sábado, 9 de fevereiro de 2013

Entrevista em púlpito

Um vídeo roubou a cena e fez do même "Santa Maria" a tragédia mais intensa e mais fugaz das redes sociais. Um programa de entrevistas do SBT fisgou a atenção de muitos e ocupou muito espaço na internet. O tal vídeo conquistou outros vídeos de resposta e piadas de todo tipo.

Marília Gabriela é uma entrevistadora experiente. Trabalha ao mesmo tempo em três canais de televisão e sempre vendeu uma imagem de entrevistadora polêmica - alguém do tipo que encurrala o entrevistado para que ele se mostre em suas respostas, como um interrogatório. Como todo programa de entrevista, acredito que antes de cada filmagem haja um piloto para formular ou praticar perguntas previamente traçadas, o que de maneira alguma invalida a espontaneidade da situação da entrevista.

Esse formato rendeu algumas grandes conversas e supostamente não seria diferente na semana passada, quando foi ao ar a entrevista com o pastor pentecostal Silas Malafaia. Pois bem, não foi uma grande conversa. Notavelmente algumas pessoas se dão melhor com púlpitos do que com bancadas. Vi discussões de bar mais organizadas do que aquele programa.

Tenho algumas considerações sobre a postura de Marília Gabriela, com a sua posição profissional daquele dia, bem como sobre a posição religiosa do pastor. Vamos a elas.

A entrevistadora tocou em frente um debate. Aparentemente desarmada no início, o programa ganhou corpo e polpa antes do primeiro intervalo com a primeira questão polêmica que foi levantada, sobre a dinheirama do pastor. A parede discursiva que impede atitudes arbitrárias foi irrompida. O formato de pregação, já tão sólido na fala comum do pastor, fez com que qualquer declaração fosse um grito agudo, como é de seu costume. O tom de voz e as posições polêmicas do pastor fizeram o jogo perder o rumo, mesmo com intervalos comerciais. Mas o que de fato tirou tudo dos trilhos foi a falta, por parte da entrevistadora, de qualquer conhecimento no campo do entrevistado, argumentos bíblicos, beirando apenas naquilo que é comum a um católico não-praticante. Não é profissional a entrevistadora assumir o papel de destinador ou dar lição de moral. Duas pessoas se sentaram para que apenas uma fosse exposta; as duas se expuseram e da pior forma possível, pois o discurso deitou fora seus traços expositivos para assumir os argumentativos.

Quanto ao pastor, um pequeno flashback. Caí na real do papel da atividade religiosa e dinheiro quando fui atualizar meu currículo há uns quatro anos. Dentre as coisas que são de César, estão as peneiras nas salas de Recursos Humanos. É possível dedicar grande parte do dia, semana ou mês em uma atividade religiosa que desenvolva sua criatividade, dê canseira, prazer, resultados até mais sólidos do que carregando documentos, enrolando brigadeiros, teclando no escritório ou fazendo faxina fora. Essa atividade religiosa não tem a mesma relação de trabalho que um emprego comum, como um consultório ou escritório, já que, no caso cristão, a postura assumida é de doação, e a atividade, secularmente, é uma prestação de serviço e não pode ser incluída em currículo como experiência de grupo, recomendações, oratória ou jogo de cintura. Apesar disso, minha posição é que sim, alguma renda é necessária quando você dedica metade ou mais do seu tempo em seu local de fé ou "perímetro" de atuação - e quando digo "tempo", falo de 24/7, não das horinhas que sobraram que fazem você dar um pulo na igreja. Contudo, em consonância com a sua ideologia de prosperidade, o patrimônio que o pastor levantou superou em muito qualquer limite mensurável de abnegação. Isso já o colocaria em cheque.

Quanto a todo o resto, que é justamente o que mais promoveu o status quo laicista das redes sociais, recomendo que "cristãos não-praticantes" de plantão leiam a Bíblia. Informem-se e, de preferência, sem revisionismos. Toda a postura de Silas Malafaia em relação a união homoafetiva não é novidade; o que há de novo é a interpretação feita com o livro, que cada vez mais é visto como um compêndio de leis atrasadas que, como disse Marília Gabriela, são leis "de dois mil anos que nunca foram revistas". Não suporto essa pretensão humana em querer revisar Deus. É uma vontade infinda de atualizar, de fazer do óbvio obsoleto e criar algo novo que abrace a todos.

A engenharia linguística comeu solta: evito "homossexualidade" e prefiro "homossexualismo" não por motivos médicos, dos quais duvido muito, mas sim pelo gay ser uma bandeira, como o feminismo. O bom-mocismo impede que sejam colocadas as palavras "bandido" e "gay" na mesma sentença, pois implicitamente (só se for com Freud, pois o Chomsky foi embora e mandou lembranças) você dá a entender que há uma comparação entre os dois, ou que estão colocados em pé de igualdade. A quem não entendeu isso, sugiro ler uma gramática, sessão "Sintaxe"; tenha carinho especial pelo capítulo das orações coordenadas.

Tomada essa proporção nas redes sociais, sentei e play. Até o último pelo do corpo eu me arrependi.

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