversiva – ignorando, claro, as invasões de propriedade no nordeste, sabotagens de plantações, os crimes de guerra do Araguaia etc, fatos que não foram sistematicamente apurados depois da abertura política do país.

No período 1964-1984, se a esquerda é inferior em números no ranking de crimes, em tese os subversivos seriam uns gatos pingados. Daí a ilógica, presente mesmo sem a bilateralidade que propus aqui.

Com base nisso, pergunto: quem seriam os investigados? Dentre os subversivos, quem são os responsáveis pelos sequestros, assaltos a bancos, assassinatos, façanhas tão inexpressivas frente aos homicídios, exílios, estupros, censuras e tantos outros feitos opressores que os militares cometeram?

A pergunta vale um milhão. Vale pro resto da América Latina.

Só pra citar alguns: um bispo, um pastor de lhamas, um casal de advogados, dois tenentes-coronéis, um motorista de ônibus, dois economistas, um vinicultor, um torneiro mecânico e uma médica. Hoje não exercem essas funções e por isso ninguém está disposto a peitar essa gente.

Apesar de parecerem ideologicamente opostos, regimes fascistas e socialistas se assemelham em tudo. Se pararmos de culpar um lado só, não sentimos diferença entre a suástica e a foice com martelo.

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