terça-feira, 16 de abril de 2013

My ass über alles

Vamos chover no molhado, já que pra muitos talvez não esteja molhado o bastante: o descontentamento com Marco Feliciano é o resultado do ódio pelo outro.

Novamente, dessa vez por todas. Como todos os outros deputados, ele foi eleito legitimamente. Em tese, não necessita de recontagem de votos. Aquele que votou nele obviamente acreditava que Feliciano pudesse ser um bom deputado representando os valores de quem votou etc, assim como quem votou no Tiririca acreditava que em Brasília faltava palhaçada.

Achou ruim? Então você é contra a democracia. Você quer golpe. Derrubar alguém de seu cargo é silenciar o grupo de pressão que ele representa, ou seja, os evangélicos – e nisso todos cristãos entram na roda. Se ele toma alguma medida inconstitucional ou faz besteira, ele pode ser "demitido por justa causa" (lembrando que ocupa um cargo público), parecido com o que mereceu Collor com o quase-impeachment de 1992.

É mais simples de se entender do que eleição de reitor da USP. Aliás, se você é aluno de lá e não quer outro reitor como o João Grandino Rodas, esse problema pode ser resolvido se o governador eleito (que escolhe o reitor dentro de uma lista de três candidatos selecionados previamente pelo Conselho Universitário) for petista: aí até sindicalista pode ser o novo reitor, se você quiser. É só você eleger um petista. Pronto, você já está representado.

Agora, se seu grupo de pressão é pequeno e não consegue se sobrepor politicamente, só resta puxar o tapete dos demais. Reinvente o conceito de "minoria" e se ponha nesse lugar. Se jogue no mar e grite "socorro", cave falta, grite "pênalti". Pode espernear, ganhar as redes sociais, as ruas. Corra atrás do osso.

Como muitos, discordo desse deputado e por mim ele não estaria lá. Sequer essa comissão teria esse nome: sei que "Direitos Humanos" é hiperônimo de "Direito de Minorias", e compôr uma minoria não te exclui de ser um humano. Obviamente, para quem o quer fora a qualquer custo, a intolerância e outras questões ideológicas são atentados muito maiores à política do que corrupção ou formação de quadrilha. Opinião da intolerância é tão maior que a corrupção que se deixassem teria fogueira, forca ou guilhotina. Todos babando ensandecidos com os olhos veiúdos pra urrar a morte do "intolerante" em rede nacional.

Mas vamos falar de coisa boa

A multidão de católicos não-praticantes caiu no papo: fez questão de esquecer tudo da catequese para perpetuar a nova releitura laica da cristandade.

O deputado Marco Feliciano é pastor da Assembleia de Deus. A sua fé se define por aquilo que acredita, por tudo que não aceita mas tolera e também se define por aquilo que condena.

Se esse pastor achasse que comer brócolis leva pro inferno, a denominação dele ensinasse assim e os fiéis seguissem, é óbvio que rotulariam todos que gostam dessa verdura de filho do capiroto, mesmo que fosse um ex-beatle¹. E vai achar razões para acreditar nisso, à revelia do certo ou do errado.

A questão não é ele condenar católicos. Outras denominações religiosas (e políticas) também condenam outros por muito menos e não são fundamentalistas, panfletárias ou proselitistas. Os próprios católicos, por exemplo, como também petistas e tucanos. O ponto de atenção é que se use um vídeo dele em pregação, ele "na qualidade de pastor"², para delimitar uma postura dele como deputado e promover o demérito de sua integridade.

Como político, Marco Feliciano já constrói provas suficientes contra si mesmo e não precisa desse tipo de ataque. Arrisco-me a dizer que ele talvez o faça até como cristão, mas até que não atinja a esfera pública, sua corrupção como pastor é um problema a ser resolvido em sua comunidade. Foi assim com Jesus entre os judeus.

Feliciano afirmou que antes de ser eleito, a CDHM era possuída por Satanás e coisas do tipo. Bem sabe ele que isso não se diz no espaço em que está, ainda que tenha direito de exercício de sua fé. Ali ele cumpre um papel público e responde a um Estado laico.

¹ Assista ao vídeo em que Pr. Marco Feliciano, em pregação, justifica o assassinato de John Lennon como gesto da ira de Deus.

² Aqui me refiro às palavras do Pr. Silas Malafaia em um texto que publicou recentemente na Folha Online.

Um comentário:

  1. Não sei dos outros, mas eu não quero que ele seja retirado do cargo de deputado. Ele foi eleito, ponto final. Meu problema é ele presidir a comissão. Se ele continuar deputado, ok. O que não pode é ele presidir essa comissão.

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