tag:blogger.com,1999:blog-29969401230498622622024-03-12T18:00:19.538-07:00tem que falarTomando a palavra com muita sede.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04768602209845535559noreply@blogger.comBlogger132125tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-22770547976068894512016-02-11T10:14:00.002-08:002016-02-11T10:36:44.115-08:009/11 Blockbuster<div style="font-family: '';">
<i><br />"Tá lá o corpo estendido no chão"</i></div>
<span style="font-family: "";">João Bosco em "De Frente Pro Crime"</span><br />
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Há um certo prazer coletivo mórbido em acompanhar eventos obviamente ruins. Escândalo político, atentado terrorista, vírus, tragédia ambiental, apuração do carnaval etc. Adoro todos eles.<br />
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Lembro que me indignava quando as pessoas paravam o trânsito para ver o acidente. Mais tarde descobri que faço igual quando o assunto é outro. Já tentei me justificar dizendo que é um sentimento humano e comum a todos, mas é só generalização. Isso soa muito <i>buzzfeed</i> e <i>science porn</i> pra mim.<br />
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O prazer coletivo mórbido não é apenas observar. Ele anseia por ser multiplicado, por expandir ao máximo o gozo pela tragédia. Não é só algo que escape da rotina: quem olha a vítima do acidente de trânsito quer prolongar aquela sensação.<br />
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Se isso soa absurdo, substitua o corpo por qualquer notícia chocante que lhe chame a atenção. Você vai ler cada linha. Vai se deleitar com o quem, o quando e o porquê daquilo. Vai cavar informações com mais sede e determinação que um bombeiro retirando escombros.<br />
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Chame essa curiosidade de qualquer coisa. É possível justificá-la e moralizá-la como bem entender. Minha predileta é "estou procurando saber mais pois quero evitar que isso se repita".<br />
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Claro, há tragédias que não despertam a atenção de determinados grupos. Estranhamente, casos de assédio sexual e operações da Polícia Federal não são objetos de deleite das mesmas pessoas. Quem compartilha desse prazer está lá para prolongá-lo. A tragédia é um fenômeno social que precisa ser comentado em grupo.<br />
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Uma das coisas que mais me marcaram sobre esse prazer, além dos memes e dos círculos em que se propagam, foi uma cena do filme "A Grande Aposta" (The Big Short, 2015). Não sei os detalhes da produção, mas sinto que Brad Pitt estava lá para ter o nome e o rosto no cartaz. Porém, vem ele com a cena que mais me marcou no filme. A tragédia ali era o mercado imobiliário americano. Os espectadores dessa tragédia (limitados a um grupo pequeno) ainda mexiam as peças no tabuleiro para reagir ao que viam e que poucos percebiam.<br />
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Num momento, uma dupla conta com a ajuda de Ben Rickert (Brad Pitt) e, ao perceber o quanto lucrariam com a tragédia generalizada, comemoram muito. E Rickert lhes dá um esporro por comemorarem aqueles números. Por trás daquilo, haveria mortes, desemprego e um desequilíbrio que impactaria pessoas de verdade, e não apenas números.<br />
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Estatísticas não despertam compaixão em ninguém. Quando falamos de gráficos e percentuais, não se vê quantas histórias pessoais serão prejudicadas ou os sonhos arruinados.<br />
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A corrupção exposta, por exemplo, desperta minha vaidade de que algumas decisões do governo foram grandes equívocos e que terão justiça. Meu prazer ao ver o avanço das investigações só considera o mal que será reparado; não levo em conta as futuras vítimas desse processo. Isso também vale para o caso do <i>crash</i> imobiliário americano e a reação da dupla de "A Grande Aposta" ao ver o lucro pessoal no futuro.<br />
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Não proponho uma lição de moral (pois já temos em excesso), nem uma relação de causa e efeito no distanciamento que a internet nos traz, nem nossa demanda bovina por notícias ou reflexões sobre relatos de terceiros. Apenas sinto que vale a pena observar a nós mesmos rindo do que rimos. Quando ignoradas as consequências, a tragédia é o maior dos entretenimentos, o roteiro mais atraente.<br />
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O número de mortos é o placar mais empolgante. Confesse.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04768602209845535559noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-81530012502626621682015-06-18T11:06:00.000-07:002015-06-18T11:06:41.565-07:00acento opcional<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj90YMmmdaLAGLdt7LJA9d3Ntty1c4tTW3JtE81_H5a1cNEhQe5XW6jlE283TpdbtumxJb0WGjQTn5m6bCDJxgLTjMfGuv0B7rJcYUUpUF0pK1mzNia_9XpyA7hyktv3Rj5Lub0UqzoNwM/s1600/amem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj90YMmmdaLAGLdt7LJA9d3Ntty1c4tTW3JtE81_H5a1cNEhQe5XW6jlE283TpdbtumxJb0WGjQTn5m6bCDJxgLTjMfGuv0B7rJcYUUpUF0pK1mzNia_9XpyA7hyktv3Rj5Lub0UqzoNwM/s320/amem.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04768602209845535559noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-50061663199182835492014-12-30T06:18:00.003-08:002014-12-30T06:18:44.679-08:00É uma pena mesmo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-N-xkohNtxqM/VKKyd-RtPuI/AAAAAAAACBY/VqjQoigbKLA/s1600/Capture1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-N-xkohNtxqM/VKKyd-RtPuI/AAAAAAAACBY/VqjQoigbKLA/s320/Capture1.jpg" /></a></div>
<p>Desculpa, Wagner. Sou de direita e não faço nada disso que você falou, não. Tenho mais coisas em comum com você do que você imagina, a julgar pela minha vertente política; o que nos diferencia é o caminho que queremos usar para chegar nos mesmos objetivos. A direita não quer "ferramentas civilizatórias". Concordamos que apontar características nos outros para fazer piada não tem graça nenhuma, mas apontar que ser "de direita" é igual a ser "fascista" também não tem graça, guardadas as proporções nessa falsa simetria que pus aqui.</p>
<p>Sua postura, como a de muitos da esquerda brasileira, interpreta a direita como sinônimo de autoritarismo e conservadorismo, enquanto a esquerda clama para si o direito autoral sobre tudo que é libertário. Um comentário: ser contra grandes corporações, monopólios, lutar por direitos de minorias etc não é exclusividade do pensamento de esquerda, mas de libertários, sejam de esquerda ou de direita. É claro que temos exemplos barulhentos de gente pró-militares, intervencionistas e separatistas, mas a direita é só isso?
<p>Você e tantos outros não estão vendo apenas um dos tons da direita e o usando para repudiá-la por inteiro?</p>
<p>No outro lado da moeda, ser de esquerda é só gulag e black bloc?</p>
<p>Associar essa imagem à direita não é um tipo de maniqueísmo, que põe arbitrariamente a esquerda como "Bem" e a direita como "Mal", um claro-e-escuro sem fim?</p>
<p>Admiro o seu trabalho como ator e, como fã, é natural que eu crie expectativas. Uma delas é ver gente esclarecida e talentosa – como você – não repetindo essa relação entre direita e autoritarismo. Mas fique à vontade para sentir pena do que quiser.</p>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-8971408867894664542014-10-27T10:51:00.000-07:002014-10-27T10:58:55.608-07:00Apuração parcial<p>Na manhã de domingo de segundo turno, vi a cena inicial de 'Gangues de Nova Iorque', com a batalha de dois grupos em 1846. Muito parecido com o Facebook ultimamente. Veio na minha mente o 'Cidade de Deus', e lembrei do Zé Pequeno dando uma arma pro Filé Com Fritas e dizendo para os moleques da Caixa Baixa: "no pé ou na mão?". Não havia saída.</p>
<p>O resultado era sabido antes dos dois turnos: fosse quem fosse, o Brasil perderia. E perdeu. Ao invés de um presidente, apenas escolheríamos em que colo a bomba iria explodir. E foi decidido que será no colo de quem a acendeu. Uma crise certa está aí e muitos preocupados com a posição de candidato x ou y sobre casamento gay, aborto ou liberação de drogas. É como haver um acidente e discutirmos a cor da ambulância que está para chegar.</p>
<p>Minha sede por eleições era proporcialmente oposta a minha sede por Copa do Mundo: esta acabou cedo; aquela, por sua vez, foi tarde.</p>
<p>Dentre os eleitores tucanos, sinto uma gota de ilusão (por uma possível mudança futura) e uma gota de anarquismo (impeachment e desgovernos). Dentre os eleitores dilmistas, sinto uma manutenção de políticas assistencialistas que une as esquerdas brasileiras. Apesar dos seus votos inexpressivos, o que pregou a Luciana Genro foi seguido à risca até por quem não era seu eleitor: voto útil só no segundo turno, anunciando a união e a acirrada vitória de Dilma. Pelo que vimos, o fato da campanha de João Santana bater na imagem de Marina no primeiro turno não tornou unânime a transferência de seus votos para Aécio, apesar de seu apoio ao tucano.</p>
<p>Um detalhe interessante é quanto a auto-imagem dos partidos. A esquerda, apesar de bem articulada no país, se ilude com a "onda vermelha". Não, nem todos os eleitores de Dilma são militantes, apesar da festa ter sido grande. Dos eleitores da presidente reeleita, apenas uma pequena parcela se dedica ou se arrisca na militância. São como sacerdotes; o restante são fiéis, aqueles que acreditaram no medo da volta do Dragão da Inflação. Parece óbvio, mas para a militância online existe essa ilusão de que a esquerda engrossa suas linhas num volume quase unânime entre seus 51,64%.</p>
<p>Por outro lado, Aécio Neves agregou a mudança à sua figura, mesmo propondo muito mais do mesmo. A divulgação das denúncias de corrupção aos quarenta e cinco do segundo tempo apenas jogou lenha na fogueira, se igualando à campanha petista na sujeira. Apenas a rivalidade, fruto de choque da tradição que afeiçoa seu PSDB a uma "direita brasileira", o separava de sua oponente. Nos debates, todas as políticas assistencialistas estavam sob a promessa de serem mantidas, o que não desagradou, em nenhuma medida, os conservadores, o que coloca em cheque o que de fato seus eleitores estavam dispostos a engolir para eleger seu candidato.
Por sua vez, para seus eleitores, Dilma aprimoraria o que se tem feito e impediria, como alegou, um possível retrocesso à Era FHC – ignorando o próprio anacronismo de sua análise, deixando de lado o período em que o Plano Real patinava para se estabelecer como moeda forte. Era um "eu tenho medo" vira-casaca e sem Regina Duarte.</p>
<p>No cenário nacional, o então senador Aécio Neves encarnou toda a oposição, tarefa digna de Rubinho Barrichello pós-Senna. Incertos de um programa sólido, esses 48,36% sabiam muito bem o que NÃO queriam. E só. E isso se transparecia no gritante ódio ao PT, confirmando a tal polarização que Marina Silva tanto suscitava.</p>
<p>Apesar das sujeiras de campanha e de seu resultado, o segundo turno foi uma aula de alianças, de estratégia de voto e de engajamento popular. Reparem que, provavelmente para não se expôr e se arriscar, Dilma não propôs um plano de governo, enquanto Aécio apenas o propôs em aproximação das demandas exigidas por Marina. Para entender o porquê de Aécio Neves, assim como todos os tucanos, ser de esquerda, recomendo a leitura de sua <a href="http://divulgacand2014.tse.jus.br/divulga-cand-2014/proposta/eleicao/2014/idEleicao/143/UE/BR/candidato/280000000085/idarquivo/229?x=1404680555000280000000085">proposta de governo</a>. Se mesmo assim há dúvidas sobre o caráter esquerdista da social-democracia tucana, leia sobre a carta de compromisso de Aécio e seu desdobramento quase silencioso, no exemplo do <a href="http://g1.globo.com/pernambuco/eleicoes/2014/noticia/2014/10/em-pe-aecio-divulga-carta-com-compromissos-para-area-social.html">G1</a>. O tucanato, que sempre se julga conservador, se nega a ver isso.</p>
<p>Comparando as eleições (<a href="http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/10/26/brancos-e-nulos-caem-mas-abstencoes-crescem-em-relacao-ao-primeiro-turno.htm">1989-2014</a>), a proporção de abstenções, brancos e nulos estão estáveis. Antes de chamá-los de cúmplices ou irresponsáveis, reflita sobre o atual modelo de democracia, e não sobre a motivação da ausência alheia. O que esses números nos dizem? Será que as pessoas não estão nem aí ou mal-informadas? Ou estão insatisfeitas com as opções? E com a obrigatoriedade do voto?</p>
<p>A frustração e o triunfo mostram a pior versão de nós mesmos.
As reações absurdas nas redes sociais, as comemorações e lamentações do resultado não são diferentes do que temos visto ao longo do ano. A escolha de um candidato cegou os eleitores para os próprios defeitos, se autobeatificando e demonizando o oponente, muito semelhante a torcidas organizadas. Questiono severamente se isso é a tal maturidade pregada por jornalistas nos portais de notícias, de que o brasileiro foi às urnas mais consciente depois das manifestações de 2013. Duvido.
Os equívocos devido à proteção da imagem de seu candidato são naturais. Contudo, o que vimos nesses tempos foi, no mínimo, irracional. Após a apuração dos votos, a tal xenofobia e separatismo norte/sul são apenas a cereja do bolo. Entre as postagens publicadas, não vi nada disso. Ainda se visse, não seria diferente da sujeira praticada por todos os lados nesses últimos meses, dentro e fora da internet.</p>
<p>Sobre isso, enxergo hipocrisia e a resumo numa frase: Acho graça em quem acredita que o ódio de classe é moralmente superior ao ódio de raça.</p>
<p>Estou convencido de que o fato de não ser representado por nenhum candidato me proporcionou uma posição privilegiada e ingrata para observar esses tempos. Mesmo não entendendo a política, não defender ninguém já elucida muito do que está ocorrendo. É como estar sóbrio numa Oktoberfest.</p>
<p>Reitero: manter o silêncio não é "estar em cima do muro" ou "favorecer o outro lado". Eu tenho o meu lado, e não é o de nenhum de vocês. Nada contra.</p>
<p>Nesse ponto, me pergunto: e como eu, liberal e libertário, seria representado? O ataque legítimo de William Bonner ao Everaldo mostra o quanto é impossível se articular nesse cenário político. Everaldo era mero engodo: apoiava a base governista até o início de 2014 e passou a falar sobre estado mínimo sem nunca ter lido uma linha sequer de Mises ou Hayek. A entrevista do pastor no Jornal Nacional exibiu a dificuldade de propor algo diferente, como as saídas liberais, sem abrir concessões. O que enxergo é que qualquer papo de "estado mínimo" ou "livre mercado" é o extremo oposto do "economia planificada" e "fim da burguesia", e não menos impossíveis. É fantasia.</p>
<p>A esquerda – não a de bandeiras, agitadores, blogueiros e centrais sindicais – está incrustada e latente no caráter do brasileiro, o que incluo os conservadores arrogantes que pedem mais estado. Não há crise de representatividade, pois ela é bem atendida, mas sim uma democracia delegativa que precisa colocar a chupeta na boca do povo. No meio a isso, minha falta de fé certamente não é pelos mesmos motivos "coxinhas" em que facilmente me enquadrariam. Meus pêsames seriam sentidos com qualquer candidato eleito.</p>
<p>Sou fatalista. Não nutro qualquer esperança para o país no que se refere a uma real prosperidade que não seja reativa. O país tem sede de populismo, de políticas imediatistas, e a situação e a oposição oferecem isso. A direita que defendo não vê políticas sociais como um fim imediato, mas sim como uma consequência de uma severa responsabilidade econômica, que a liberta desse capitalismo de estado e de sua onipresença. E, por ora, não vejo um horizonte.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-42837020882085389142014-10-04T11:15:00.003-07:002014-10-24T11:04:44.235-07:00Dessaber<p><b>Paradigma político brasileiro > Ensaio Sobre A Cegueira > The Walking Dead</b></p>
<p>Do mais traiçoeiro e real ao mais simplório e inofensivo, eis a gradação de cenários, em que vemos os perigos mais sutis nas outras pessoas.</p>
<p>Por que isso? Veja os pontos. Há uma tragédia em "The Walking Dead", os zumbis, que não pensam e só atacam. Os problemas reais são os sobreviventes, que se realocaram de acordo com o novo cenário, em que é preciso sobreviver e disputar recursos limitados. Frente a isso, os zumbis são apenas um limitador, um risco visível e até caricato.</p>
<p>Em "Ensaio Sobre A Cegueira", os problemas dos sobreviventes se repetem, exceto pelo fato de não haver uma distração como os zumbis. De repente, todos estão cegos e só os grupos pequenos sobrevivem. Há de se confiar na voz e na palavra dos outros, ou desconfiar para permanecer vivo. Mocinhos do dia-a-dia viram vilões, os mau-encarados ficam ainda mais hedonistas, os fracos perecem etc.</p>
<p>Comparada às posições políticas no Brasil, a cegueira do livro do Saramago é muito ingênua. Ninguém é vilão de fato, tampouco herói. Todos juntos compartilhamos gostos, histórias, gargalhadas, mas também uma discordância política diametralmente oposta. E também temos que sobreviver, lado a lado ou não.</p>
<p>Na prática, tudo funciona como um trem lotado. Apertados como uma lata de sardinhas sobre trilhos, os passageiros sofrem de um problema comum: falta de condições mínimas para a viagem digna e segura, provocadas por uma má gestão do governo ou concessões malfeitas para o transporte público. A reação? Descontam uns nos outros, cada um com a convicção que lhe convém. Disputam espaço e partilham faíscas. O atrito dos trilhos. No final, todos são cidadãos, eleitores, e estão indo fazer a mesma coisa: trabalhar.</p>
<p>Esse paradigma é o momento em que pilares como "amizade" e "família" são colocados em cheque. Tudo meio dúbio, confuso... Para que possamos conviver, tocamos em frente esse <i>fair play</i>, fingimos esse deixa-disso, pois qualquer exposição de opinião, minha ou sua, servem de munição para essa guerra de ideias. O convívio de opostos é necessário, mas o ponto em que chegamos não é nada sadio.</p>
<p>Reconheço que admiro a convicção política dos meus pares. Ficaria feliz em saber que posso escolher entre tudo que está aí, uma vez que todos fazem parte do mesmo espectro político do qual acredito. Mas não é meu caso. Realmente, deve ser muito bom acreditar em propostas, mesmo ignorando o fracasso sucessivo dessas tentativas, se agarrando ao carisma de certas personalidades e torcendo por uma causa tal qual o time do coração.</p>
<p>Admito: me enganei e fui ingênuo achando que tudo isso acabaria junto com as Eleições de 2014. Acreditei que, depois das eleições, as amizades sobreviveriam. Sobrevivem sim, mas as bandeiras empunhadas tornam as relações muito voláteis. Amanhã pode ser qualquer coisa. Vilão e mocinho, certo e errado, igualdade e liberdade; categorias obsoletas.</p>
<p>Ou desisti de conviver com a verdade dos outros ou acordei mais pessimista que o normal. Talvez seja a falta de representatividade do que penso, que faz eu ficar mais azedo e me trancar nessas linhas acima.</p>
<p>A chave? Não basta não se importar com política, até porque é impossível depois de tudo que li. Mas a pílula azul do Morpheus iria bem agora.</p>
<p>É necessário <i>deixar de saber</i>.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-21894341087151081542014-02-14T11:38:00.002-08:002014-02-16T17:54:41.446-08:00Recém-Casulo<p>E já estava ali, mal tinha espaço. Luz forte na cara, úmido com o suor da multidão. Arfava o peito espantado com o empurra-empurra. O som áspero das rodas nos trilhos riscava o ouvido e todos pareciam acostumados com isso. Mas a sensação era um incômodo inédito. Minha infância acordou assustada dentro de um adulto, apavorada e desengonçada num corpo maior. Uma criança agarrada a grades, as costelas. O desconcerto continuou até minha consciência ser eu de novo. Tomei ciência, respirei fundo e experimentei a estranheza daquele lugar. Estava passando debaixo de um rio, no metrô há vários metros da superfície. Carregava na mão uma tela preta brilhante, quase como uma televisão com a qual podia tocar com o dedo e mexer os brilhos, e notei que aquilo era importante pra mim. Fazia me sentir mais situado, mas não servia para me fazer completo. As pessoas cheiravam a um dia cheio, e o cheiro se escondia debaixo das roupas e do perfume barato. O suor era devolvido pelo ar condicionado fraco. Estranhei que eu era uma daquelas pessoas ocupadas, dispersas e curvadas. Ouvia programas de rádio sem rádio. Em volta, havia telas grandes mostrando imagens de Marte que um robô filmava e transmitia.</p>
<p>Percebi que tinha dormido pouco. Estava muito contente e lamentava que minha dose diária de ideias tinha seu vencimento no fim de todas as tardes, justo quando já não era possível usá-las para mim. Jovem, mas descalibrado e enferrujado.</p>
<p>E foi com isso que percebi que muito daquilo era um esforço desnecessário que competia contra mim mesmo. Estava escravo de necessidades alheias. Eu era grande em corpo. Do avesso eu era maior ainda, a soma de todos os anseios e possibilidades praticadas em folhas de sulfite e giz de cera, sem técnica, cargo, diploma, motivação ou dissídio. Aquela roupa, aquele decoro, tudo não passava de um rascunho que podia contornar a lápis e colorir como bem quisesse.</p>
<p>Mas não.</p>
<p>Vi que até minha ingenuidade infantil não cabia dentro do corpo adulto. Apertei a minha infância contra os demais passageiros, pesando sobre ela vários anos de flagelo e felicidade. Reduzi tudo a memórias e as coloquei de castigo. Com o freio do metrô na estação, segurei as velhas convicções para não cair e continuei meu caminho.</p>
<p>·</p>
<p>Mais tarde, após sentar e rir com minha esposa vendo vídeos na internet, iria escrever sobre aquilo.</p>
<p>Só que nem lembrei.</p>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-50091390796682126322014-01-18T14:01:00.002-08:002014-10-13T09:33:05.239-07:00Monólogo en "Lamento borincano"<p>¿Qué nos pasa en esta tierra? Siento que mi hogar no es nuestro y quizás jamás lo fue. Nadie nos ofrece ayuda a nosotros. Borinquen, tú estás olvidada en medio al mar, donde los sonidos de las ollas enmudecen nuestro llanto. Si el llanto llegara fuera de aquí, nos buscarían, pero los raros hombres que hacia aquí vinieron no trajeron alegría. Si nos ofrecieran oportunidad todos compraban más, mis padres y yo vendíamos más. ¿Si nos dieran panes, sonreiríamos felices?</p>
<p>Borinquen, que mueres ahogada en el mar, no necessitas solamente panes. Si esse nuevo sufrimiento no hubiera ocorrido, tú habrías cambiado tu lugar en el mundo. Si los vientos no hubieran cambiado abruptamente, todos los que te acompañan en lágrimas quedarían más tiempo con sus viejitas, todos sin las nieblas de la duda del futuro. Quisiera que nada de eso hubiera pasado.</p>
<p>Sé que eras más rico cuando no llevabas “puerto” en tu nombre. Supe por mis padres y abuelos que hablabas diferente, que tu nombre y tu sonrisa eran vivos. Aguantaste el azote blanco y abrazaste la piel negra. Si hubieras desistido habrías muerto más temprano. Pero sobreviviste – y sobrevivimos juntos, ahora con otro nombre y bajo la mirada de un gigante.</p>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-57467384776044494332013-12-16T13:54:00.001-08:002013-12-16T13:54:15.119-08:00Nos 45 do 2o tempo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-gt7Nl8-hyEk/Uq92IJuU1cI/AAAAAAAABdk/vqAA6WAGUts/s1600/Fluminense_Better_Call_Saul.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-gt7Nl8-hyEk/Uq92IJuU1cI/AAAAAAAABdk/vqAA6WAGUts/s320/Fluminense_Better_Call_Saul.png" /></a></div>
Olha só, acabei de fazer. Fim do futebol brasileiro às vésperas da Copa do Mundo.
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-48097078913805290662013-12-02T04:44:00.000-08:002013-12-02T04:45:12.945-08:00Rotina<p>canseira</p>
<p>canseira</p>
<p>canseira</p>
<p>câncer</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-27226972974304598322013-06-26T11:50:00.000-07:002013-06-26T12:08:08.880-07:00Derrapagem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-GUVXNWMd3W0/Ucs2tKiVcOI/AAAAAAAABOU/ZeLJnvcOpMs/s1600/Club-des-jacobins.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-GUVXNWMd3W0/Ucs2tKiVcOI/AAAAAAAABOU/ZeLJnvcOpMs/s320/Club-des-jacobins.jpg" /></a></div>
<p>A última semana é a prova cabal de que toda pessoa é um indivíduo político. Nada escapa de algum ideário. Quando os protestos começaram, me vi indeciso frente aos lados. Acima da comoção, a desconfiança de entender o evento em movimento atrapalha qualquer adesão imediata, ainda que os motivos da massa sejam os mesmos que os meus. O receio de me desobedecer: pecar por omissão, caso não participe ou não divulgue algo justo, ou pecar por ação, panfletando por algo injusto? Eu, como qualquer pessoa, respondo por determinados valores quase como uma carteirinha de clube. Tenho rabo preso, sim. A senhora que passou a vida inteira se esquivando de política também responde a um valor. O aluno bagunceiro também tem os seus. Pode soar romanceado, mas é verdade, não estou generalizando. Absolutamente todos foram obrigados a repensar determinados pontos da vida pública, por menos que se importassem com isso. A cobertura da revolta alcançou todos; quanto menor era o compromisso com o mundo, maior era o baque com o tamanho das manifestações. Escolher um lado era outro passo. O convite às ruas estava dado e comparecer era sim uma escolha.</p>
<p>A televisão começou a cobrir as manifestações quando elas passaram a ser diluídas de um ideal único, o que chamou ainda mais gente. A interpretação dos manifestantes iniciais é que o apelo televisivo e a posição panorâmica das objetivas diluíram o movimento. E assim voltamos ao dilema de quem veio primeiro, se foi o ovo ou a galinha. Por eu ter uma maioria de amigos esquerdistas, as críticas que vi nas redes sociais questionavam o movimento ter sido desviado do seu objetivo, que talvez o restauracionismo fosse a melhor saída, restringir os protestos apenas àqueles que já faziam parte (ou, se eu fosse esquerdista, sugeriria embuir os novos manifestantes do mesmo ideário dos primeiros). É óbvio que muitos estavam na rua por comoção da violência do dia 13 e tiveram o final de semana inteiro para serem expostos a todo tipo de motivo para protestar. Colunistas justificaram a turba pelo argumento do cansaço coletivo, o argumento do copo transbordado no leite derramado, o que <i>também</i> é verdade.</p>
<p>A pluralidade de pautas mostrada nos cartazes não marca apenas essas pessoas como manifestantes de butique, mas sim como essas pessoas não sabiam mais o que era protestar, como se vê na festa que virou. Tirando algumas boçalidades ("menos corrupção e mais loiras"), mesmo os cartazes de xingamentos vazios e cartazes sobre os preços abusivos de consumo supérfluo mostram esse despreparo para protestar – mas são totalmente legítimos. Esses "coxinhas" pedem o efeito, e não a causa como prega o método esquerdista tido como cartilha de protesto. Ao pedir por <i>iPhone barato</i>, deve se pedir indiretamente uma reforma tributária, incentivo à indústria nacional, fim do metacapitalismo; essa lista formalizada não entra nos cartazes porque o novo agente social, o imaturo "coxinha", não conhece os meios de exigir ou sequer identifica as causas que geram um preço injusto. As críticas ao "coxinha" são devido a esse caráter alienado estar escancaradamente escrito em cartolina, gritado em palavras de ordem que pedem soluções egoístas e vagas. A recente busca por fazer um protesto apartidário (convertida ou não em gesto antipartidário) expressa a intenção desse novo agente social em permanecer sem rótulos ideológicos cartesianos, querendo provar ser possível ser politizado e apartidário, pautados apenas pela não violência e por soluções práticas imediatas – ainda que não refletidas sobre a viabilidade dessas soluções. Essa "massa nova" não sabe as possíveis consequências disso, desse tal apartidarismo, e reivindica para si o título de "povo" ou "gigante", assim, exclusivo. Em São Paulo, a assertiva do dia 19 de que na segunda-feira, dia 24, a tarifa voltaria ao seu valor foi um gesto de urgência (tardia, caso não seja planejada) em resposta a esse clamor.</p>
<p>A face da classe média manifestante, aquela que também faz parte do apelido "coxinha", é uma maioria que não quer uma polarização, sem saber, ingenuamente, que faz parte de uma. Estar em cima do muro partidário já é ter uma decisão; pode até parecer isento de posição política, mas não assumir uma bandeira cabe sim em uma premissa de partido. Premeditada ou não, a omissão em si já é uma escolha.</p>
<p>Essa ilusão de imparcialidade somada a comoção, mais a imagens e depoimentos de posturas "fascistas" me preocuparam demais. Há algo de podre em mais uma polarização, que por vezes soa fabricada, mas não sei delimitar ao certo com medo de apoiar teorias da conspiração – estas que ultimamente ganham muita força. Essa preocupação não cabe nesse texto e deixo para o próximo. Sei que, nesse cenário, algo me diverte muito, apesar das rugas e das consequências negativas do meu riso. É o sentimento de exclusividade, de que alguns "nunca dormiram" enquanto a turba coxinha lidera os números em marcha e delira com "o povo acordou". O <i>copyright hipster</i> do movimento imediatamente foi justificado pela popularização dos protestos e pelas "denúncias" de direitistas infiltrados como quem aponta um vândalo no meio de uma multidão pacifista.</p>
<p>Pode ser verdade, não descarto, apenas duvido e questiono se isso é nocivo ou se assim deveria ser tratado. Ora, se fosse verdade, entendo que a presença direitista em um movimento de origem esquerdista nada mais seria que a <b>derrapagem</b>: os jacobinos de outrora se tornaram girondinos e hoje sofrem do mesmo mal que fizeram seus rivais sofrerem; a "revolução" ia bem, mas minguou na mão dos recém-chegados que destoavam tanto dos pioneiros. Bem feito e <b>obrigado</b> (ainda vou me arrepender disso) por começar.</p>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-3801646479413944482013-06-21T07:07:00.002-07:002013-06-26T12:03:26.905-07:00Idade das Trevas: crie a sua!<p>Tacar pedra em policiais é fichinha. Pichar ônibus, saquear lojas, parar o trânsito. Tudo ingênuo. Sei que estou privilegiando uma exceção nesse instante de “manifestações pacíficas”, mas nada é pior do que privilegiar uma maioria, que no caso desses dias são os manifestantes.</p>
<p>Ativistas virtuais se dividem entre o amor, a esperança de um novo país, interesses egoístas, exigências de direito autoral por protestos, rótulos de mídia conservadora, bando de baderneiros, massas de manobra, ilusões apartidárias, esquerda e direita (a gosto) oportunistas, medinho de golpes etc. Enfim, alguma coisa está dentro da ordem.</p>
<p>Para impedir o pior, faça o seu próprio. Algumas dicas:</p>
<p>A tarifa de luz caiu? Talvez não o bastante. Lembrando que é época de festa junina e vendem muitos fogos. Vamos pensar em 5 mil pessoas, coisa pouca perto dos números aí. Se esses 5 mil se dispersassem pelas ruas e soltassem um "12 tiros" em cada transformador? Os carros e técnicos não chegariam nos pontos danificados e não teriam peças suficientes para reposição nos postes.</p>
<p>Tudo no escuro. Toque de recolher. Além das terríveis consequências, a criatividade doentia pode ir mais longe: as luzes acesas por geradores iam estar ali, nas janelas, apontando quais alvos a turba deve atacar num ódio de classes. É só saber qual bairro marcar o encontro do Ato.</p>
<p>Outra dica? Estamos longe do verão, mas é importante pensar no futuro. Janeiro chove muito. Peguem as lixeiras e entupam os bueiros. Claro que isso ia atrapalhar a vida de gente mais simples, mas há um alvo específico no movimento?</p>
<p>Há poucos meses, as operadoras de telefonia celular prometeram melhorias em seus serviços. Sabemos que celular deixou de ser luxo e é uma necessidade. Sem fio e, caso não haja luz, pode ainda ter bateria. E se não houver sinal? As antenas estão por aí; empreguem a força necessária nos portões e arrebentem uma a uma.</p>
<p>A mesma força pode chutar alternadamente os portões da companhia de abastecimento de água. Nunca entrei numa e não sei se há algum sistema de segurança. Mas na hora saberiam o que fazer.</p>
<p>Você, que delira babando, pirando, tocando fogo. Você, suprassumo da civilização. Tem medo de golpe comunista? Rotula qualquer coisa oposta a você de "fascista" e "corrupta"?</p>
<p>Não perca a chance de criar sua própria idade das trevas.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-20458281142944627132013-06-17T13:44:00.001-07:002013-06-20T05:32:20.471-07:00Revolta do Vinagre<p>A Revolta do Vinagre começou em junho de 2013. Assim como a proporção que o movimento tomou até hoje, dia 17, os motivos de seu início são muitos, dispersos e escusos, não parando nos vinte centavos de aumento da tarifa do transporte público paulistano. </p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-kdNuminBru4/Ub91IJjd0LI/AAAAAAAABN8/EyCv8RBpFWY/s1600/tres_e_vinte.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-kdNuminBru4/Ub91IJjd0LI/AAAAAAAABN8/EyCv8RBpFWY/s320/tres_e_vinte.jpg" /></a></div>
<p>A comoção gerada nas redes sociais tem o mesmo efeito imediato dos escândalos criminais do país na televisão. A diferença está na mobilização que extrapola o papo de bar e fica na sua cabeça antes de dormir; no quanto sua indignação, tão particular, pode ser usada para mudar algo – ou, na pior das hipóteses, ser usada para derrubar uma ordem vigente em prol de um projeto político que você abomina. Estou vacinado contra essas comoções justamente por conviver com revoltas pasteurizadas que possuem várias facetas (entre as quais muitas discordo mas defendo) e no fim, reunidas, compõem uma plataforma tão coesa que tem até nome. A despeito disso, que em nada impactam no espaço em que são debatidas, essas ideias passaram a ganhar uma importância maior com o alcance da mídia atual mais poderosa e mais desacreditada que existe: a internet. </p>
<p><b>Toda tropa tem seu estandarte.</b> Por mais que você queira, esse movimento não é apartidário. Se fosse, não haveria necessidade de erguer bandeiras de partidos como as que você viu nas fotos, as mesmas que vi pessoalmente na última quinta-feira, dia 13. Não viva essa ilusão.</p>
<p>As divergências internas do movimento foram usadas pela classe média coxinha (repito, “coxinha”, e não necessariamente de direita, por favor) para afagar suas posturas elitistas. A tal divergência (que virou desculpa) foi o <b>vandalismo contra o patrimônio público</b>. Sua função é a mesma de parar uma avenida importante: chamar atenção inserindo os transeuntes e telespectadores na realidade, fora da rotina casa-trabalho/escola-casa mais tevê – daí a necessidade de parar locais movimentados e não uma viela qualquer. Não vou discutir depredação, porque direito à propriedade e usufruto de bem público é bom senso e quem lê esse blog sabe o que acho disso.¹</p>
<p>Quer ir ao protesto? Vá, mas saiba o motivo de sua ida. Escolhi ir porque o movimento não tem forma, por maior que seja o esforço da mídia em rotular seus membros com nomes ou fotografando um gênero (jovem/universitário/de humanas/revoltado). Quem já foi sabe que não é só isso. A polícia já assumiu a dificuldade em traçar perfis fiéis dos participantes, devido justamente à pluralidade dos motivos de protesto, que unem pessoas de todo tipo – incluindo aqueles que me têm como rival.</p>
<p>Vá, mas por um motivo racional e não por comoção. Se você lê esse blog e só encontra bobagem aqui, provavelmente deve apoiar as bandeiras na frente. Pois bem, vá de consciência limpa. Se não quer ir porque não vê algo dando liga a tudo isso, ótimo! Vou te contar um segredo: também concordo contigo. Ainda que sejam motivos plausíveis, não há elo prático entre eles. Qualquer reivindicação que hoje move um a um para o Largo da Batata são vontades ansiosas para virarem algo. Tenho consciência que minha presença pode ser usada contra o que acredito, mas já refleti demais sobre o assunto e assinei com meu sangue. <b>Eu jamais perderia a chance de estar ao lado de gente tão querida em algo que finalmente concordamos em apoiar.</b></p>
<blockquote>
<p>¹ Lembre de quando era criança e via o telefone de um orelhão fora do gancho. Sentiu piscar um siricutico pra colocar o telefone no seu lugar? Imagina uma lixeira jogada no chão. Claro que depredações não justificam nada e só fazem qualquer movimento perder apoio do público, mas acredite, o vandalismo é o menor dos males desses protestos. É importante ressaltar que é exatamente esse tipo de conduta que a polícia precisa para agir. Aprenda de uma vez: por mais que policiais estejam propensos a abuso de autoridade, eles são funcionários títeres de táticas e ordens. Pra isso recebem holerite. Tua revolta pessoal pode ser direcionada a um ou outro, pode até ser generalizada por acreditar que a corporação policial fornece as condições ideiais para repressão física, mas tenha em mente que sua revolta física e permanência no front em nada adiantam contra quem realmente os ordena. Se você for para um protesto para depredar, saiba que a maioria discorda de você; não abuse da compreensão e passividade dos seus colegas.</p>
</blockquote>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-14867133798224225792013-05-31T10:58:00.005-07:002013-05-31T11:43:49.284-07:00Panaceia geral<p>A dor passou. Licenciado em opinião geral. Membro assalariado do clube das mesas redondas. Integrante da parcela da classe média diplomada. Experiente em debates e pesquisas de internet e falso diletante. Referência na articulação de argumentos. Bacharel em sinceridade das aparências.</p>
<p>Ali se fintavam os olhos sorridentes através do currículo. Era jovem e sempre será jovem; podia estar grisalho, mas ainda era jovem. Exalava novidade sentado no divã do emprego. Mais um sujeito único, de uma singularidade idêntica a do candidato anterior. Dizia:
<blockquote>
<p>Alguns mais tímidos apreciam consumir opiniões na privacidade do lar. Muitas vezes isso me basta, pois cansa abrir o ziper e sair balançando meus argumentos por aí. Sou antenado em tecnologia, que em lapsos de ingratidão critico por alienar as pessoas curvadas sobre telinhas. Apenas reconheço a semelhança do efeito destas com o efeito dos livros: pessoas andando cabisbaixas vivendo um mundo de imaginação.</p>
<p>Conheço uns que também opinam sobre tudo e juntos nos sentimos bem, como que sentados em círculos, dividindo esses anseios. Mais um dia. Luto em grupo para fazer do mundo um lugar melhor e, ainda que fracasse, levo no peito a conquista individual de me sentir saciado pela arte de discutir e de opor egos na internet.</p>
<p>Metodologia? XGH Sócio-Comparativo. No mercado, análises profundas e gestão de risco são contraproducentes. Propus o óbvio porque o erro óbvio da nossa sociedade nos agride. Traçar propostas me rendeu alguns lucros como estagiário e atingi a meta anual. Já já explico como.</p>
<p>No fim, o simples exercício de justapor ideias me faz melhor, aplaca minha amarga necessidade, aquele comichão se revirando no âmago para rabiscar opiniões qual óleo sobre tela e emoldurar em 19 polegadas. Já cogitei cobrar ingresso com uma palestra motivacional, <i>stand up comedy</i>, consultoria de assistência. Por enquanto fico como colunista freelancer de rede social.</p>
<p>Não tenho vícios. Cultivo alguns hábitos que vão além de chocolate ou cervejinha ou mesmo daquele happy hour acadêmico. Ninguém é de ferro. Antes eu listava os males do mundo e os criticava um a um. Fui mais longe e hoje minha distração é o que chamo de “habeas corpus ideológico”. </p>
<p>Aí é o ponto principal do meu portfólio.</p>
<p>Com licença, te mostro onde.</p>
<p>Aí, ó, destacado em negrito entre “Descrição do cargo anterior” e “Informações adicionais”.</p>
<p>Percebi que estes males do mundo são problemas apenas do ser humano. Não, não dividi com ninguém até o resultado exibir meu sucesso e lançar as horas em planilha. Exploração de recursos, estupros, intolerância (reflexos em maior escala de egoísmo, inveja e cobiça) são tão íntimos quanto dedo no nariz, coçar o saco ou tirar discretamente a calcinha da bunda. Após esquadrinhar os detalhes, compilei tudo isso que é da cabeça e da interação entre pessoas e fiz o caminho inverso: engarrafei e rotulei. Capitalismo, cristianismo, família e propriedade; tudo institucionalizado em gestores corruptos.</p>
<p>Descriei necessidades. E eu era só o trainee. Não confunda com teoria em cima de teoria. As psicologias e legalismos foram empregados, claro, mas apenas quando convinha. Sempre um tema humanitário com a devida superficialidade corporativa em uma lauda e com limite de toques.</p>
<p>A maldade antes tinha muitos rostos e agora, graças a esse rótulo ideológico, não tem nenhum. Foi minha fina obra deste portfólio tal qual o emplasto que jamais existiu. Acima das filosofias, de um deus que fiz ausente, de tradições quadradas. Inovei com o novo – com o perdão do pleonasmo. A nossa maldade, tão nossa e agora encarnada nos outros, sempre existiu. Já estava lá nas páginas, como um nome nos livros, aquela teoria toda. Hoje circula com o sentido que dei na canetada. Num golpe só, sem sobrecarregar o meu centro de custo, juntei todos os meus problemas pessoais e dos demais colaboradores, dei um nome e crucifiquei para pagar pelos pecados da humanidade. Todos os deslizes e premeditações do mundo, todos juntos num só corpo, ressignificado num par de palavras, expiados para sempre.</p>
<p>Afinal, tudo é passível de atualização, o novo silencia o seu oponente antecessor e nada é eterno o bastante para ser imutável. Até meus erros.</p>
</blockquote>
<p>Aquele jovem foi admitido, recebeu aumento e hoje ele tem mais.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-68627635983212219212013-05-30T06:35:00.000-07:002013-05-30T06:41:10.258-07:00Eles não pensam naquilo<p>Assim como ver transmissão de esportes internacionais, acompanhar uma eleição de outro país é uma tarefa ingrata. Comecei a pensar nisso ao ver notícias do exterior e as reações de formadores de opinião daqui.<p>
<p>Todos se lembram de quando eram pequenos e de como ignoravam telejornais – ninguém é Lisa Simpson ou Mafalda do Quino. Hoje restam alguns cadernos de jornal que despertam essa ignorância infantil nos adultos.</p>
<p>O brasileiro que larga o horóscopo e se arrisca a ler notícias em inglês se assusta com a mídia estrangeira. Percebe que a política e a economia brasileiras são descritas ao avesso do que se faz por aqui. Mesmo que mais aproveite seu inglês fluente para ver seriados sem legenda – o que também faço e não recrimino –, o sujeito tem chance de se assustar ou desacreditar e às vezes quer morrer quando um jornalista gringo diverge dos nossos grandes veículos de informação, indo de encontro ao povão, ou diverge dos portais de notícia "esclarecidos", indo de encontro com a classe média "engajada".</p>
<p>Essa fronteira entre as mídias é justificável pela distância. Ainda que perca muitos detalhes, perceptíveis apenas quando se está próximo, o observador distante tem o panorama em seu benefício — e aqueles detalhes passam a ser somente distrações na percepção do todo. Esse benefício faz com que o texto seja mais seco, impessoal e com menos indignação, na contramão do que vê lê no Brasil. A ausência da visão próxima auxilia a análise e, apesar disso, faz desta incompleta, assim como uma análise qualquer, sujeita a erros. No nosso lado da fronteira, é exatamente o que fazemos ao abordar uma eleição que ocorre em outro país. Não é tão arriscado dar ouvidos aos gringos.</p>
<p>A trajetória de um ás do drible, a campanha de uma seleção em um dado campeonato europeu, as probabilidades do mercado futebolístico; são miudezas que se enquadram nessa teoria da distância. No final, o conhecimento desse campo de conhecimento se resume a especulações de mesa redonda e, junto da engenharia de trânsito, astrologia e a meteorologia, compõe uma das <b>ciências do acaso</b>.</p>
<p>Exemplos melhores para reforçar essa analogia são os demais esportes. Mais grave do que futebol, ler ou falar sobre política estrangeira no Brasil beira a citar grandes atletas do tiro ao alvo ou rasgar o gogó discutindo regras de bocha. Não se trata da relevância desses assuntos, o <i>sexo dos anjos</i>; mas tamanha é a distância e a falta de vontade de se ter conhecimento sobre o assunto que a análise vira besteira, verborragia de vozes que se sobrepõem.</p>
<p>É fácil ir comprar pão e achar um Safatle por esquina, um Jabor numa banca, um Sader sentado na praça. Vai atravessar a rua e olha pros dois lados: de um é o Neto e o Galvão Bueno discutindo culinária, do outro é a Ana Maria Braga e o Louro José falando sobre desemprego. Aí aperta o passo pra chegar logo em casa e na porta está o Bial arrotando platões. É um sintoma sério começar a compactuar com esses formadores de opinião.</p>
<p>Vários tentam debater o tema tendo por base o “esporte” que mais conhecem: literatura, teologia, história, estatística, sociologia, linguística (como eu), mas raramente ciência política ou economia. Alguns grupos de leigos se atrevem e falham terrivelmente, mas em geral não há quem tenha critério para reconhecer essa falha nas tentativas; e assim, <b>todos acatam as suposições.</b></p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-1430302696001704212013-05-29T07:28:00.001-07:002013-05-30T06:44:10.804-07:00Os Intocáveis<blockquote><i><br />"Você vai pagar e é dobrado
<br />Cada lágrima rolada
<br />Nesse meu penar"
</i><p>Chico Buarque em "Apesar de Você"</p></blockquote>
<p>A revisão da <a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6683.htm">lei da anistia</a> parece ser ilogicamente unilateral. Só parece, pois tem seus motivos para assim ser conduzida.</p>
<p>Vamos cogitar a bilateralidade dessa revisão proposta pela Comissão da Verdade. Que nos nossos sonhos mais otimistas essa comissão contemple o julgamento do terrorismo de esquerda – como se luta armada, quando mistura pólvora e ideais, deixasse de ser justificável. Dentro disso, em números razoavelmente acessíveis, podemos arriscar que <b>o regime militar matou e torturou muito mais que a insurgência subversiva</b> – ignorando, claro, as invasões de propriedade no nordeste, sabotagens de plantações, os crimes de guerra do Araguaia etc, fatos que não foram sistematicamente apurados depois da abertura política do país.</p>
<p>No período 1964-1984, se a esquerda é inferior em números no ranking de crimes, em tese os subversivos seriam uns gatos pingados. Daí a ilógica, presente mesmo sem a bilateralidade que propus aqui.</p>
<p>Com base nisso, pergunto: quem seriam os investigados? Dentre os subversivos, quem são os responsáveis pelos sequestros, assaltos a bancos, assassinatos, <i>façanhas tão inexpressivas</i> frente aos homicídios, exílios, estupros, censuras e tantos outros feitos opressores que os militares cometeram?</p>
<p>A pergunta vale um milhão. Vale pro resto da América Latina.</p>
<p>Só pra citar alguns: um bispo, um pastor de lhamas, um casal de advogados, dois tenentes-coronéis, um motorista de ônibus, dois economistas, um vinicultor, um torneiro mecânico e uma médica. Hoje não exercem essas funções e por isso ninguém está disposto a peitar essa gente.</p>
<p>Apesar de parecerem ideologicamente opostos, regimes fascistas e socialistas se assemelham em tudo. Se pararmos de culpar um lado só, não sentimos diferença entre a suástica e a foice com martelo.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-71257408504705034722013-05-28T06:36:00.000-07:002013-06-20T09:21:10.540-07:00Represent Cuba<blockquote><p><i>"Dans ce meilleur des mondes possibles, tout est au mieux."</i></p>
<p>Candide, de Voltaire</p></blockquote>
<p>Já fazia tempo que não se via tantos defensores de Cuba. Em visita recente ao Brasil, a filóloga cubana Yoani Sánchez foi repudiada por muitos e ovacionada por alguns. Esses são os benefícios da democracia, já pegando emprestado o teor que ela mesma assumia para se defender e legitimar as manifestações contra ela. Yoani é apontada como caluniadora.</p>
<p>As comparações são muitas entre Yoani Sánchez e o ciberativista do WikiLeaks Julian Assange. Não é necessário nenhum esforço em uma <a href="http://bolaearte.files.wordpress.com/2013/02/charge-latuff-yoani.jpg">busca</a> no Google para ver como muitos diminuem o papel da cubana e enaltecem o sueco por ele enfrentar grandes interesses capitalistas. Só questiono o WikiLeaks pela origem de seu conteúdo que vaza de todo lugar do planeta. Tudo soa muito inverossímil, a contrário de uma cidadã de um dado país, que vive os fatos, consulta documentos e recebe relatos para publicar no seu blog <a href="http://lageneraciony.com/">Generación Y</a>.</p>
<p>Já ela é um contrassenso. Das duas, uma:</p>
<ol type=1><li>Trata-se de uma mentirosa, talvez financiada por algum país que queira destruir um foco socialista; em tese, Cuba seria um país democrático, livre e ótimo para se viver, pois se a ilha fosse como a filóloga afirma em seu blog, o governo cubano a executaria ou, na melhor das hipóteses, não lhe daria voz;</li>
<li>Ela, verdadeira em suas afirmações ou não, teria permissão do governo cubano para fazer suas declarações, que estariam de acordo com os moldes cubanos de censura – dentro de uma margem previsível de tolerância – e Cuba supostamente seria muito pior do que ela descreve.</li>
<li><b>Bônus:</b> há uma terceira opção, claro, que admite que ela esteja certa em partes; o regime castrista oprime, mas não é tão terrível, pois deixou escapulir a blogueira. <i>¡Es que se me chispoteó!</i></li></ol>
<p>Se Yoani Sánchez se enquadrasse na primeira suposição – a opção mais confortável para defesa dos irmãos Castro –, ela seria o que George Orwell chamou em seu “1984” de <i><b>despessoa</b></i> – convidada a “deixar de existir”, “suicidada”.</p>
<p>Como ela não tratou de “desexistir”, pode-se inferir que só a segunda opção é possível.</p>
<p>Na ocasião de sua visita, pipocaram na rede trocentas matérias desmerecendo a blogueira. Era ataque vindo de tudo que é lado. O ataque mais agudo foi uma idolatrada <a href=" http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/02/o-bate-papo-que-desmascarou-a-blogueira-yoani-sanchez.html">entrevista</a> de Yoani Sánchez com o francês Salim Lamrani. Está lá pra quem quiser ler. A entrevista possui todos os requintes de uma falsa interlocução: demérito, desconstrução da autoridade alheia, apresentação de fatos contrários sem base, carteirada e testemunho ocular questionável.</p>
<p>A primeira parte da entrevista se destina a denegrir a entrevistada. É a tática de desqualificar moral ou intelectualmente, ridicularizar para retirar o argumento de autoridade do indivíduo. Pouco existe de um verdadeiro embate de ideias. No lugar de enaltecer os próprios valores e expressá-los, rebaixa-se o valor dos outros.</p>
<p>Quem é atingido por esse tipo de texto? Gente que trocou o vão do MASP para protestar em teclado QWERTY; ou melhor dizendo, o espectro que compreende desde os usuários do Acessa São Paulo até os tablets com senha do <i>wi-fi</i> do Starbucks. Fora disso, todos estão muito ocupados cumprindo o seu papel de “não se envolver com política” ou expondo suas opiniões vendo o programa do Datena.</p>
<p>Igual ao que vi na entrevista do Pr. Silas Malafaia no programa De Frente com Gabi, essa entrevista deixou os dois lados satisfeitos. Quem é pró-Fidel achou que a Yoani é fraquinha, carta na manga do Tio Sam, uma versão macartista de Assange. Quem é contra o atual governo de Cuba percebeu que a entrevistada estava sendo encurralada com perguntas idiotas para proteger um ideal.</p>
<p>Tenho a impressão de que isso é manobra para “caosar”, jogar todos contra todos e ver o cerco fechando. A intenção pode não ser essa e tampouco há meios de provar a crença de um ódio mútuo teleguiado; mas o efeito é claro, é exatamente esse. No cabo-de-guerra, não tem como não irritar os dois lados.</p>
<p>Depois de alguns meses, sinto alguma pontada de otimismo dentro daquilo que dizem sobre o brasileiro “ter memória fraca”. Na melhor das hipóteses, Dr. Pangloss diria que “vivemos no melhor dos mundos possíveis e tudo está para o melhor”; as pessoas, discordando umas das outras ou não, agora refletem sobre Cuba e, se refletiram equívocos, torço para que já tenham esquecido. E voltamos ao Curdistão.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-3313358707177892992013-05-04T15:21:00.002-07:002013-05-06T11:26:37.884-07:00Extra Ecclesiam nulla salus<p>(<a href="http://www.padrebeto.com.br/padrebeto/Portugues/detInstitucional.php">·</a>
<a href="http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/05/1273459-manifestacao-de-apoio-a-ex-padre-reune-300-pessoas-em-bauru-sp.shtml">·</a>
<a href="http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2013/04/padre-envolvido-em-polemica-e-excomungado-da-igreja-catolica.html">·</a>
<a href="http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/padre-beto-apoia-gays-igreja-catolica.html">·</a>)</p>
<p>Sobre Roberto Francisco Daniel? Ou mudou de ideia sobre sua fé ou nunca foi católico. Fico com a segunda. Ainda não se converteu.</p>
<p>Mais um arregimentado pelas hostes de Leonardo Boff e Frei Betto.</p>
<p>Pôster do Dom Hélder Câmara no quarto.</p>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-17782779052254375742013-04-22T09:45:00.001-07:002013-04-22T10:05:54.442-07:00Tropiqueia vela bateu e respingou na areia
<br />singrou o sertão de veias abertas
<br />a caldeira ficou no caminho
<br />caiu a chaminé e do chão não saiu mais
<br />fazia sol
<br />e pra sempre
<br />minha pele mudou de cor no suor da tua
<br />os tons molhados escorregavam à força
<br />era o facão sem fio fazendo picada
<br />descalço agora
<br />perdi o fio da meada
<br />abrindo, fugindo, indo fundo
<br />mundo afora, adentro
<br />fiz queimar rio e o sol na moleira
<br />brindamos vinho
<br />toda prosa, minha língua hoje é transa
<br />sentiu o doce e o ranço de caium e mel
<br />fiz um sinal e ali tropiqueiThiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-63380164588066564122013-04-16T11:48:00.001-07:002013-04-17T12:35:57.737-07:00My ass über alles<p>Vamos chover no molhado, já que pra muitos talvez não esteja molhado o bastante: o descontentamento com Marco Feliciano é o resultado do ódio pelo outro.</p>
<p>Novamente, dessa vez por todas. Como todos os outros deputados, ele foi eleito legitimamente. Em tese, não necessita de recontagem de votos. Aquele que votou nele obviamente acreditava que Feliciano pudesse ser um bom deputado representando os valores de quem votou etc, assim como quem votou no Tiririca acreditava que em Brasília faltava palhaçada.</p>
<p><b>Achou ruim? Então você é contra a democracia.</b> Você quer golpe. Derrubar alguém de seu cargo é silenciar o grupo de pressão que ele representa, ou seja, os evangélicos – e nisso todos cristãos entram na roda. Se ele toma alguma medida inconstitucional ou faz besteira, ele pode ser "demitido por justa causa" (lembrando que ocupa um cargo público), parecido com o que mereceu Collor com o <i>quase-impeachment</i> de 1992.</p>
<p>É mais simples de se entender do que eleição de reitor da USP. Aliás, se você é aluno de lá e não quer outro reitor como o <a href="http://usplivre.org.br/tag/fora-rodas/">João Grandino Rodas</a>, esse problema pode ser resolvido se o governador eleito (que escolhe o reitor dentro de uma lista de três candidatos selecionados previamente pelo Conselho Universitário) for petista: aí até sindicalista pode ser o novo reitor, se você quiser. É só você eleger um petista. Pronto, você já está representado.</p>
<p>Agora, se seu grupo de pressão é pequeno e não consegue se sobrepor politicamente, só resta puxar o tapete dos demais. Reinvente o conceito de "minoria" e se ponha nesse lugar. Se jogue no mar e grite "socorro", cave falta, grite "pênalti". Pode espernear, ganhar as redes sociais, as ruas. Corra atrás do osso.</p>
<p>Como muitos, discordo desse deputado e por mim ele não estaria lá. Sequer essa comissão teria esse nome: sei que "Direitos Humanos" é hiperônimo de "Direito de Minorias", e compôr uma minoria não te exclui de ser um humano. Obviamente, para quem o quer fora a qualquer custo, a intolerância e outras questões ideológicas são atentados muito maiores à política do que <a href="http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2012/10/22/jose-dirceu-e-cupula-do-pt-sao-condenados-por-formacao-de-quadrilha.htm">corrupção ou formação de quadrilha</a>. Opinião da intolerância é tão maior que a corrupção que se deixassem teria fogueira, forca ou guilhotina. Todos babando ensandecidos com os olhos veiúdos pra urrar a morte do "intolerante" em rede nacional.</p>
<h2>Mas vamos falar de coisa boa</h2>
<p>A multidão de católicos não-praticantes caiu no papo: fez questão de esquecer tudo da catequese para perpetuar a nova releitura laica da cristandade.</p>
<p>O deputado Marco Feliciano é pastor da Assembleia de Deus. A sua fé se define por aquilo que acredita, por tudo que não aceita mas tolera e <b>também</b> se define por aquilo que condena.</p>
<p>Se esse pastor achasse que comer brócolis leva pro inferno, a denominação dele ensinasse assim e os fiéis seguissem, é óbvio que rotulariam todos que gostam dessa verdura de filho do capiroto, mesmo que fosse um ex-beatle¹. E vai achar razões para acreditar nisso, à revelia do certo ou do errado.</p>
<p>A questão não é ele condenar <a href="http://extra.globo.com/noticias/brasil/marco-feliciano-diz-que-catolicos-adoram-satanas-tem-corpo-entregue-prostituicao-8115594.html">católicos</a>. Outras denominações religiosas (e políticas) também condenam outros por muito menos e não são fundamentalistas, panfletárias ou proselitistas. Os próprios católicos, por exemplo, como também petistas e tucanos. O ponto de atenção é que se use um vídeo dele em pregação, ele "na qualidade de pastor"², para delimitar uma postura dele como deputado e promover o demérito de sua integridade.</p>
<p>Como político, Marco Feliciano já constrói provas suficientes contra si mesmo e não precisa desse tipo de ataque. Arrisco-me a dizer que ele talvez o faça até como cristão, mas até que não atinja a esfera pública, sua corrupção como pastor é um problema a ser resolvido em sua comunidade. Foi assim com Jesus entre os judeus.</p>
<p>Feliciano afirmou que antes de ser eleito, a CDHM era possuída por Satanás e coisas do tipo. Bem sabe ele que isso não se diz no espaço em que está, ainda que tenha direito de exercício de sua fé. Ali ele cumpre um papel público e responde a um Estado laico.</p>
<p></p>
<p></p>
<blockquote>
<p>¹ Assista ao <a href="http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/inacreditavel/2013/04/08/323266-em-videos-marco-feliciano-diz-que-deus-matou-john-lennon-e-mamonas-assassinas-por-castigo#0">vídeo</a> em que Pr. Marco Feliciano, em pregação, justifica o assassinato de John Lennon como gesto da ira de Deus.</p>
<p>² Aqui me refiro às palavras do Pr. Silas Malafaia em um <a href="http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1257539-silasmalafaia-marco-feliciano-e-a-bola-da-vez.shtml">texto</a> que publicou recentemente na Folha Online.</p>
</blockquote>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-88445154393927094832013-04-13T23:14:00.001-07:002013-04-15T10:00:06.177-07:00Rubro arco-íris</p>Recentemente, a cantora Daniela Mercury assumiu seu relacionamento gay. Todas as fotos que circulam pela web são lindíssimas e provam em grande estilo que um relacionamento homoafetivo pode e deve ser tão feliz quanto o de um homem e uma mulher.</p>
<p>No íntimo, sei que a completude de um casal depende muito da criação de filhos. Por questões pessoais minhas – que seriam facilmente derrubadas pela facilidade de adoção de crianças – entendo o relacionamento gay como uma interação incompleta, além dos habituais valores cristãos que tenho, os mesmos valores que me garantem a tolerância, amizade e bom trato com pessoas que caminham para um ponto oposto ao meu.</p>
<p>Pouco antes da exposição midiática da Daniela Mercury, outra cantora, Joelma da Banda Calypso, expôs seus princípios sobre um filho seu e um possível ato deste sair do armário. Dificilmente ela encararia com a mesma naturalidade que se encara por aí, entre as pessoas que defendem com unhas e dentes as causas gay e de demais minorias. Ela é evangélica.</p>
<p>Deve-se considerar que Joelma responde a valores cristãos, e com isso também segue uma cartilha que carrega um calvário inteiro dessa fé, que atualmente faz frente a Calígulas, Cláudios e Neros dispostos a incendiarem a própria casa e causa (como militantes que criticam padres homossexuais ao invés de também inserí-los no portfolio de minorias).</p>
<p>Defendo as duas. E explico o porquê.</p>
<p>A Joelma, além de seu direito de fé resguardado pela lei, tem direito de liberdade de pensar o que é melhor para seus filhos desde que não infrinja qualquer outra prescrição também legal, como o tão mencionado Estatuto da Criança e do Adolescente, independentemente do que se acha ou se prega por aí. Se nesse afã por privilégios de minorias ela quiser que as filhas passem a usar burca por algum valor de conservação de costumes ou por alguma interpretação bíblica tradicional que liga o profeta Maomé a Jesus, tudo bem, uma vez que as filhas estejam sobre a sua tutela e ela, melhor que o Estado, as conhece e pode julgar o que lhes é mais adequado. Como meter um sarrafo, por exemplo.</p>
<p>Ela é uma figura pública e sua declaração tem um impacto que extrapola a posição política, religiosa ou familiar. Por ser pop, sua opinião tem forte influência sobre seu público ou sobre quem se identifica com sua origem social. Isso em si não é o problema, pois acontece na classe média (com artistas de classe média) etc. A pedra no sapato está na distância entre ser evangélico conservador e ter origem simples, pobre, gostar de forró paraense. Pessoas que normalmente não concordariam com a Joelma, e apesar disso são seus fãs, estariam inclinados a assumir o seu lado.</p>
<p>A inversa, igualmente verdadeira, não é um problema frente ao novo paradigma gayzista da sociedade. Daniela Mercury teve um "ato de coragem" e não "um ato irresponsável de ser uma artista com muitos fãs que não pensou que estes podem seguir cegamente sua posição." Não há segredo em perceber o que há por trás desse gesto. Tudo é em vão, desde as tentativas banais da mídia conservadora em diminuir a atitude de Daniela, até a súbita legião de fãs que ela conquistou só por assumir uma bandeira gay. Respeito e apoio a decisão da cantora e fico muito feliz em saber que, apesar da pressão "religiosa" em defender leis exclusivistas, homossexuais têm seus direitos civis (repito, civis) garantidos. O homossexualismo deve sim lutar pelo direito de casamento civil. Apenas não concordo com o revanchismo que essa luta assume quando se fincam bandeiras nessa causa, pois a garantia de direitos aos homossexuais vira mero instrumento de revolução – fato que muitos gays não percebem, para a tristeza geral.</p>
<p>E por que defendo a Daniela? Simples. Por ser cristão, entendo que não há melhor testemunho do que a vida da pessoa. Não conheço sua rotina, sua idoneidade; vim de uma escola que prega que uma mão não mostra à outra o que faz, fato contrário ao apelo midiático da cantora; mas ainda assim reconheço em seu gesto algo muito sincero. Não faço dela melhor nem pior por isso, a contrário do que vejo por aí, com pessoas que se agarram nela só por ser gay. Defendo a Daniela porque sua vida correspondeu ao que acredita. Pensando nisso, não creio que sinceridade valha mais que valores sóbrios, mas percebo em seu gesto a prova transparente que pode fazer libertários "conservadores" como eu (perdão pelo paradoxo) repensarem toda a questão.</p>
<p>E já que ela usou um relacionamento pessoal como panfleto de <i>mass media</i>, eu ficaria muito feliz que seu gesto também gerasse reflexão nas bandeiras gayzistas, que repensassem seus valores revolucionários; que passeata esquerdista, satanização de pastores ou credos, intervenção na vida dos outros quanto ao dízimo, enaltecimento de impostos para políticas públicas muito superiores à ajuda religiosa, revisionismos bíblicos e afins, tudo fosse finalmente encarado como futilidades que só fazem água. Por que privilegiar uma cor entre tantas que compõem a bandeira gay?</p>
<p>Fora disso, todo cristão que acha que tem de levantar piquete não passa de Judas. Evangelho não precisa de defesa. Abra a caixa registradora, pegue suas trinta moedas e vaze daqui.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-917823146944866782013-04-08T21:46:00.000-07:002013-04-13T23:15:11.100-07:00Nota de falecimento a Thatcher<p>No aniversário de quatro anos do <b>tem que falar</b>, dez anos do antigo "O Livro dos Meus Dias" e um mês depois da morte de um déspota, sonhei com a presidente Dilma Rousseff se pronunciando sobre a morte de hoje:</p>
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-MotmGcwn0Cg/UWOc5SJPnrI/AAAAAAAABIU/2GW2NsfTIoY/s1600/margaret-thatcher-at-conservative-party-conference-data.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-MotmGcwn0Cg/UWOc5SJPnrI/AAAAAAAABIU/2GW2NsfTIoY/s320/margaret-thatcher-at-conservative-party-conference-data.jpg" /></a>
<p><i>"Hoje é um dia de luto para todo o país. A primeira mulher que me inspirou na política, que mostrou ser possível uma figura feminina íntegra subir tantos degraus com braço forte. Foi Margaret Thatcher que me provou que luta e revolução não são necessariamente pegar em armas nem propagar falsas culturas, tampouco incitar ódio entre classes. Margaret Thatcher livrou seu país do mesmo pesadelo que nós, brasileiros, estaríamos prestes a viver a partir de 1964; a diferença foi que o Brasil nunca contou com alguém à altura de Thatcher para impedir o socialismo, e assim cometemos o nosso maior erro contra a democracia e a liberdade. Para atravessar imune a cortina de ferro, apenas aquela dama tinha o mesmo peso, fio e força de seu obstáculo.</p>
<p>Os grandes se foram. Após Chávez, vai Thatcher. Só consigo ver a perda de hoje como o preço por um dia desejarmos o fim daquele homem. Essa troca para expurgar os males desse século saiu muito cara, uma vez que seu grande trabalho foi realizado no século passado. Descanse, Thatcher."</i></p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-54302279120886422432013-04-07T16:50:00.000-07:002013-04-07T19:21:56.856-07:00Um sorriso nos lábios<blockquote><i><p>"E aliás, cá pra nós, até o mais desandado dá um tempo na função, quando percebe que é amado.</p>
<p>E as pessoas se olham e não se falam, se esbarram na rua e se maltratam. Usam a desculpa de que nem Cristo agradou. Falô! Cê vai querer mesmo se comparar com o Senhor?"</p></i>
<p>Criolo em "Ainda Há Tempo"</p></blockquote>
<p>É domingo e eu estava no metrô muito cheio. O transporte público é um imenso laboratório, pois muita gente fica mais próxima fisicamente de um desconhecido do que dos filhos, da esposa, do marido. Enfim, num momento em que as portas foram seguradas, a maquinista deu seu aviso de jeito engraçado, pausado e bem silabado, de forma que o trem inteiro riu e eu também, até porque foi uma situação inesperada. E se fosse segunda-feira?</p>
<p>O riso salva do mau humor. Penso que as paixões são reguladas como um copo d'água usado para limpar o pincel: cada cor flutuando é uma sensação a qual se foi exposta e são anuladas quando decantam ao fundo. A crosta que se forma embaixo é a ganga do garimpo de experiências que vivemos, é a soma de decepções e sucessos que nos tornam sonhadores, ranzinzas, ressabiados, valentes etc. Não é nenhuma novidade científica, não estou inventando a roda com isso: a bile negra, o <i>spleen</i> e os hoje tão famosos "neurotransmissores" teorizam sobre o tema.</p>
<p>O riso no metrô na segunda-feira até poderia instigar relações mais harmônicas entre as pessoas. Faz de você mais <i>arlecchino</i>, <i>clown</i>, <i>pierrot</i>, mais colombina. Mas ainda que resolva a questão do "pratique a cortesia", o riso momentâneo nos salvaria dos problemas que nos fazem mal humorados, tristes, irritados na rotina? Uma conta, um conserto ou o próprio transporte público?</p>
<p>É a cultura do não-atrito, que despreza variáveis e arredonda pra cima os ânimos coletivos. Gravidade é dez, pi é três e não há moeda de um centavo no troco. Essa cultura não necessariamente acarreta em sorrisos falsos ou sinceros, apenas amansa todos ao mesmo tempo, para que eu e você nos sintamos mais "civilizados". A classe média não gosta de fazer barraco, mas enche o peito no anonimato do telefone para se esguelar no SAC de algum serviço mal feito.</p>
<p>Essa mansidão é vasta, é alarmante e está no ambiente corporativo, acadêmico, religioso etc. É um comportamento que está na rua e já entrou na sua casa. Convence todos de que bater de frente não compensa, é se arriscar por pouco, de que isso não é uma atitude cristã. É a geração dos bundões que sorriem quando convém e maltratam quando dá na tampa e ninguém está vendo; que são cavaleiros valorosos <i>online</i> que não sustentam a mesma força num papo de bar; que se dizem tolerantes segurando risada numa piada preconceituosa, acreditando que livram a sociedade dos estereótipos, que suas risadas numa piadinha maldosa reforça esse preconceito; gente que gosta de sintetizar toda sua racionalidade com uma tirinha, um même que alguém aí fez. Todos de parabéns.</p>
<p>Por um lado, o riso não é a cura de tudo: sorrir e se calar frente a qualquer adversidade é dissimulação, é aprender a ser falso e acumular ódio para espalhar aos outros ou arquitetar a revanche. Por outro, rosnar para todo e qualquer movimento brusco é ser estúpido. Partir pro braço é ter preguiça de articular argumento. Ser crítico e exigente não pressupõe ser mal-educado.</p>
<p>O saldo que faço do riso é que ele ajuda a derrubar a primeira barreira entre as pessoas. Só não vire palhaço.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-74278915664633889752013-03-25T10:01:00.002-07:002013-03-25T11:27:40.349-07:00Empacou<p>Queria se imaginar numa cadeira de balanço sem sossego, xingando da varanda. Plantar a carranca do lado da porta, uma espada-de-são-jorge e comigo-ninguém-pode só por causa do nome, citar os profetas, as vozes-contraste barradas do cânone. Reclamar das notícias na banqueta do boteco ao tragar a aguardente. Jogar tranca, buraco, truco, gritar doze, meio pau, fazer a dama, derrubar o rei na praça. Tinha de ter força para aposentar tudo que estava escancarado, tudo que se vê por aí. Preferir os miolos no meio-fio a ter de abrir a mente. Ver o movimento, a meninada rebolando em vão, de um lado pro outro, que beleza, escarrar ao volante. Queria era criar caso. Ao invés disso, lá está confortável a poltrona, com um dos quatro pés meio capenga. Não tem varanda nem carro, porque seu bolso também se calou. Tudo o que esse velho consegue é aproveitar o novo, as ninharias que até ontem estavam num camelô, que alternam de trono a cada semana. A fila do banco e da fézinha, a fila para comprar patinho moído, tudo no bolso, às vezes no pulso, nos olhos, no rabo. Cochicha cristos, reza assobiando uns <i>ss</i> cabisbaixos, um pai-nosso em pózinho diluído numa água quente sem cor. Ignorou os fatos para manter e lamber o afeto pelas pessoas. De nada adiantou se trair. Logo se omitiu, conservou os queridos, aqueles que cada vez mais aquiesciam com a roda da fortuna para depois perder um a um no ar. Eram os que franziam o cenho e rosnavam pelo osso. O velho sempre soube que todos estavam juntos no mesmo quintal, atrás da grade do portão. Só restava ladrar e ladrar e ladrar enquanto as coleiras cheiravam e mijavam no poste em frente. Mesmerizado pelo todo, ainda que abrissem o portão, o velho ia se deter ali babando, com medinho do desconhecido, acostumado ao mesmo, a latir pelo mesmo, a mesmar escondido atrás da cortina de ideias que reiteram o mundo. Gosta de achar shakespeares em novela, como quem faz palavras cruzadas, cercado pelos livros que não leu. A diversidade logo ali na mercearia, dobrando a esquina pro shopping, saindo pelas telas da casa, que barato, sentando no <b>meu</b> sofá. Graças a deus, todos são donos de si, que beleza. Pro bem de todos, a regra vai confirmando a regra. Omisso, sumiu na sombra da sala, o rosto consumido pela luz de uma tela.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-8040595875336737032013-03-14T14:43:00.000-07:002013-04-18T09:43:00.160-07:00A revolution from my bed<blockquote><p><i>As the art and science of manipulation come to be better understood, the dictators of the future will doubtless learn to combine these techniques with the non-stop distractions which, in the West, are now threatening to drown in a sea of irrelevance the rational propaganda essential to the maintenance of individual liberty and the survival of democratic institutions.</i></p><p>Aldous Huxley em “Brave New World Revisited” (1958)</p></blockquote>
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-9DgDLI-xXgM/UUMacRkxTAI/AAAAAAAAA-U/1M5QfpolF8w/s1600/info2.png" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-9DgDLI-xXgM/UUMacRkxTAI/AAAAAAAAA-U/1M5QfpolF8w/s320/info2.png" /></a>
<p>A internet reitera o mundo. É como pornografia: todos procuram apenas aquilo que satisfaz. É um vício pelo entretenimento na forma de humor e às vezes, como se vê nas redes sociais, um vício na forma de indignação. São os <i>dois minutos do ódio</i> para extravasar sua opinião sobre uma injustiça do mundo; uma vez cumprida a cota de “que-absurdo-isso” e “que-absurdo-aquilo”, sossega-se o facho – <b>como faço aqui</b>. Em geral, só se procura o prazer: se o sujeito tem paciência de ler, abre matérias que confirmam o que já pensa para ter mais embasamento pra sentar a lenha naquilo que odeia ou, na melhor das hipóteses, clica na Veja ou a Folha de São Paulo para malhar a nova direita brasileira (pfff!). Nada que o desafie muito ou abra debate para uma crítica que se preze, já que dá cãimbra no cérebro.</p>
<p>Esse é o cenário perfeito para circular um <a href="http://www.youtube.com/watch?v=--QjwodEcOk">vídeo</a> na internet do político e comunicador George Galloway vociferando contra as opiniões de um estudante de Oxford. O rapaz defendia uma visão contrária às melhorias e democracia do governo de Hugo Chávez na Venezuela. O nome certo do vídeo seria “Como destruir a alteridade em pedacinhos”.</p>
<p>Muitos postaram o vídeo na vã sensação de se sentirem vingados exatamente para concordarem e taxarem de “alienação” qualquer opinião contrária.</p>
<p>Apesar de ser uma tática baixa, é comum desconstruir a imagem do adversário. Vide os cartunistas <b>Laerte</b> sobre a nova <a href="http://outrapolitica.files.wordpress.com/2012/11/laerte-arena.jpg">ARENA</a> e <b>Latuff</b> sobre <a href="http://www.advivo.com.br/index.php?q=sites/default/files/imagecache/imagens-mutirao/imagens/cura-gay-2.png">pastores evangélicos</a>. Curioso que, neste último, se usa como arma de vilipêndios exatamente aquilo que se defende, o que mostra total desprezo pelas próprias causas, na vaidade de atacar. A mesma prática é repetida até o talo com jornalistas como Eliane Brum, Leonardo Sakamoto e Marília Gabriela ou na verborragia de algumas figuras públicas, como o venezuelano Nicolás Maduro <a href="http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1244673-maduro-se-cerca-de-militares-ao-se-registrar.shtml">chamando</a> o candidato da oposição Henrique Capriles de “maricón”.</p>
<p>Temos aí o argumento ridículo de que, para se sobrepujar, é necessário desqualificar o antagonista.</p>
<p>Desde as entrelinhas de portais de notícias aos perfis do Facebook, impressiona como as pessoas levam a sério toda boa ação estatal. Como é irresponsável acreditar que tudo só parte da boa vontade de um líder e que só faltava alguém determinado a peitar as elites. Todas essas “melhorias” na educação são tão questionáveis como as suas consequências negativas.</p>
<p>(Estados inconsequentes são como adolescentes/crianças: apesar de terem grande potencial, são cheios de si, são naturalmente dependentes e não produzem. Se dependesse unicamente da vontade de Estados assistencialistas, todo o dinheiro público seria usado para comprar salgadinho e que se dane o dinheiro da perua ou a mensalidade da escola. Em escala maior, fazem exatamente isso e, de novo, com ou sem boas intenções.</p>
<p>De nada vale ter “consciência social”, fazer e acontecer e zás e zás, e defenestrar a economia do país no limbo.)</p>
<p><b>A esquerda ataca como se, para os liberais, a propriedade estivesse acima da vida e do bem-estar.</b> Mas é <b>óbvio</b> que a imagem de uma pessoa que antes era miserável – e hoje trabalha e tem o que comer – é muito mais emocionante do que um portfolio de empresa ou o anúncio da entrada de capital estrangeiro. Mas nenhum esquerdista pergunta de onde saiu o dinheiro que caiu na mesa do pobre e seus impactos dessa arrecadação, tampouco as consequências sociais positivas com investimento econômico privado sério. O vermelho é uma cor que sabe chamar atenção.</p>
<p>É um cenário dual. Ou é preto ou é branco, não tem meio termo. <b>A discordância é a nova alienação.</b></p>
<p>Toda besta útil merece um guia genial dos povos.</p>
<p>Recomendo o ceticismo para que se desconfie até daquilo que se ataca – recomendação arriscada essa, pois o vício pela imparcialidade, assim como a unanimidade e a estagnação, sempre traz problemas.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2996940123049862262.post-17108634544105495452013-03-11T10:25:00.001-07:002013-03-11T10:25:33.543-07:00Nota de falecimento a Chávez<a href="http://2.bp.blogspot.com/-XFWccYiUx3k/UT4FyfI2C5I/AAAAAAAAA90/JtkhYg98uIo/s1600/dilma_e_lula_enterro_hugo_ch%C3%A1vez.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-XFWccYiUx3k/UT4FyfI2C5I/AAAAAAAAA90/JtkhYg98uIo/s320/dilma_e_lula_enterro_hugo_ch%C3%A1vez.jpg" /></a>
<p>E o câncer reacionário leva mais um líder da América Latina.</p>
<p>Com a morte do Chávez, a Venezuela vai mudar como a Apple mudou sem o Steve Jobs. Sem uma figura carismática, seria o fim de uma liderança ancorada no personalismo, talvez com outras estratégias para com o público. Por outro lado, em essência, tudo se mantém.</p>
<p>Sei que nem só de pão vive o homem; eu bem que gostaria de gastar todo meu salário em tecnologia, livros, shows, peças de teatro, cursos, instrumentos musicais; não faço porque tenho obrigações. Um Estado cava um buraco quando gasta tudo em cultura e educação. Ainda que na melhor das intenções, um líder que faz isso não pode ser idolatrado justamente.</p>
<p>Sonhava em ouvir a presidente Dilma Rousseff fazendo o discurso que poderia ter sido e que não foi:</p>
<p><i>"Lamento a morte de um homem e tudo o que significou para seus familiares e admiradores. Por outro lado, a morte do estadista minguará a ditadura do proletariado que já anunciava o fim por si. Chávez deixou filhos, mas não sucessores; notavelmente, o regime adequado a essa escolha e ao seu gênio era uma ditadura tal qual construiu, sem quem tocasse o seu plano adiante, em que apenas ele podia ser líder. Ninguém deve comemorar este momento triste de sua morte, pois é duplamente lamentável. No passado, pelo que ele fez ao povo, e no futuro, pelo enorme trabalho que é necessário para desfazer seus erros."</i></p>
<p>Aí caí da cama.</p>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/08567339984264126650noreply@blogger.com0