quinta-feira, 30 de maio de 2013

Eles não pensam naquilo

Assim como ver transmissão de esportes internacionais, acompanhar uma eleição de outro país é uma tarefa ingrata. Comecei a pensar nisso ao ver notícias do exterior e as reações de formadores de opinião daqui.

Todos se lembram de quando eram pequenos e de como ignoravam telejornais – ninguém é Lisa Simpson ou Mafalda do Quino. Hoje restam alguns cadernos de jornal que despertam essa ignorância infantil nos adultos.

O brasileiro que larga o horóscopo e se arrisca a ler notícias em inglês se assusta com a mídia estrangeira. Percebe que a política e a economia brasileiras são descritas ao avesso do que se faz por aqui. Mesmo que mais aproveite seu inglês fluente para ver seriados sem legenda – o que também faço e não recrimino –, o sujeito tem chance de se assustar ou desacreditar e às vezes quer morrer quando um jornalista gringo diverge dos nossos grandes veículos de informação, indo de encontro ao povão, ou diverge dos portais de notícia "esclarecidos", indo de encontro com a classe média "engajada".

Essa fronteira entre as mídias é justificável pela distância. Ainda que perca muitos detalhes, perceptíveis apenas quando se está próximo, o observador distante tem o panorama em seu benefício — e aqueles detalhes passam a ser somente distrações na percepção do todo. Esse benefício faz com que o texto seja mais seco, impessoal e com menos indignação, na contramão do que vê lê no Brasil. A ausência da visão próxima auxilia a análise e, apesar disso, faz desta incompleta, assim como uma análise qualquer, sujeita a erros. No nosso lado da fronteira, é exatamente o que fazemos ao abordar uma eleição que ocorre em outro país. Não é tão arriscado dar ouvidos aos gringos.

A trajetória de um ás do drible, a campanha de uma seleção em um dado campeonato europeu, as probabilidades do mercado futebolístico; são miudezas que se enquadram nessa teoria da distância. No final, o conhecimento desse campo de conhecimento se resume a especulações de mesa redonda e, junto da engenharia de trânsito, astrologia e a meteorologia, compõe uma das ciências do acaso.

Exemplos melhores para reforçar essa analogia são os demais esportes. Mais grave do que futebol, ler ou falar sobre política estrangeira no Brasil beira a citar grandes atletas do tiro ao alvo ou rasgar o gogó discutindo regras de bocha. Não se trata da relevância desses assuntos, o sexo dos anjos; mas tamanha é a distância e a falta de vontade de se ter conhecimento sobre o assunto que a análise vira besteira, verborragia de vozes que se sobrepõem.

É fácil ir comprar pão e achar um Safatle por esquina, um Jabor numa banca, um Sader sentado na praça. Vai atravessar a rua e olha pros dois lados: de um é o Neto e o Galvão Bueno discutindo culinária, do outro é a Ana Maria Braga e o Louro José falando sobre desemprego. Aí aperta o passo pra chegar logo em casa e na porta está o Bial arrotando platões. É um sintoma sério começar a compactuar com esses formadores de opinião.

Vários tentam debater o tema tendo por base o “esporte” que mais conhecem: literatura, teologia, história, estatística, sociologia, linguística (como eu), mas raramente ciência política ou economia. Alguns grupos de leigos se atrevem e falham terrivelmente, mas em geral não há quem tenha critério para reconhecer essa falha nas tentativas; e assim, todos acatam as suposições.

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