sábado, 13 de abril de 2013

Rubro arco-íris

Recentemente, a cantora Daniela Mercury assumiu seu relacionamento gay. Todas as fotos que circulam pela web são lindíssimas e provam em grande estilo que um relacionamento homoafetivo pode e deve ser tão feliz quanto o de um homem e uma mulher.

No íntimo, sei que a completude de um casal depende muito da criação de filhos. Por questões pessoais minhas – que seriam facilmente derrubadas pela facilidade de adoção de crianças – entendo o relacionamento gay como uma interação incompleta, além dos habituais valores cristãos que tenho, os mesmos valores que me garantem a tolerância, amizade e bom trato com pessoas que caminham para um ponto oposto ao meu.

Pouco antes da exposição midiática da Daniela Mercury, outra cantora, Joelma da Banda Calypso, expôs seus princípios sobre um filho seu e um possível ato deste sair do armário. Dificilmente ela encararia com a mesma naturalidade que se encara por aí, entre as pessoas que defendem com unhas e dentes as causas gay e de demais minorias. Ela é evangélica.

Deve-se considerar que Joelma responde a valores cristãos, e com isso também segue uma cartilha que carrega um calvário inteiro dessa fé, que atualmente faz frente a Calígulas, Cláudios e Neros dispostos a incendiarem a própria casa e causa (como militantes que criticam padres homossexuais ao invés de também inserí-los no portfolio de minorias).

Defendo as duas. E explico o porquê.

A Joelma, além de seu direito de fé resguardado pela lei, tem direito de liberdade de pensar o que é melhor para seus filhos desde que não infrinja qualquer outra prescrição também legal, como o tão mencionado Estatuto da Criança e do Adolescente, independentemente do que se acha ou se prega por aí. Se nesse afã por privilégios de minorias ela quiser que as filhas passem a usar burca por algum valor de conservação de costumes ou por alguma interpretação bíblica tradicional que liga o profeta Maomé a Jesus, tudo bem, uma vez que as filhas estejam sobre a sua tutela e ela, melhor que o Estado, as conhece e pode julgar o que lhes é mais adequado. Como meter um sarrafo, por exemplo.

Ela é uma figura pública e sua declaração tem um impacto que extrapola a posição política, religiosa ou familiar. Por ser pop, sua opinião tem forte influência sobre seu público ou sobre quem se identifica com sua origem social. Isso em si não é o problema, pois acontece na classe média (com artistas de classe média) etc. A pedra no sapato está na distância entre ser evangélico conservador e ter origem simples, pobre, gostar de forró paraense. Pessoas que normalmente não concordariam com a Joelma, e apesar disso são seus fãs, estariam inclinados a assumir o seu lado.

A inversa, igualmente verdadeira, não é um problema frente ao novo paradigma gayzista da sociedade. Daniela Mercury teve um "ato de coragem" e não "um ato irresponsável de ser uma artista com muitos fãs que não pensou que estes podem seguir cegamente sua posição." Não há segredo em perceber o que há por trás desse gesto. Tudo é em vão, desde as tentativas banais da mídia conservadora em diminuir a atitude de Daniela, até a súbita legião de fãs que ela conquistou só por assumir uma bandeira gay. Respeito e apoio a decisão da cantora e fico muito feliz em saber que, apesar da pressão "religiosa" em defender leis exclusivistas, homossexuais têm seus direitos civis (repito, civis) garantidos. O homossexualismo deve sim lutar pelo direito de casamento civil. Apenas não concordo com o revanchismo que essa luta assume quando se fincam bandeiras nessa causa, pois a garantia de direitos aos homossexuais vira mero instrumento de revolução – fato que muitos gays não percebem, para a tristeza geral.

E por que defendo a Daniela? Simples. Por ser cristão, entendo que não há melhor testemunho do que a vida da pessoa. Não conheço sua rotina, sua idoneidade; vim de uma escola que prega que uma mão não mostra à outra o que faz, fato contrário ao apelo midiático da cantora; mas ainda assim reconheço em seu gesto algo muito sincero. Não faço dela melhor nem pior por isso, a contrário do que vejo por aí, com pessoas que se agarram nela só por ser gay. Defendo a Daniela porque sua vida correspondeu ao que acredita. Pensando nisso, não creio que sinceridade valha mais que valores sóbrios, mas percebo em seu gesto a prova transparente que pode fazer libertários "conservadores" como eu (perdão pelo paradoxo) repensarem toda a questão.

E já que ela usou um relacionamento pessoal como panfleto de mass media, eu ficaria muito feliz que seu gesto também gerasse reflexão nas bandeiras gayzistas, que repensassem seus valores revolucionários; que passeata esquerdista, satanização de pastores ou credos, intervenção na vida dos outros quanto ao dízimo, enaltecimento de impostos para políticas públicas muito superiores à ajuda religiosa, revisionismos bíblicos e afins, tudo fosse finalmente encarado como futilidades que só fazem água. Por que privilegiar uma cor entre tantas que compõem a bandeira gay?

Fora disso, todo cristão que acha que tem de levantar piquete não passa de Judas. Evangelho não precisa de defesa. Abra a caixa registradora, pegue suas trinta moedas e vaze daqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário